terça-feira, 26 de julho de 2011

LAMPIÃO A FERRO E FOGO

LAMPIÃO A FERRO E FOGO
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de julho de 2011
Série cangaço Nº 03

Lampião não brincava em serviço. Bebia pouco e pensava muito. Através do tempo e da inteligência montou sua estrutura e estratégia militar. Iniciou o seu próprio bando em 1922, com apenas cerca de catorze homens, remanescentes do bando de Sinhô Pereira. Quando passou em Alagoas e daí foi ao Juazeiro atender o chamado para combater a Coluna Prestes, em 1926, contava com um bando em torno de 106 homens. Tinha até um corneteiro chamado Mormaço, provando mais uma vez o seu gênio militar. No princípio, gostava de exibir grandeza atuando com o bando inteiro. Ao ser destroçado na campanha da retirada de Mossoró, em 1927, reduziu o bando na sua reorganização para a média de sessenta cabras, divididos em subgrupos próximos de seis homens, comandados pelos de confiança. Os seus homens de confiança eram chamados de “os grandes do cangaço”, “o estado maior do bando”, “os maiorais” ou “compadres de Lampião”. Ao chamar um cangaceiro de compadre, Virgulino assegurava o certificado da confiança e o cabra passava a ser um dos grandes da quadrilha. Para se tornar um dos grandes, o cangaceiro ia crescendo nas ações, até chegar a chefe de subgrupo. Virgulino, espontaneamente ou através de pressão ou sequestro, obrigavam rapazes a fazer parte do bando, substituindo as suas baixas. Foram os maiorais de Lampião, cangaceiros como: Sabino (famoso na Paraíba), Corisco (famoso em Alagoas), Antonio Ferreira (Esperança), Ezequiel (Ponto Fino), Mariano, Virgínio (Moderno), Luiz Pedro (Esperança II), Mergulhão I, Arvoredo, Cirilo de Engrácia, Antonio de Engrácia, Moreno, Zé Sereno, Zé Baiano, Ângelo Roque (Labareda), Fortaleza, Moita Braba, Gato I e até mesmo Português.
         Lampião, em entrevista no Juazeiro do Norte, em 1926, dizia girar em torno de duzentos combates enfrentados por ele. Durante o seu nefando reinado, entre 1922 e 1938, são incalculáveis os medonhos tiroteios acontecidos. Os destaques da carreira, entretanto, ficam em quatro, segundo unanimidade de opinião: um em Alagoas (combate do Serrote Preto), dois em Pernambuco (combates do Poço Branco e o da Serra Grande) e um em Sergipe (combate da Maranduba). O primeiro combate, o de Poço Branco, aconteceu em Pernambuco perto da atual cidade de Inajá, logo após dois combates em Alagoas: o do Cipó do Gato e do Chicão, em 1921. Lampião deixou pistas propositais para uma emboscada feita a Lucena Maranhão. Aí em Poço Branco (início de carreira) foi tão perfeito na estratégia que ficou sendo considerado estrategista militar nato. Poço Branco foi o combate que o projetou, daí a sua importância. No combate de Serra Grande, em Pernambuco, em 1926, derrotou várias volantes reunidas, dos maiores nomes perseguidores do cangaço. Esse foi o combate da consolidação militar; o maior de todos, sessenta e poucos cabras contra cerca de 300 atacantes. Serrote Preto em Alagoas (1925) e Maranduba em Sergipe (1932) repetiram os sucessos anteriores.
          De aperto em aperto, de combate a combate, o velho Sertão nordestino resistia à cartucheira e ao desvario de LAMPIÃO A FERRO E FOGO.

* Continua.







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segunda-feira, 25 de julho de 2011

LAMPIÃO, ACHADO E MORTO

LAMPIÃO, ACHADO E MORTO
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de julho de 2011
Série cangaço Nº 02

 Não existe uma divisão concreta na vida e ações de Virgulino Ferreira da Silva. Entretanto, estudando sua trajetória, podemos localizá-lo de acordo com o ponto de vista do interessado. Baseado nisso, vamos, então, enquadrá-lo, grosso modo, em três períodos e os períodos em fases, apenas para situar o leigo, didaticamente, antes de penetrar no miolo das ações.
          Período primeiro:
         A – Fase de adolescência (região de morada, em Pernambuco);
         B – Fase de confusões e lutas com vizinhos e nazarenos (Pernambuco);
          C – Fase de trabalho em Alagoas.
          Período segundo:
         A – Fase entre trabalho e arruaças (Alagoas);
         B – Fase entre o trabalho e cabra do bando dos Porcino. Cangaceiro manso;
         C – Fase como cangaceiro profissional no bando de Sinhô Pereira.
          Período terceiro. (Chefe de bando):
         A – Fase em Pernambuco (com ações fronteiriças em Paraíba/Alagoas);
         B – Fase curta da Epopeia Mossoró. (Paraíba, Rio Grande e Ceará);
         C – Fase na Bahia;
         D – Fase Bahia/Sergipe;
         E – Fase Alagoas/Sergipe.
         Os seus antigos chefes, os Porcino e Sinhô Pereira, não tiveram a disposição nômade nem a energia necessária para acompanharem Lampião. Não possuíam espírito cigano, dando preferência as lutas em torno das regiões onde moravam (os Porcino no oeste de Alagoas, Água Branca/Mata Grande; Sinhô na região do Pajeú, Pernambuco). Virgulino já saiu do bando de Sinhô com o apelido que o engrandeceu, quando atirava com muita rapidez no escuro e o clarão do seu rifle foi comparado a um lampião. Virgulino deixou as vizinhanças do arruado Nazaré, pressionado pelos nazarenos que se tornaram seus maiores perseguidores e tinham nas veias o mesmo sangue. Gradativamente, com o gosto pelas andanças, foi atuando cada vez mais longe, chegando a percorrer e assombrar partes de sete estados nordestinos. Quase todos os estados não tinham estrutura de combate ao banditismo naquela forma, situação em que Ferreira ocupou esse imenso mundo de caatinga e por longo tempo se deu bem.
        A partir da organização do sistema de forças volantes, suas logísticas e aperfeiçoamento, Virgulino que reinava absoluto, começou a apertar-se, chegando o seu bando de mais de cem homens, a ser destroçado na volta de Mossoró e ficar reduzido a oito cangaceiros quando conseguiu escapar com vida e fugir para a Bahia. Após certo período de mansidão, voltou às atividades criminosas naquele estado. Com a reorganização das volantes, teve início o seu declínio. Foi ele quem introduziu o cangaço organizado na Bahia, Sergipe e Alagoas. Seus grandes perseguidores mais famosos foram os nazarenos (verdadeiros heróis) com os irmãos Flor e Manoel Neto; e Zé Rufino na Bahia. Virgulino desencarnou com mais 10 companheiros em Angicos, Sergipe, em 28 de julho de 1938. Lá na frente, Samateu, irmão de Sila, Mergulhão, Marinheiro e Novo Tempo, disse a um repórter: “Quando o governo quis achar Lampião, achou”. Falou certo: LAMPIÃO, ACHADO E MORTO. * Continua.

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