quarta-feira, 6 de abril de 2011

UM MUNDO ENCANTADO

UM MUNDO ENCANTADO
(Clerisvaldo B. Chagas, 7 de abril de 2011).

       Nas últimas décadas, graças a vários pesquisadores, a xilogravura, aos poucos, alcançou a ressurreição. Arte vinda da antiguidade foi bastante utilizada na Europa do século XV. Seus trabalhos prestavam-se a ilustrar cartas de baralho e imagens sacras naquele continente, segundo estudiosos. A xilogravura é uma espécie de carimbo feito em madeira. Desenhado, entalhado pelo buril, o motivo recebe tinta no alto relevo e fica pronto para imprimir com perfeição. No Brasil, a arte de xilogravar chegou em 1808, com a Imprensa Real Portuguesa, mas se destacou no Nordeste onde casou com o folheto de cordel, também vindo de Portugal. As histórias em versos dos chamados cordelistas são tantas e tão variadas, tornando difícil uma perfeita classificação. Para ilustrar as capas dos seus folhetos, esses poetas populares ─ que se dedicaram e se dedicam a escrever criativas histórias em versos rimados e metrificados ─ adotaram a xilogravura como padrão permanente em seus trabalhos. Encantando gerações no Nordeste brasileiro, vendidos pendurados em barbantes ou não, o folheto divertia, ensinava a ler e transmitia as novidades numa época ainda pobre em meios de comunicação. Visto a princípio como um desenho grosseiro, pesado, malfeito, o exposto trabalho em imburana foi rareando e morrendo juntamente com o folheto nordestino. Inúmeros são os poetas autores desses livros magérrimos, tendo alguns alcançados famas no Brasil e no exterior. Após a fase negra de quase morte, tanto voltou o folheto quanto essa arte da madeira.
       Os vates das páginas populares souberam se adaptar aos acontecimentos modernos para cantarem suas histórias maravilhosas. Os xilógrafos capricharam cada vez mais nos desenhos e detalhes que atraem pesquisadores das mais variadas origens. É tanto que a arte voltou à moda com uma força nunca antes vista. E a prima pobre da arte nordestina, ganha vestido novo, roupa de gala para desfilar as vistas do público e dos críticos que antes torciam o nariz. Caruaru e Juazeiro do Norte, grandes centros do interior, são lugares que mais oferecem esses serviços tradicionais, pois funcionam como receptores e dispersores do folclore nordestino. Outras cidades importantes como Campina Grande, Feira de Santana e Recife, contribuem enormemente com a cultura popular dessa região, hoje tão progressista.
       Entre tantos e tantos folhetos, quem não se lembra daquele que deu origem à novela “Pavão Misterioso”? Com a nova narrativa “Cordel Encantado” ─ rodada em Piranhas ("Cidade Presépio") Alagoas ─ a xilogravura vive a sua fase de princesa. Quando meu caro leitor quiser relaxar dessa vida braba, saia um pouco da rotina tecnológica. Entregue-se por alguns momentos, dias ou semanas aos folhetos de cordel, ao esmiunçar dos xilógrafos, sonhando de verdade em UM MUNDO ENCANTADO.



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terça-feira, 5 de abril de 2011

MULHER DE FIBRA

MULHER DE FIBRA
(Clerisvaldo B. Chagas, 6 de abril de 2011).

       Não viu quem não quis a notícia da televisão. Dois policias tentaram prender um marginal, mas só conseguiram após alvejá-lo. Imobilizado, o fugitivo foi jogado na viatura e conduzido ao cemitério local e não à delegacia. Alvejar um delinquente é a coisa mais normal que acontece em nosso país. Faz parte da violência contada em prosa e versos de todos os dias. Aliás, raramente os jornais impressos divulgam outras coisas, bem como os sites noticiosos. Quando saem da violência caem imediatamente no chamamento pornô que não para de crescer. Mas voltando ao assunto anterior, dois policiais entraram no cemitério, naturalmente viciados, onde puxaram o preso para fora da viatura e executaram-no friamente. Esse tipo de atitude, no cemitério, nas matas, nos caminhos, em qualquer lugar está sempre acontecendo e não parece chocante para ninguém. Após executarem Dileone Lacerda de Aquino, no cemitério em Ferraz de Vasconcelos, os dois policiais foram enfrentados por uma mulher que visitava o túmulo do pai. Surpreendida com a cena brutal, a mulher teve a coragem de telefonar para o Centro de Operações da Polícia Militar, através do número 190, quando denunciou o que ainda estava acontecendo. Nervosa mais segura do cumprimento do dever, a mulher conseguiu passar o prefixo do carro envolvido. Correndo enorme risco de vida, a senhora ou senhorita sustentou a acusação cara a cara com os policias ainda dentro do cemitério. Como Deus é bom e está em todos os lugares, os policiais foram presos em flagrante e estão no presídio militar Romão Gomes. Com o desenrolar dos fatos, é possível que haja justiça, enquanto a mãe do bandido assassinado diz rezar pela testemunha.
       Se todas as pessoas desprezassem o perigo pela causa da justiça, bem que tudo poderia ser tão diferente. No meio de tudo, todavia, existe um sentimento escrito com apenas quatro letras, que toma conta imediatamente de corpos grandes e pequenos. O “medo” aparece imediatamente como um instinto forte de sobrevivência, reduzindo à testemunha a um estágio de horror e vergonha em ficar menor do que ele (o medo). Mas a senhora que se impôs aos bandidos fardados, conseguiu pisar firme no sentimento vil e surgir como heroína diante do povo brasileiro. O caso foi revelado pelo site “O Estado de São Paulo”. Como gostaríamos de banir algumas vezes esse instinto de proteção para não passarmos por covardes, simplesmente com o intuito legítimo de preservarmos as nossas próprias vidas terrenas. E se não conseguimos, nem com esforço superar a covardia, pelo menos lembremos o exemplo decente, corajoso, dignificante no mais alto grau, daquela MULHER DE FIBRA.


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