domingo, 3 de novembro de 2019

AS BARBAS DE OURO DO CAMARÃO


AS BARBAS DE OURO DO CAMARÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 4 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.208

ORIGINAL BAR DAS OSTRAS. (FOTO: historiadealagoas.com).
Diante de um prato bem ornado de camarão, não me custou relembrar em segundos, fatos relativos ao saboroso crustáceo. No trecho Pão de Açúcar – Piranhas, um pescador, foguinho acesso perto da canoa, dizia: “esse povo da cidade não sabe comer camarão. É tanto mistura que coloca que perde o gosto verdadeiro. Para sentir o sabor especial do camarão, basta torrá-lo na hora com, no máximo, uma pitada de sal e pronto”. Já em Belo Monte, estava misturado pelos pescadores, camarão, pitu e peixe num escabeche só. Como não estava analisando nem café e nem vinho, para que discutir com pescador? E se o camarão é sozinho ou acompanhado deixe a coisa para quem sabe fazer e limite-se à degustação do oferecimento.
Numa outra oportunidade tive a honra de ser convidado pelo saudoso mestre, Alberto Nepomuceno Agra, para comer camarão no Bar das Ostras. Fiquei surpreso, pois pensava que o lugar não mais existia. Tradição, referência gastronômica de Alagoas, o Bar das Ostras foi ponto de encontro da elite política e intelectual do estado durante o longo período entre 1950 e 2002. “O Bar de propriedade de Dona Oscarlina e Seu Pedro (pescador da lagoa Mundaú e comerciante de peixes e crustáceos no bairro da Levada), mudou de endereço três vezes, tendo fechado as portas de sua última sede no bairro de Jatiúca em 2002. Ao longo desses anos a fama da receita se expandiu, o sabor conservou-se inalterado e a receita se manteve em segredo”.
O local era muito sofisticado e ficava em uma rua próxima ao Estádio Rei Pelé. Mas o camarão seguia todo aquele ritual de  ingredientes, talvez desnecessário, corrigidos pelo pescador do rio São Francisco. Dessa forma fui encontrá-lo em um restaurante do Trapiche da Barra, bairro das rendeiras de Maceió. Camarão puro e no palito, compadre, uma verdadeira delícia que confirmava a primeira teoria.
O Brasil produz artificialmente o camarão em cerca de 50%. São absurdos de toneladas do bicho, mas infelizmente o preço do produto continua restrito a imperadores e imperatrizes como as sortudas baleias dos nossos mares. Não importa se eles são de água doce ou salgada, tipo e tamanho. Em todos os lugares visitados é servido, um para comer, os outros para cheirar.
Mas que o peste é gostoso é.

Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/11/as-barbas-de-ouro-do-camarao.html

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

DOIS RIACHOS EM CENA


 DOIS RIACHOS EM CENA
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.207
PEDRA DO PADRE CÍCERO. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

Sendo cidade pequena – pouco mais de 11.000 habitantes – Dois Riachos, no Sertão alagoano, luta com as armas que tem. Com a fama mundial da atleta, filha, possui bastante moral para exibir na faixa de entrada, em forma de arco: “Aqui é a terra da Marta”. Tem um pouco mais dependendo do que o amigo procura. Estamos respondendo ao advogado que nos indagou quais seriam as atrações do lugar. A família de Marta já passou a ser uma atração, tanto na presença quanto na ausência da jogadora. Mas o município oferta ao visitante, a maior romaria ao padre Cícero, de Alagoas; um dos maiores açudes do estado; a maior feira de gado do Nordeste e fama mundial de Marta. Além disso, tem vaquejada boa, festa de emancipação e dos dois padroeiros: Nossa Senhora da Saúde e São Sebastião.
Situada às margens da BR-316, a cidade é banhada pelo regato Dois Riachos – afluente do rio Ipanema – e de expressiva largura de calha. Suas cheias periódicas representam uma atração à parte, além do que já foi citado. As grandes romarias crescem a cada ano e se concentram na chamada Pedra do Padre Cícero, um pouco afastada da cidade e também à margem da BR-316. Rodando alguns quilômetros por estrada vicinal, chega-se ao Açude Pai Mané, no atual povoado do mesmo nome. Construído pelo governo federal na época de Getúlio Vargas, o citado açude foi um pedido de eminente fazendeiro local (Seu Zezinho), em carta endereçada ao próprio Getúlio. A estrada é de barro, tipo rodagem e atende bem aos usuários da região.
O município não possui histórias de cangaceiros, salvo passagem ligeira de Corisco por aquelas imediações e a naturalidade de um cangaceiro pouco conhecido denominado Tempestade. Com a BR-316 em ótimas condições, Dois Riachos a Santana é um pulo e estimula seu desenvolvimento de cidade satélite. Na época de estiagem, são vistas muitas carroças na BR puxadas por jumentos e burros transportando água em tonéis de plástico rígido de cor azul. Essa fase exige cuidado especial com quem trafega na região da Pedra do Padre Cícero.
Outras ótimas atividades, quem procurar encontra.
Ê sertão velho de guerra, compadre!
Estamos indo para lá.






Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/10/dois-riachos-em-cena_31.html