terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O PASTORIL DE DONA JABIRA



O PASTORIL DE DONA JABIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de fevereiro de 2015
Crônica Nº 1.364

Foto: (severinos.wordpress.com). Efeito especial: Clerisvaldo.
Tudo estava bem encaminhado no pastoril Estrela do Norte. Aliás, em matéria de pastoril, Dona Jabira fazia o melhor de Alagoas. Atraída pelo ritmo, a beleza das pastorinhas e a rivalidade de azul e encarnado, a multidão se aglomerava defronte o “sobrado do meio da rua”.
Um empresário chamado Zé Rico, chamava muitas vezes a “contramestra, em cena”, e como de praxe, depositava o dinheiro pendurado no decote da chefa do cordão azul. A palma dos torcedores azulinos cobria. Mas a mestra reagia bem e inúmeras pessoas chamavam o cordão encarnado.
De repente chegou um matuto de nome Tonho Bicudo e, começou a chamar a contramestra em cena; uma vez, duas, dez... Desgostando o empresário Zé Rico que antes estava absoluto. Mesmo sendo o dinheiro do matuto aplicado no cordão azul, o seu mesmo cordão, Zé ia ficando irritado com a concorrência. O matuto cochichou para uma pessoa próxima: “Vendi uma vaca para botar o dinheiro todo no azul”, e não parava de chamar a contramestra em cena.
Somente a diana, representante dos dois cordões, não ganhava dinheiro porque era muito feia.
Lá para às tantas, Dona Jabira ria à vontade, nos bastidores, pois nunca havia visto tanto dinheiro em sua vida.
Zé Rico estava para explodir a qualquer momento, quando Tonho Bicudo levantou o braço com uma nota graúda e disse para a contramestra: “Se me der um beijo, eu boto essa” e agitou a cédula no alto.
A contramestra balançou a cabeça e o matuto subiu ao tablado beijando a pastorinha e colocando o dinheiro em seu vestido. Ora, Zé Rico subiu a pequena escada de madeira com dois passos, empurrou Bicudo e disse: “Você pode botar dinheiro à vontade, seu peste, mas beijar a minha contramestra, você não beija mais”. Danou-lhe a mão no pé do ouvido que Tonho Bicudo caiu de cima do palanque.
Óóóóóó!!! ─ exclamou a multidão horrorizada.
O matuto levantou-se atordoado, sacou um bicho bruto que trazia sob a camisa, atirou em Zé Rico, conseguindo atingir-lhe a bunda.
A multidão espanou numa correria desordenada que até o pastoril de madeira robusta de Dona Jabira, foi no peito.
Após a chegada da polícia e as seguidas investigações, foram encontrar Tonho Bicudo, cinco dias depois, nos braços amorosos da mestra do pastoril, isto é, a primeira do cordão encarnado.
Ninguém conseguia entender o mistério. O homem havia gastado o dinheiro da vaca com a contramestra que representava o azul e, como fora encontrado em amores com a mestra, guardiã do encarnado?
Somente muitos anos depois alguém descobriu que Bicudo era namorado da mestra e com ela havia brigado. A questão com a contramestra era apenas uma grande vingança do matuto.
Após o tiro na bunda, tudo voltara aos velhos amores.

A multidão mudou a roupa, mas o povo brasileiro continua diante do pastoril de Dona Jabira.


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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O RIO AMAZONAS E NÓS



O RIO AMAZONAS E NÓS
Clerisvaldo B. Chagas,10 de fevereiro de 2015
Crônica Nº 1.363

Foto: (José de Oliveira/TV Amazonas).
Eu estava certo. Eu estava certo há vinte anos quando afirmei a meus alunos e colegas da Geografia, sobre o rio Amazonas. Disse que não entendia porque nunca tinha ouvido falar sobre o assunto. É que, estendendo o mapa físico do Brasil, para todos, mostrei ─ utilizando também uma régua ─ a possibilidade de se transpor água do rio Amazonas para os sertões nordestinos, acabando definitivamente com o problema de escassez hídrica.
Hoje, com muita satisfação, leio longo artigo do G1(Adneilson Severiano) a respeito do assunto. Vejamos abaixo:
A Superintendência Regional do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) informou que é possível levar água do Rio Amazonas - um dos maiores do mundo - para São Paulo e outros estados que sofrem com falta d'água no Brasil. Especialista diz que 1% da vazão do rio daria para abastecer Nordeste e Sudeste do país”.
Vejamos mais:
(...) porque a Bacia Amazônica concentra mais de 90% da água doce do Brasil, sendo que aqui a população não representa 10% da população total brasileira. Enquanto as regiões Sudeste e Nordeste concentram quase 80% da população e tem uma disponibilidade hídrica de menos de 15%, ou seja, há um desequilíbrio entre a oferta de água e a demanda. Temos que olhar esse aspecto com muita seriedade, porque energia tem solução, mas não tem solução para fabricar água. É preciso deslocar água para onde falta", justificou o representante do órgão que monitora dados geológicos e hidrológicos do país, Marcos Antônio Oliveira”
E mais:
“Diferentemente da proposta do governador do Amazonas, que sugeriu a transferência da água na Foz, Oliveira sugere que a captação das águas poderia ser feita no trecho do Rio Amazonas que banha o Pará. Para o Nordeste, seriam necessários percorrer cerca de 2 mil km e para o Sudeste 4 mil km”.
Finalizando:
“O Rio Amazonas joga no Oceano Atlântico em torno de 200 mil metros cúbicos por segundo. Um metro cúbico corresponde a mil litros de água, então em média, são 200 milhões de litros de água doce que o rio despeja no Oceano Atlântico. Na época de cheia esse volume pode ultrapassar 600 mil metros cúbicos por segundo, conforme dados do CPRM. Marco Antônio Oliveira explicou que 1% do volume da vazão poderia abastecer São Paulo e o Nordeste.
Para São Paulo, o que falta no Sistema Cantareira são 30 metros cúbicos por segundo, ou seja, o Amazonas dispõe de uma vazão mil vezes o que necessita em São Paulo e no Nordeste. Se fizesse um desvio de água de 1% desses 200 mil m³, para o Rio Amazonas não seria nada, um desvio insignificante, mas que representa quase toda a vazão do Rio São Francisco", afirmou o superintendente”.
Vinte anos depois, ao ver minha tese confirmada, estou feliz como criança e vejo que entre outras coisas, a trajetória pelo Magistério não tem sido em vão.










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