terça-feira, 12 de abril de 2011

O HOMEM DO COXIM

O HOMEM DO COXIM
(Clerisvaldo B. Chagas, 13 de abril de 2011).

O homem apresenta-se à porta da Van. Identifico-o imediato como gente da roça. Seu chapéu de massa de abas largas não mente a minha afirmação íntima. Tem cara de seus mais de oitenta anos (cara não, “quem tem cara é cavalo”, dizia meu “tio” Manoel Anastácio). Aspecto sereno, agradável e limpo, o passageiro traz um alvo coxim à mão. Penso que o matuto iria ficar um pouco perdido ao entrar no veículo. Perdido o quê! Engano-me redondamente. Do chão não dava para notar quem estava sentado, por causa da altura e do encosto comprido. O “coroné” espia de imediato por baixo da cadeira isolada da frente e, cata assim o passageiro pelos pés. Vejo logo que o homem é muito esperto e viajado. Não descobre pés de passageiro e indaga ao condutor se tem pretendente para a citada poltrona. O motorista anima-se com a figura do velho durinho e responde perguntandose “meu patrão gosta duma cadeirinha à frente?”. Pronto! O cobrador já perdeu a mordomia de antes e terá que viajar sentado no piso.
Com a partida, o motorista vai indagando ironicamente sobre o coxim que o “coroné”, de pronto, havia forrado à poltrona e sentado em cima:Que o coxim era muito bom; que não achava aquele bicho para comprar em nenhum canto; como poderia adquirir igual; tentando puxar conversa com o recente passageiro. O senhor, aspecto de homem que no Sertão chamamos “barriga cheia”, vai-se entusiasmando com os elogios ao objeto e fala também. Há sessenta anos que usava coxim. Aquele havia sido adquirido por quatro reais e andava com ele há vinte anos. Havia sido usado nos carros de boi, nos cavalos e agora nas Vans. O condutor complementa ainda com ironia que “e logo, logo no avião”. O “coroné” rirsatisfeito e responde: “Quem sabe!”.Informa ainda ao motorista que ele pode adquirir um troço daquele nas feiras do Riacho Grande, isto é, na atual cidade Rui Palmeira. Explica ainda o meu simpático “coroné” que onde vendem redes, vendem-se coxins.
Fico besta em viajar com um homem típico sertanejo da área rural. Um pouco mais atrás, fixo sempre o olhar ao seu chapéu, tentando decifrar o pequeno nome ali gravado. Queria saber se era marca das que eu vendia na loja de meu pai: Prada, Cury, Três X... Chama-me atenção sua boca pequena, passando o lábio inferior. Dá-me uma vontade danada de perguntar seu nome, de saber sua vida, de mergulhar fundo num passado rural bonito e perfumoso. A oportunidade é mínima. Vou lembrando o personagem do meu romance inédito “Fazenda Lajeado”, Seu Deolindo; e o coxim macio do mulato ladrão de moça e jogador de baralho do outro romance inédito, “Deuses de Mandacaru”, João Mulato, o homem dos dentes de ouro. A Van chega a Maceió, o homem não esquece seu precioso objeto, despede-se e vai embora. Fico grudado, saudoso, vendopartir meu “coroné” que aos poucos se dilui no modernismo. Viro-me para minha senhora e digo: Vai dá crônica... O HOMEM DO COXIM.

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segunda-feira, 11 de abril de 2011

JOGO DE XADREZ


JOGO DE XADREZ
(Clerisvaldo B. Chaga, 12 de abril de 2011).

A China é um país sofrido pelas invasões de vários países, no passado. Ao longo da sua existência passou muitas necessidades e humilhações, mas inventou inúmeros aparelhos e outras coisas que ajudaram a impulsionar a humanidade. Para mencionar apenas alguns deles, temos a tecelagem da seda, chá, tinta, calibrador, pólvora, foguete, bússola, detector de mentiras, bicicleta, papel, óculos, caneta, periscópio, balança de peso, pluviômetro, compasso, leme, paraquedas, sino, tambor, álcool, fósforo, sismógrafos e jogo de xadrez. Passou um longo período isolada do mundo, fez revoluções internas e vem de um certo tempo para cá, trazendo o seu regime de exceção. Sua abertura para o mundo deu-se aos poucos, principalmente na área mais próxima ao mar, fazendo com que a China tivesse uma maneira própria de administração entre o socialismo pesado no interior e um capitalismo disfarçado no litoral. Decidindo progredir economicamente sem abrir mão do seu regime totalitário, esse país procura fazer as duas coisas juntas e detesta falar em liberdade política. Na verdade é um país difícil de lidar com ele, pois os costumes e a maneira de pensar são específicos.
Quando o mundo começou a despertar para as potencialidades comerciais da China, como os Estados Unidos, foram chegando devagar algumas empresas de marcas mundiais com objetivo de conquistarem um “negócio da China”, isto é, venderem para a maior população do mundo. Não é à toa, porém, que a China é considerada paciente. Não é nada fácil entrar no mercado Chinês. A China sabe que todos procuram um mercado excepcional, por isso procura impor condições que terminam sendo aceitas pelos países, como por exemplo, dividir com eles a tecnologia lá implantada. Além da paciência e das peculiaridades chinesas, o candidato a negociar com a China, vai enfrentar uma série de dificuldades impostas. É muito mais fácil negociar com qualquer outra nação de que com a China.No caso do Brasil, descobriu-se ser um bom negócio exportar para Pequim, açúcar, soja, minérios. Mas aquele país possui produtos de alta tecnologia, muito mais valiosos, não precisa importá-los do Brasil e quer nos vender o mais caro para comprar o mais barato, aliás, como já vem fazendo.
Essa viagem de Dilma a China, poderá ser uma visita tipo quebra-gelo a render alguma coisa para o futuro. De imediato, não haverá vantagem alguma para o Brasil. Apesar de todo aparato por trás da presidenta, é de se contar com tudo que é diferente na China. Não é só brasileiro que gosta de levar vantagem. Nessa faixa de luta o chinês é mestre e observador de paciência infinita. Não só o Brasil, mas também Estados Unidos ou outra nação qualquer do Ocidente suam quando sentam à mesa para entendimento com os seguidores de Confúcio. Dilma é boa jogadora, mas não esquecer que foram os chineses que inventaram o JOGO DE XADREZ.

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