SANTANENSE QUER SABER Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.370 FOTO: CARSIL E ...

 

SANTANENSE QUER SABER

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.370

FOTO: CARSIL E EX-PREFEITO HENALDO BULHÕES. (B CHAGAS).

Entender o passado é se prevenir para o futuro. Infeliz a pessoa que ignora suas raízes e vive navegando como filho de chocadeira. Para isso desdobram-se as escolas transmitindo às novas gerações como conseguimos chegar até o presente momento, nossas lutas, nosso suor, nossas dores em busca de um porvir assegurado a nossa juventude. Diz o ditado que “Quem ler sabe mais”. Alimentar a alma com boas leituras, faz a diferença entre o vacilante e a Fortaleza. Uma foto é apenas a ilustração do conteúdo do texto. Somente clicar na fotografia é sinal de preguiça mental e leva ao vício do não conhecimento proposto no texto. Mas, chega de conselhos para os apressados que não querem conteúdo.

Nasceu a Cooperativa Agrícola de Santana do Ipanema – CARSIL -  em 1942. Passando e vencendo crises, chega hoje em torno dos 78 anos de aniversários. Continua sua sede à Av. Coronel Lucena, defronte a prefeitura municipal da cidade. Prestou, além dos seus reais objetivos, relevantes serviços a Santana, abrigando no primeiro andar da sua fachada e na sua extensão, alguns órgãos públicos que para ela apelaram.

Foi ali em suas dependências onde ocorreu a fundação do Ipanema Atlético Club de modo oficial. No dia 5 de maio de 1954, os trabalhos de fundação estavam a cargo de funcionário do  Banco do  Brasil, Hermes Souza. Contam que a sigla do clube que levava  as iniciais IAC, dentro de um losango, teria sido ideia do cidadão José Batista Sobrinho. O terno ficaria com as cores verde-escura no calção e o amarelo queimado na camisa. O Ipanema passou a ser denominado “Canarinho do Sertão”.

Naquelas dependência também funcionou um serviço radiofônico chamado a “Voz do Município”, que transmitia para a cidade através de alto-falantes, os trabalhos da prefeitura, recheados com músicas e notícias. Uma espécie de rádio no governo Hélio Cabral.

Ali  ainda funcionou no primeiro andar, a Bibliodeca Pública, por longo período, bem como  outro período na parte de trás do edifício.

Foram também ali criados a Bandeira e o Brasão do município de Santana do Ipanema, a partir da gestão do prefeito Henaldo Bulhões Barros, com a publicação da Lei 388/70 de 27 de abril de 1970. 50 anos de bandeira. A inauguração do Estádio Arnon de Mello, na parte alta do Bairro Camoxinga. Aconteceu na mesma data acima.

E assim são muitos prédios da cidade que guardam episódios históricos do município, episódios estes, invisíveis aos olhos dos transeuntes.

 

FOTO ABRIL 1996

 

 

 

  CASA VELHA Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.369 (FOTO: OSCAR SILVA): Após ...

 

CASA VELHA

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.369

(FOTO: OSCAR SILVA):

Após vencer na vida (coletor federal) um dos escritores mais antigo de Santana do Ipanema visitou sua terra e a casa em que nascera e fora criado pela avó, em 1953. Fugira da fome para se alistar na Revolução Paulista. Sua casa era defronte a nossa. Eu estava com 7 anos na ocasião da visita. Convivi muito com a sua avó “Zifina” Flandreleira. Somente conheci Oscar em uma outra visita, já adulto, jantei com ele no Biu’s Bar e Restaurante, Rua Delmiro Gouveia, quando ele me pediu para escrever a história de Santana.

Veja o que ele escreveu após a visita de 1953. Não poderia ficar escondida uma das mais belas crônicas que eu já li. Na íntegra:

 

“A casa velha da Rua do Sebo, a casa de minha avó, dava na vista de todo mundo que passava por ali. Trepada em verdadeiros rochedos, frente de taipa, reboco a cair pela metade, oitão esquerdo exposto à chuva e à tempestade, de pé ainda, ou quase agachado, o velho pardieiro resistia e desafiava o próprio tempo destruidor, os antigos donos morreram ou fugiram e deixaram-na abandonada. Ela, porém, mau grado a vontade dos que a queriam demolida, ali ficou e ali continuava (1953), página dilacerada da grande história do povo santanense. Data nossa.

Antigamente, quando Santana fincava no morro da Goiabeira o cruzeiro que marcaria a chegada do século, aquela casa era simplesmente um quartinho de pólvora de algum fogueteiro da vila, a catingueira ou o marmeleiro, em redor, teús lutando com cascavéis, enquanto  mocós e preás corriam espantados à procura de abrigo contra o perigo iminente.

Passaram-se os dias. O quartinho de pólvora virou casa. E nessa casa nasceram lutas que eram de toda uma geração.

Casa velha da Rua do Sebo. Ali se viveu e lutou. Nela se hospedaram matutos para as missas dos domingos ou das sextas-feiras. Nela morreram os primeiros donos e dela fugiram os que não morreram. Casa velha da Rua do Sebo, festas ao Divino carpinteiro, casamentos de moças e rapazes, menino nascendo em ano de seca, menino dormindo para entreter a fome, menino fugindo da paz em procura da guerra! Casa velha da Rua do Sebo, página dilacerada da grande história do povo santanense”.

·         SILVA, Oscar. Fruta de Palma. Caetés, 1953, Págs 89-90.