sexta-feira, 13 de maio de 2011

KADHAFI É SANTO

KADHAFI É SANTO
(Clerisvaldo B. Chagas, 13 de maio de 2011).

          Quando as Nações Unidas resolveram desalojar Kadhafi do trono perpétuo, a tarefa parecia um treino para as armas. Mas a falta de entrosamento no comando, a escapadela americana, a demora das decisões e a subestimação ao adversário, fizeram brilhar militarmente a estrela do ditador líbio. Esse princípio de conflito que nada resolvia, mostrava uma ONU desarticulada como fantoche trapalhão. E aqueles tigres de caras feias e dentes afiados, pareciam desenhos das nossas chamadas escolinhas. Isso apenas engordava o orgulho do homem do deserto nos derradeiros delírios de derrotar o mundo. E o ditador caprichava cada vez mais no visual estrambótico próprio, na sua postura de Homo erectus, nas fotos de televisão. O que se calculava em algumas horas, em alguns dias, em algumas semanas, parecia montado no cavalo Ventania das vaquejadas nordestinas. Foi provado mais uma vez que o criatório de cobras não é um bom negócio. Foram deixando o pequeno réptil crescer em cativeiro, deram-lhe alimentação adequada para a engorda e o resultado começa a ser colhido na safra 2011. Provado também que o tanger da cobra após a criação, é tão duro quanto à fase da engorda.
          Cansada, talvez, pela esperteza e determinação do chefe da Líbia, a ONU parece que reconheceu ter entrado no jogo como o Saci Pererê, apenas pulando em um pé só. Esse corpo mole permitiu que Muamar fosse trucidando seus compatriotas à vontade, sem nenhum remorso, baseado na estratégia única de vitória. No momento atual ─ quando a Europa começa a se encher de imigrantes forçados da área conflitante ─ a ONU parece endurecer o jogo, partindo para uma decisão definitiva que encerre esse episódio de perda em vidas humanas, dinheiro e péssima repercussão. Vai acionando mais ataques sem os cuidados inicias, tentando eliminar o homem de uma vez por todas ou capturá-lo para julgamento no tribunal do mundo. Pessoas como Kadhafi, mostram muito mais orgulho do que o antigo ditador do Iraque. No caso de iminente derrota, figuras assim, preferem o suicídio à vergonha de serem enjauladas e mostradas a público. É bem provável que faça como o cangaceiro Fortaleza ao ser capturado vivo, quando implorou por sua morte, “pois seria uma desmoralização em ter sido capturado, quando o chefe soubesse”.
          Ao mesmo tempo em que o mundo acompanha a guerra do norte africano, desvia aqui, acolá, o sentido para um terremoto, uma grande cheia, uma feroz partida de futebol. Dificilmente as atenções se voltam para um estado pequeno, massacrado, espoliado, saqueado constantemente pelos abusos cometidos há anos entre figuras que representam o território. Uma vergonha nacional o que se passa em Alagoas. A união dos grandes para levar o suor do trabalhador que não tem sequer o direito de repor por cima o que lhes puxam por baixo. No aperto a mídia estampa, mas faz a chamada meia-sola, expressão popular que indica o malfeito, o tudo pela metade.
          Depois de ser acusado de tantas coisas, vê-se que o ditador da Líbia ─ se conseguir fugir ─ virá para Alagoas, pois entre Executivo, Legislativo e Judiciário Muamar tem muito a aprender, KADHAFI É SANTO.




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quarta-feira, 11 de maio de 2011

DESGOSTO NA VIDA

DESGOSTO NA VIDA
(Clerisvaldo B. Chagas, 12 de maio de 2011).

          Dividido entre trabalho escolar, recuperação de acervo sobre o cangaço, crônicas diárias e confecção do quinto romance histórico, ciclo dos cangaceiros, vou tentando entender o óbvio. O romance, ainda sem título, está inspirador e bem encaminhado. Terceiro capítulo. A história se passa quase 100% entre Piranhas e Entre Montes, cenas em Santana do Ipanema e na caatinga. O tema envolve religião, devotos, cangaceiros e outros ingredientes. O início do tema acontece um mês antes do massacre dos Angicos que entra na história e prossegue até a morte de Corisco. Entretanto o miolo em si não é o cangaço. O cangaço é da periferia do romance e de vez em quando entra e sai de foco. O centro narrativo é um guarda-costas (capanga) o protagonista, contratado para proteger o padre de Piranhas, ameaçado por alguns descontentes por medidas duras do padre Herculano no povoado Entre Montes (Monte Belo, na história). Na realidade a vida do capanga é o núcleo do romance que faz girar ficção e fatos históricos onde o leitor não vai conseguir separar um dos outros. Padre Bulhões, major Lucena Maranhão, mortes dos Angicos, trem de Piranhas, misturam-se com os transportes da época (verdade) e absorve sexo, combates, amor, sofrimento, luta pela sobrevivência (ficção). Tudo num terreno bruto e romântico. (Nada a ver com “Cordel Encantado”). “Fazenda Lajeado” fala em Piranhas várias vezes, “Deuses de Mandacaru”, encerra-se em Piranhas. Portanto, o acervo do cangaço é fundamental para coadjuvar o romance.
         
          Vejo o protesto do deputado e historiador daquela cidade, Inácio Loyola, contra a construção de mais uma hidrelétrica no rio São Francisco, entre Pão de Açúcar e Piranhas. O rio, combalido com o golpe arrasador de Xingó, virou riacho, perdeu o peixe, encontra-se assoreado e não aguenta nem mais um empurrão. Estamos na época das alternativas. E se querem mais energia deveriam instalar uma usina eólica onde for possível e deixar o nosso rio doente reagindo. E como disse o parlamentar, a dívida social da Eletrobrás é realmente enorme com a população ribeirinha. Desde já o deputado pode contar conosco e creio com todos os habitantes de Alagoas e Sergipe que deverão engrossar o coro, caso persista essa ideia maluca de sangrar o paciente.
          Quem não lembra os protestos do bispo e a greve de fome feita em defesa da sobrevivência do nosso São Francisco? E é assim, é? Isso até faz lembrar o repentista Zezinho da Divisão com seu velho mote “tudo é desgosto na vida”:

Nosso rio está doente
Querem acabar de matar
Depois de tudo sangrar
Nem peixe ficar pra gente
Eletrobrás é serpente
Cujo peçonha é cuspida
Com sua boca comprida
Mais a língua bifurcada
Liquida a troco de nada
“Tudo é DESGOSTO NA VIDA”


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