domingo, 12 de maio de 2013

O MAJOR E O NEGÃO




O MAJOR E O NEGÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de maio de 2013.
Crônica Nº 1015
A obrigação foi mais forte do que a devoção (de escrever crônicas diárias); a sequência quebrada poderá ainda acontecer nesses quinze dias.

DELEGACIA DO ATERRO. Foto (alagoasnanet).
Lembrou-me o informante que chegou a Santana o major “E...” como delegado. Com fama de durão, procurou limpar à cidade de elementos perniciosos e que até certo ponto conseguiu. Foi autor de frase famosa muito citada em Santana do Ipanema, Alagoas. Certa feita ao fazer uma ronda no baixo meretrício, o major deparou-se com um grupo da sociedade, em avançada farra. Ao sentenciar um prazo curto para fechamento da espelunca, conhecido comerciante alegou ao major que ali só havia homens de bem. O delegado, então, teria respondido: “Homem de bem é aquele que há esta hora encontra-se em casa e não em cabaré”. O comerciante foi detido e solto logo depois, graças a telefonema de um filho adotivo também exercendo alto cargo na polícia. Inclusive, com direito a pedidos de desculpas, automóvel e escolta para deixá-lo em casa.
Nem tudo, porém, é fácil na vida de um delegado. Havia em Santana um arruaceiro que levava o apelido de “Negão”. Negão  aprontava às suas e corria para casa onde a polícia ia encontrá-lo. Dependendo do número de policiais, ele ia ou não à delegacia. Novo ainda na cidade, o major “E...” recebeu queixa de mais uma presepada do “Negão”. Mandou prendê-lo. Em casa, bem descansado, aguardando à força a qualquer momento, o marginal ouviu um chamado dos policiais. Perguntou lá de dentro quantos eram. Responderam que havia três homens. O Negão mandou que eles voltassem porque era pouca gente. Os soldados, conhecedores da fama do preto, recuaram e foram ao major. “Como é a história?!” E chamando a ordenança foi prender pessoalmente o valentão somente com o auxiliar. Ao bater à porta do bandido e se identificar, o major recebeu a mesma pergunta, isto é, quantos homens havia. O delegado respondeu que só ele e a ordenança. Negão remoeu lá dentro e disse: “O meu prazer, major, é que fosse um rebanho. Gosto de ir preso com muita gente me levando; vou abrir uma exceção para o senhor, mas aviso logo que não me trisque um dedo!”. Negão foi. Ao chegar ao lugar Aterro, o major empurrou o bandido que ao se recuperar meteu o braço para cima, quebrou o major no meio e o jogou aterro abaixo. Resultado: Negão foi preso, apanhou bastante e, pouco tempo depois de solto foi assassinado. O major ganhou um aleijão para sempre com “um quarto quebrado”. O povo passou o fato adiante com o título “O MAJOR E O NEGÃO”.



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terça-feira, 7 de maio de 2013

SAL E MEL



SAL E MEL
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de maio de 2013.
Crônica Nº 1014
Foto: (Blog do comendador).


Viajando por Alagoas, fiquei impressionado com a velocidade com que São Sebastião cresceu. Quando ali estive, em pesquisas para o IBGE, não passava São Sebastião de um povoado. Na ocasião, fomos recepcionados por um companheiro nosso que possuía um sítio de coqueiros por ali e nos deliciamos com o produto. A cidade não fica longe de Arapiraca, na bifurcação em que um dos lados leva a penedo e o outro a Porto Real do Colégio. A força da localidade fez com que São Sebastião pusesse ritmo semelhante a Arapiraca, recebendo todo movimento de caminhões, carretas e automóveis vindos do baixo São Francisco e do Sul do País. Nem sempre, porém, o lugar foi chamado pelo nome do santo. Quando nada havia por ali, um tropeiro chamado José Luiz, resolveu morar naquelas terras. Negociando entre Palmeira dos Índios e Penedo o homem procurou centralizar sua moradia. Como José Luiz vendia “sal” e “mel” e, o povo chamava sal de “sá” e, mel de “mé”, o lugar passou a ser apontado como Salomé.
Salomé logo atraiu agricultores e criadores por causa da fertilidade de suas terras, surgindo à lavoura fumageira que ainda hoje predomina. Enquanto os fazendeiros asseguravam o comércio, os escravos difundiam as festas com violas e berimbaus, pela região. Em 1960, São Sebastião foi desmembrado do município de Igreja Nova, passou a diversificar sua lavoura e implantar indústrias. Hoje sua economia rural se baseia na cana-de-açúcar, fumo, amendoim, pecuária e lavoura de subsistência. Suas festas ficaram famosas, inclusive a da Padroeira, Nossa Senhora da Penha. O artesanato da renda de bilro tem destaque especial em São Sebastião e é motivo de curiosidade de quem chega. Como foi dito, pertinho de Arapiraca, a cidade que mais cresce no Nordeste, São Sebastião há muito deixou de ser apenas SAL E MEL.


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