segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O CARRO DE ZÉ LIMEIRA

O CARRO DE ZÉ LIMEIRA

(Clerisvaldo B. Chagas. 15.12.2009)

NAS décadas 1950-1960, brincávamos muito com os carros de ladeira. Pegávamos os carros de pau, levávamos para o alto e descíamos as colinas que davam para o rio Ipanema. Aquele fabricado pelo maleiro Zé Limeira, filho da professora Adelcina Limeira, era o mais bonito de todos. Dava um trabalho medonho empurrar os brinquedos até o topo, mas quando descíamos montados era somente pura emoção.
O funcionamento do hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, é uma das sete grandes lutas do santanense. A juventude não sabe das seis gigantescas batalhas que travamos pelas conquistas de valiosas prioridades. Claro que houve outras lutas, porém, nenhuma como as seis que estão abaixo. A briga pela energia de Paulo Afonso ─ depois que o motor alemão que abastecia Santana quebrou ─ foi a maior de todas. Quatro anos no escuro justificava todo movimento da sociedade organizada. Foi assim que surgiu como instrumento de guerra, a primeira rádio do município. Funcionando na clandestinidade, a Rádio Candeeiro (como referência ao escuro reinante) teve papel de destaque no ânimo da juventude sequiosa de desenvolvimento. Essa foi a briga mais bonita e participativa de Santana. Outra luta importante foi pela conquista da água encanada do rio São Francisco, através da adutora de Belo Monte, cidade ribeirinha de Alagoas. Entre os seis embates anteriores está o do hospital Dr. Arsênio Moreira, situado no Bairro Camoxinga. Nesta meia dúzia não poderia faltar a construção da ponte Gen. Batista Tubino sobre o intermitente rio Ipanema, o que motivou os futuros bairros da margem direita. Ainda com a sociedade organizada lutando como podia, tivemos também a conquista do asfalto Palmeira dos Índios/Santana, através da BR-316. E finalmente a última das seis grandes lutas foi pelo terminal rodoviário que acabou sendo implantado no Bairro Monumento, vizinho a Associação Atlética Banco do Brasil. Esta foi a única que chegou fora de época, ocasião em que o transporte alternativo superou os ônibus tradicionais.
Trava-se agora a sétima batalha que é pelo hospital geral que já tem o nome do primeiro médico da terra, Clodolfo Rodrigues. Construído no governo municipal Marcos Davi, o prédio é formidável e leva um tempo enorme para conhecê-lo por dentro. Verdadeiro labirinto. Situado entre as localidades Conjunto Marinho e Cajaranas, é a atração turística no sopé da serra Aguda. Não acreditamos que haja falta de interesse das autoridades. O que falta é participação social como algumas das outras lutas citadas. Dessa vez o povo se acomodou como se não tivesse mais entusiasmo para continuar lutando. Os políticos, então, resolveram movimentar essa causa mostrando trabalho no rádio e em outros meios de comunicações. Mesmo assim, acreditamos que no próximo ano, mesmo sendo ano eleitoreiro, estará funcionando o hospital Dr. Clodolfo Rodrigues que até agora tem sido apenas um elefante branco. O problema, segundo o que estamos ouvindo, é colocar o carro na cabeça e levá-lo até o topo da ladeira. Daí, ladeira abaixo todo santo ajuda. Caso realmente os políticos cumpram o que estão assegurando, teremos orgulho de ver funcionando O CARRO DE ZÉ LIMEIRA.


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domingo, 13 de dezembro de 2009

NO TEMPO DA PROGRESSO

NO TEMPO DA PROGRESSO
(Clerisvaldo B. Chagas. 14.12.2009)
Para os jovens estudantes de Santana do Ipanema

   Relembrando daqui de Maceió os tempos de estudante, chegam à cabeça partes da história do Sertão e de Alagoas. Sertão de estradas de terra, de asfalto buraqueira. Na capital batia a saudade do interior e os pensamentos galopavam para Santana do Ipanema. Um filho que nunca renegou suas origens. Quando surgia uma oportunidade: a saída da rodoviária velha do Bairro Poço; o cheiro repulsivo do carbono; os lanches invariáveis do balcão; os olhares ansiosos dos quase passageiros marcavam o estudioso. Mas a vontade pétrea de retornar à casa paterna cobria tudo. E lá vai o ônibus da empresa Progresso demorando a rodar. A marcha de alavanca comprida “dando croques”; a paciência diplomada do motorista. Ah! O carro parece não sair de Maceió na sua lentidão. A ladeira de Satuba, sempre marcada como verdadeiro início da viagem, não quer chegar. Quatro horas, quatro horas e meia Maceió/Sertão. Pensamentos febris nas ruas de Santana, nos becos de Santana, nas matas de Santana. Eita viagem longa, meu Deus! Somente após o antigo povoado Bola, hoje Estrela de Alagoas, a alegria começava a fluir. Era para nós outro marco a primeira descida ao Sertão. Rio Traipu, fazenda Mair Amaral, entrada para a cidade Minador... E lá se ia o ônibus da Progresso. Passa Minador do Lúcio (Minadorzinho), chega a Cacimbinhas; desce todos para a churrascaria do Josias, perto do antigo e solitário posto de gasolina. Adicione tempo. Finalmente o transporte segue com sua zoada característica, para aqui, para acolá; nova marcha, nova força. Já estamos no Sertão, quase em casa, mas ainda restam a pedra do Padre Cícero, a cidade de Dois Riachos e duas ladeironas para o povoado Areias Brancas. Agora sim, faltam 12 km para a chegada a “Rainha do Sertão”. Ponte sobre o riacho Gravatá, o cenário da última curva para o serrote Gonçalinho, poço Escondidinho no rio Ipanema. A empresa Progresso acaba de completar mais uma parte na história dos transportes em Alagoas.
Mesmo agora em viagens de automóveis, conservamos as mesmas ansiedades, os mesmos marcos como a ladeira de Satuba, o rio Traipu, a pedra do Padre Cícero. Crônica amarga e doce não fácil de fazer, essa NO TEMPO DA PROGRESSO.

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