quinta-feira, 28 de abril de 2011

LETRAS E FUZIS

LETRAS E FUZIS
(Clerisvaldo B. Chagas, 29 de abril de 2011).

          Já foi comentado o assunto de dificuldades nas pesquisas, relativas a duas causas importantes. Uma delas acontece nas fontes expostas, como os escritos das placas de metais ou não, colocadas nas obras durante as inaugurações. Estão nas pontes, edifícios, praças, geralmente com datas, autores e dados com-plementares. Com a proliferação das drogas, essas placas são arrancadas pelos viciados e vendidas a preço vil nos ferros velhos para a compra do craque, maconha ou cocaína. Pior do que esses vândalos são a ignorância, a má vontade, o ciúme político dos que deveriam zelar pelo patrimônio público, pela história da sua terra. Esses agem criminosamente destruindo todas as identificações de gestões passadas, nas fontes expostas; queimam, escondem, destroem documentos, dão fins aos arquivos e, no mínimo, dificultam as ações dos pesquisadores com as célebres frases: “Não sei; não vi; não conheço”.
          O coronel José Lucena Maranhão foi prefeito eleito em Santana do Ipanema, quando os próprios dirigentes civis eram interventores. Governou Santana como prefeito na gestão 1948-50, foi deputado e prefeito de Maceió. Como tenente, foi chamado a Mata Grande, onde Virgulino Ferreira e seus irmãos praticavam arruaças, como fizeram em Pernambuco e correram para Alagoas, residindo em Matinha de Água Branca. Lucena cercou a casa, houve resistência e tiroteio. Virgulino e os irmãos escaparam, mas no final da refrega Lucena entrou na casa, viu um morto e indagou: “Quem é esse velho?” Era o pai do futuro Lampião. Homem pacato, mas sem autonomia. Não houve intenção de matar pai de ninguém. E na função de major, Lucena também comanda as volantes que dão fim ao próprio Lampião, em 1938. Um predestinado e marcado pela espada. Chegado a Santana a frente do 2º Batalhão de Polícia em 1936, aliou-se ao padre Bulhões e passou, junto com o padre, a comandar os destinos do município.
          O escritor Oscar Silva, que viveu uma fase sob o seu comando, dizia que o major “gostava de soldado”, isto é, amava e prestigiava a farda; que “suas letras eram poucas, mas compensava com a inteligência e determinação”. Após a hecatombe dos Angicos, Lucena virou coronel e foi prefeito, construindo o mercado da carne e sendo um dos fundadores do Ginásio Santana.
          Ora! Pelo exposto no primeiro parágrafo, sempre pensamos que o fundador da biblioteca de Santana tivesse sido o “Prefeito Cultura”, Hélio Cabral, criador do museu do município. Já pelo parágrafo segundo, não víamos como Lucena iria preocupar-se com biblioteca, sendo um homem de armas. Jubiloso engano! Eis que uma equipe do Departamento de Cultura da atual gestão municipal descobriu dois documentos os quais estamos publicando de forma inédita, agora. Atenção, santanenses! A “Biblioteca Pública Municipal de Santana do Ipanema”, foi criada em 4 de outubro de 1948, Lei nº 16, gestão do prefeito José Lucena de Albuquerque Maranhão, 1948-50. A mesma biblioteca recebeu a denominação de “Breno Acióli”, na segunda gestão do prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, 1966-70, através da Lei nº 291/66 de 22 de abril de 1966. Parabéns a equipe da prefeita Renilde Bulhões em ter desvendado esse mistério tão importante da nossa história. Aqui também, a louvação póstuma ao coronel Lucena que bem soube construir uma ponte entre LETRAS E FUZIS.




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quarta-feira, 27 de abril de 2011

MORENO DAS ALAGOAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2011).

          Nascido em 14 de setembro de 1875, no município de Pão de Açúcar, Francisco Henrique Moreno Brandão, foi uma das grandes inteligências que honrou Alagoas. Tendo uma vida estudantil agitada em busca do seu espaço, Moreno Brandão foi “prosador, poeta, romancista, orador, jornalista, filósofo, historiógrafo, polemista e humanista”, escreveu meu saudoso amigo, escritor e professor penedense Ernani Otacílio Méro. O insigne Ernani Méro, autor de “História do Penedo” e outras obras importantes, não poupa elogios ao filho de Pão de Açúcar, ao prefaciar a obra “História de Alagôas”, relançada em 1981, pela Sergasa. Não bastasse a sua trajetória através das letras, por si só o livro de Moreno, editado em 1909, marcaria o seu enorme talento ao fornecer uma espécie de identidade ao nosso estado, ainda pobre em fontes de alto crédito onde possa se orgulhar dos seus feitos, retalhos da história brasileira.
          Conta, Moreno Brandão, que na época da maioridade de D. Pedro II, a 23 de julho de 1840, Alagoas encontrava-se em estado lastimável de atraso e de descultura, em contraste com suas riquezas não aproveitadas. A instrução primária era nula e havia 1.500 alunos distribuídos em 38 escolas, sete das quais destinadas ao sexo feminino. No caso do ensino secundário, sem plano definido, esparso, com cadeiras em latim, francês, geometria e retórica na cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro) e em outros centros, com latim e francês, em Penedo. A renda mesmo não atingia os cem contos. Nessa época, Alagoas estava dividida em cinco comarcas, 15 termos e 15 municípios. Falando sobre a segurança, apenas 150 praças tomavam conta de tantas terras, havendo inseguridade e séries de crimes, inclusive ameaças a magistrados. Olhando pelo ângulo das freguesias, havia 20 delas com a proliferação constante de novos templos. Comandava os destinos das terras alagoanas, no momento, Manoel Felizardo de Souza e Mello, que assumira a administração em 18 de julho de 1840.
          Nessa época Santana do Ipanema era Freguesia e ainda contava com o comando do padre Francisco José Correia de Albuquerque que ficou até 1842.
          Está aí um pouco das Alagoas de 171 anos atrás. O exposto permite claramente se fazer um comparativo para análise histórica. É fundamental saber o passado da nossa terra, pois um povo sem história e como um livro sem letras. As nossas escolas, infelizmente não dispõem de matéria específica sobre o estado, nem em cursos básicos e muito menos em esferas superiores. Assim a memória vai sumindo como a de muitas culturas indígenas pressionadas pelos brancos. Por outro lado, o texto mostra a capacidade intelectual de filhos do interior ─ tão distante e permanentemente explorado ─ presenteando o todo com esse acervo magnífico. São necessárias condições e valorização para o surgimento assegurado de outros notáveis, à semelhança de Francisco MORENO DAS ALAGOAS.


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