sábado, 28 de janeiro de 2017

CLIMA BOM, DINHEIRO PESTE



CLIMA BOM, DINHEIRO PESTE
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de janeiro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.626

BEBEDOURO/MANIÇOBA. Foto: (Clerisvaldo).
Quando a elite tomou conta do centro das cidades, a plebe foi escorraçada à periferia. Seguindo o velho ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, os miseráveis foram-se distanciando pelas áreas insalubres cem por cento arriscadas. Assim ocuparam os morros, margens de rios, encostas, mangues, bordas e sopés de barreiras. A grande maioria das tragédias causadas por chuvas e enchentes é proveniente dessas condições jamais solucionadas na totalidade.
Mesmo assim, em muitos lugares do Brasil, os pobres ficaram em lugares privilegiados pelos cenários ou pelo clima. Os ricos e empreendedores mobiliários vêm invadindo esses lugares para construções de hotéis, mansões e conjuntos habitacionais.
Em Maceió, chama atenção o bairro que se formou no tabuleiro e que pega a ventilação de área baixa e de reserva ambiental. A pobreza ainda é grande, mas o lugar foi batizado de Clima Bom. Baseado ou não nessa localidade criou-se pela própria natureza, também em Santana do Ipanema, Alagoas, o Bairro Clima Bom, por trás do outro (Barragem), ao longo da BR-316. A parte mais alta é bem ventilada e agradável atestando o clima. Agora, imaginem a pobreza que impera por ali. Uma visita rápida ao Clima Bom, nos últimos dias, constata a mesma miséria de 20 anos atrás. Até a igreja da comunidade, iniciada com muita movimentação, nunca passou das paredes, agora caída pela metade. Chão de terra, lixo, esgotos a céu aberto, não se vê um único benefício público.
Mas não é somente o Clima Bom. É de cortar o coração o que se constata na periferia. Como foi dito, nada mudou em vinte anos: Panelas vazias na Rua da Praia, Bebedouro, Maniçoba, Conjunto Marinho, Conjunto Eduardo Rita, Clima Bom, Pedrinhas e parte da Lagoa do Junco, retrato do Brasil corrupto que mata seus filhos de fome.
Três adolescentes no Clima Bom, cada qual com uma boneca de carne nos braços, aguardando ajuda da pessoa que me acompanhou. Nada em casa para comer e nem beber.
Meu Deus, que Clima Bom e que dinheiro peste!



Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2017/01/clima-bom-dinheiro-peste.html

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A NATUREZA AGRADECE



A NATUREZA AGRADECE
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.625

Exemplar da Mata Atlântica. Foto: (Governo).
A Natureza agradece sim, a boa notícia sobre desmatamento zero na Mata Atlântica de São Paulo e em mais seis estados. Mas criou-se uma mística em torno da Mata Atlântica (Floresta Tropical) e da Floresta Equatorial (Amazônica) que tem prejudicado outros biomas. Quer saber? É só a fiscalização passar o olho nos quintais das padarias do interior. Pátios cheios de material nobre da caatinga.
Mas a boa notícia oriunda de São Paulo faz-nos refletir não somente sobre as planuras da caatinga, mas as áreas de encostas de inúmeras serras importantes do sertão do Nordeste. E como exemplo da nossa própria terra, apontamos Gugi e Poço.
Serra do Gugi, outrora oásis, uma Zona da Mata dentro do Sertão nas proximidades do povoado São Félix. Imortalizada também pelo escritor santanense Oscar Silva (Fruta de Palma) foi descrita como um paraíso que Deus deixou no mundo. Além das cigarras cantadeiras em árvores gigantes, frutas como jabuticabas, mangas, sapotis e até mesmo cana-de-açúcar com seus engenhos banguês não resistiram aos novos tempos.
A serra do Poço, avistada do centro de Santana do Ipanema como um grande muro de 500 metros de altura, abastecia a cidade de frutas. Rodeada de mata robusta de encosta à semelhança do Gugi, estendia seus pomares no topo que se estirava até o município de Poço das Trincheiras. Nas feiras semanais de Santana era bastante afirma que a laranja, a jaca, a banana ou mesmo a fava e o feijão guandu eram originários da serra do Poço. Garantia forte de japonês.
O desmatamento em ambos os lugares são as notícias contrárias às anunciadas acima. Complementa a tristeza, a descendência dos serranos que trocaram as alturas pelas luzes da cidade. Os velhos sem os familiares no campo deixaram de produzir. E os frutais que não foram renovados ficaram caducos e isolados em nova paisagem devastada. Das lembranças coloridas restam somente as altitudes do Poço e do Gugi. Uma recordação chorosa.


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2017/01/a-natureza-agradece.html