OLHO d’ÁGUA DO AMARO
Clerisvaldo
B. Chagas, 18 de janeiro de 2016
Crônica Nº 1.497
O caso do Olho d’Água
do Amaro é isolado e específico. Olho d’Água é um sítio rural como todos os
sítios: casas esparsas pelas terras de minifúndios. Destaca-se por possuir um
largo na estrada de terra (chamada rodagem) onde existe uma escola, uma casa de
fazenda e uma igreja, lugar de concentração popular.
Segundo a tradição,
um dos fundadores de Santana, Martinho Rodrigues Gaia (o outro foi o padre
Francisco Correia) era detentor de extensa faixa de terras devolutas, adquirida
como sesmaria. Durante uma época de seca, caçadores pediram permissão para uma
caçada, permissão esta concedida. Estes foram surpreendidos quando, no meio da
mata, depararam-se com uma pequena tapera. Voltaram e contaram a novidade ao
fazendeiro que mandou um grupo de pessoas até o local indicado. Foi assim
descoberto o negro Amaro, provável homem fugido e, mais uma fonte perene
descoberta por ele. E como o tempo, de fato estava ficando brabo com a seca, a
descoberta da fonte que até os nossos dias continua abastecendo, foi uma
bênção. A denominação permanece como ficou conhecido o lugar a partir daquele
acontecimento: Olho d’Água do Amaro. Mas, se pergunta de onde teria vindo
Amaro? Ninguém parece saber. Os documentos não registram, nem a origem do preto
da fonte chegou até nós através de transmissão oral. Provavelmente Amaro teria
sido um negro fugido do cativeiro, se não, não estaria refugiado na caatinga
bruta.
Levando-se em
consideração que Martinho fundara Santana em 1787, portanto, a 92 anos da
destruição do Quilombo dos Palmares, Amaro, com quase certeza, não teria vindo
dos Palmares durante as refregas com o bandeirante Domingos Jorge Velho. Mas
como no tempo de Martinho Rodrigues Gaia, o cativeiro ainda existia, pois
somente foi extinto em 1888, 101 anos depois, dá-se como certa a fuga de Amaro
de alguma fazenda escravagista distante. Isso é quase tão certo quanto dizer
que o negro Amaro não teria vindo da Tapera do Jorge.
(Extraído do livro “Negros em Santana” às páginas 31-32).
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