quarta-feira, 18 de julho de 2012

METEMOS


METEMOS
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de julho de 2012.
Crônica Nº 823

Abelha.  (Fonte: Wikipédia).
Soubemos quePedro Aleijado”, isto é, “Pedro Mão-de-Aço” ou mesmo, “Pedro Deixe-Que-Eu-Chuto”, recusa-se a morrer. Remanescente dos velhos farristas de Santana, Pedro, o homem coxo, adquiriu fama tocando pandeiro com grande mestria. Sempre convidado para as farras mais simples da boêmia santanense, Pedro estendia suas habilidades em todos os ambientes como bares, cabarés, clubes... Sempre causando admiração às bandas que vinham de fora e necessitavam na hora de um pandeirista. Em todo tempo bem humorado e puxando a perna, Pedro Aleijado viajava constantemente com suas farras eternas pelos festejos mais atraentes de cidades de Alagoas e pernambucanas. Juntando-se a José Francisco, o grande acordeom de Santana, ao José Panta (o violão elétrico) ao Miguel Chagas, Moreninho, Zé Yoyô e vários outros, as farras ganhavam colorido especial com o pandeiro de Pedro Mão-de-Aço. Como as situações vão mudando com o tempo, quase todos os grandes farristas da época foram transferidos para outra dimensão. Pedro resistiu e ainda resiste diante da preferência pelo Rum, bebidinha danada corrosiva.
Espiando as nuvens do tempo, Pedro começou a vender mel. Dizia ele que essa substância doce era a melhor do mundo, pois vinha de alvéolos selvagens do alto sertão de Pernambuco. O município de Inajá, nunca deixou de ser e referência do novo vendedor de mel. Saliente, mal-educado e piadista Pedro sempre respondia aos clientes quando perguntado se tinha mel para vender: “Mé? Temos”. E assim, com sua linguagem chula de duplo sentido, ia ganhando o pão com sua esperteza e, talvez, pequena aposentadoria. Certa feita um cliente chegou a sua casa para comprar “mé” da legítima abelha papa-terra de Inajá, à Rua Prof. Enéas. Um menino, seu filho, atendeu. “Cadê Pedro, menino?” E a inocente criaturinha denunciou sem querer a abelha bípede de um pé coxo: “Pai tá lá atrás no quintal fazendo mel”. Descoberta a fraude, a situação foi ficando difícil para Deixe-Que-Eu-Chuto, pois já não conseguia introduzir seu produto no mercado com tanta facilidade. Pedro não contestava o flagra apenas tentava sair resvalando e pedindo trocado para beber uma dose de Rum. Não tendo Rum, vai à Cachaça, afinal uma é amarela e outra é branca, para que preconceito de cor?
Contaram-nos que Pedro Aleijado agora estar morando no Bairro Domingos Acácio, bem perto de uma clínica particular. Não sabemos se ele ainda toca pandeiro e nem se o homem ainda teima em ser concorrente das abelhas. Mas a resposta sexual de péssima qualidade continua no cotidiano do pandeirista, quando provocado: “Pedro, tem mé”? A gravação tantas vezes rodada empulha na hora o perguntador: “MÉ? TEMOS”.


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JARAMATAIA


JARAMATAIA
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de julho de 2012.
Crônica Nº 822

Açude de Jaramataia - Alagoas (Fonte DNOCS)
No Médio Sertão de Alagoas, o inverno vai esfarrapando suas chuvas, devagar, preguiçoso, alternando os dias de molhar a terra. É como se apenas fosse uma satisfação à padroeira Senhora Santana com suas tradições do mês de julho. E se a lavoura não teve oportunidade, o pasto também não. O rosário de sacrifícios sertanejos agita-se na fé entre Pais-Nossos e Ave-Marias. Notícias ingratas vão percorrendo os alastrados até os pés da santa avó de Jesus. Os cânticos de louvação misturam-se às lágrimas envolvidas pela chuva fininha a que vem chorar também. Nos barreiros, nos lajeados, nas lagoas, o retrato da seca verde ou a cara rachada mostrando os dentes do chão. Correm as notas sobre o asfalto, por cima dos fios, pelas fibras óticas, dizendo de açudes, barragens, represas. E chegam aos ouvidos as palavras quase mentirosas que o maior açude de Alagoas está ficando seco. Quase mentirosas porque a extensão dos açudes “Pai Mané” e o “Jaramataia” são quase lendas no interior do estado. O “Pai Mané”, filho de um apelo em carta endereçada a Getúlio Vargas, pelo fazendeiro “Seu Zezinho”, município de Cacimbinhas, foi construído e tornou-se realidade, tornando-se um mar dentro do Sertão. E o açude no município de Jaramataia, tendo sido iniciado no começo da década de 60, foi uma das grandes vitórias do DNOCS ─ Departamento Nacional de Obras Contra a Seca.
Foi o açude de Jaramataia quem impulsionou a hoje cidade do mesmo nome que fica entre o Sertão e o Agreste, entre Santana do Ipanema e Arapiraca, fazendo surgir uma comunidade de exímios pescadores. E se Jaramataia é o título de uma árvore da família das leguminosas, foi também à sua sombra que nasceu o povoado à margem da rodovia chamado ainda hoje: “Bacurau”. Nas minhas idas e vindas, fui testemunhando a construção da rodovia do estado, desviando o percurso por longas estradas carroçáveis, contemplando as redes de pesca dependuradas nos terreiros das primeiras casas do povoado. Entretanto, a seca prolongada está fazendo desaparecer os 19 milhões de metros cúbicos de água do famígero açude. Até mesmo as cacimbas improvisadas às suas margens, não servem para o consumo humano e nem para o plantio pelo alto teor da salinidade.
A falta de manutenção dos açudes em Alagoas foi decretando a falência de tanto trabalho empenhado pelos bravos “cassacos” dos tempos das secas. São 22 açudes no estado que pedem atenção das autoridades e socorro monetário. Enquanto isso, vamos observando o debate das águas na região da Bacia Leiteira de JARAMATAIA.



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