domingo, 20 de junho de 2021

 

INVERNO

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.558

 

Finalmente chegou o inverno para a nossa região. Após um outono rico intercalando sol e chuva, a estação das águas encorpadas anuncia boas esperanças para o sertanejo. Mesmo em tempo de pandemia, o povo vai engrossando as feiras e, os produtos ainda frescos vindos do campo, fazem sucesso na cidade. Não deixamos, porém, de destacar o milho, muito procurado neste mês de junho e que não deve faltar nem na tapera do pobre nem na mansão do rico. O milho é uma unanimidade nordestina e o seu gosto se derrama por humanos e animais. Isso nos faz lembrar a saudosa “irmã” holandesa Letícia (Colégio Sagrada Família) bebendo café sem açúcar e dizendo que na Holanda o milho é somente para ração animal. E ela mesmo comprovava as delícias eleboradas com o produto.

O mato verde, os matizes da tela da Natura, o cheiro gostoso do mato, a chuva cortando devagar à noite inteira e o orvalho estilizado das manhãs são bênçãos divinais que grudam na alma sertaneja. À noite, a frieza aperta pelos lugares de altitude, o camponês cerra às portas logo cedo e fica a escutar tomando seu café quente, os ruídos das aves que povoam às trevas, o soprar do vento gelado nas árvores da redondeza. O cachorro dorme encolhido, o gato procura à beira do fogão, a cabocla sertaneja esquenta a cama e o dono da casa procura o calor abençoado da costela. No aproximar do arrebol, o galo pula para a estaca mais grossa, estica o pescoço e abre a garganta anunciando a dia. O cheiroso cuscuz fumega à mesa e o aroma do café coado desperta os arredores.

Ontem à noite, último dia de outono, foi dia chuvoso e devagar, porém, ao anoitecer, o tempo lembrou-se de caprichar na entrega da próxima estação. Um pé-d’água daqueles gigantes fez rios nas biqueiras, nos telhados, nas sarjetas das ruas de Santana do Ipanema, no Médio Sertão Alagoano. Provavelmente o benefício divino deve ter atingidos o geral da região. Lá dentro das 20.30 horas, a faca enorme do tempo cortou a chuva de vez e um silêncio molhado invadiu o mundo. “Preste atenção, compadre, que o tempo não está de confiança”.  E olhe que ainda faltam a roqueira de São João e o olear da chave titã de São Pedro, o porteiro do céu.

Um cafezinho vai bem, não é, minha amiga.

Fartura no Sertão e Deus nos comando.

 


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Um comentário:

  1. Caro escritor Clerisvaldo B Chagas esta foi mais uma de suas belíssimas composições poéticas em forma de prosa. O sertão, seu mais deleto tema, sorri agradecido!

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