domingo, 23 de agosto de 2020

 

SANTANENSE QUER SABER

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.370

FOTO: CARSIL E EX-PREFEITO HENALDO BULHÕES. (B CHAGAS).

Entender o passado é se prevenir para o futuro. Infeliz a pessoa que ignora suas raízes e vive navegando como filho de chocadeira. Para isso desdobram-se as escolas transmitindo às novas gerações como conseguimos chegar até o presente momento, nossas lutas, nosso suor, nossas dores em busca de um porvir assegurado a nossa juventude. Diz o ditado que “Quem ler sabe mais”. Alimentar a alma com boas leituras, faz a diferença entre o vacilante e a Fortaleza. Uma foto é apenas a ilustração do conteúdo do texto. Somente clicar na fotografia é sinal de preguiça mental e leva ao vício do não conhecimento proposto no texto. Mas, chega de conselhos para os apressados que não querem conteúdo.

Nasceu a Cooperativa Agrícola de Santana do Ipanema – CARSIL -  em 1942. Passando e vencendo crises, chega hoje em torno dos 78 anos de aniversários. Continua sua sede à Av. Coronel Lucena, defronte a prefeitura municipal da cidade. Prestou, além dos seus reais objetivos, relevantes serviços a Santana, abrigando no primeiro andar da sua fachada e na sua extensão, alguns órgãos públicos que para ela apelaram.

Foi ali em suas dependências onde ocorreu a fundação do Ipanema Atlético Club de modo oficial. No dia 5 de maio de 1954, os trabalhos de fundação estavam a cargo de funcionário do  Banco do  Brasil, Hermes Souza. Contam que a sigla do clube que levava  as iniciais IAC, dentro de um losango, teria sido ideia do cidadão José Batista Sobrinho. O terno ficaria com as cores verde-escura no calção e o amarelo queimado na camisa. O Ipanema passou a ser denominado “Canarinho do Sertão”.

Naquelas dependência também funcionou um serviço radiofônico chamado a “Voz do Município”, que transmitia para a cidade através de alto-falantes, os trabalhos da prefeitura, recheados com músicas e notícias. Uma espécie de rádio no governo Hélio Cabral.

Ali  ainda funcionou no primeiro andar, a Bibliodeca Pública, por longo período, bem como  outro período na parte de trás do edifício.

Foram também ali criados a Bandeira e o Brasão do município de Santana do Ipanema, a partir da gestão do prefeito Henaldo Bulhões Barros, com a publicação da Lei 388/70 de 27 de abril de 1970. 50 anos de bandeira. A inauguração do Estádio Arnon de Mello, na parte alta do Bairro Camoxinga. Aconteceu na mesma data acima.

E assim são muitos prédios da cidade que guardam episódios históricos do município, episódios estes, invisíveis aos olhos dos transeuntes.

 

FOTO ABRIL 1996

 

 

 


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quinta-feira, 20 de agosto de 2020

 

CASA VELHA

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.369

(FOTO: OSCAR SILVA):

Após vencer na vida (coletor federal) um dos escritores mais antigo de Santana do Ipanema visitou sua terra e a casa em que nascera e fora criado pela avó, em 1953. Fugira da fome para se alistar na Revolução Paulista. Sua casa era defronte a nossa. Eu estava com 7 anos na ocasião da visita. Convivi muito com a sua avó “Zifina” Flandreleira. Somente conheci Oscar em uma outra visita, já adulto, jantei com ele no Biu’s Bar e Restaurante, Rua Delmiro Gouveia, quando ele me pediu para escrever a história de Santana.

Veja o que ele escreveu após a visita de 1953. Não poderia ficar escondida uma das mais belas crônicas que eu já li. Na íntegra:

 

“A casa velha da Rua do Sebo, a casa de minha avó, dava na vista de todo mundo que passava por ali. Trepada em verdadeiros rochedos, frente de taipa, reboco a cair pela metade, oitão esquerdo exposto à chuva e à tempestade, de pé ainda, ou quase agachado, o velho pardieiro resistia e desafiava o próprio tempo destruidor, os antigos donos morreram ou fugiram e deixaram-na abandonada. Ela, porém, mau grado a vontade dos que a queriam demolida, ali ficou e ali continuava (1953), página dilacerada da grande história do povo santanense. Data nossa.

Antigamente, quando Santana fincava no morro da Goiabeira o cruzeiro que marcaria a chegada do século, aquela casa era simplesmente um quartinho de pólvora de algum fogueteiro da vila, a catingueira ou o marmeleiro, em redor, teús lutando com cascavéis, enquanto  mocós e preás corriam espantados à procura de abrigo contra o perigo iminente.

Passaram-se os dias. O quartinho de pólvora virou casa. E nessa casa nasceram lutas que eram de toda uma geração.

Casa velha da Rua do Sebo. Ali se viveu e lutou. Nela se hospedaram matutos para as missas dos domingos ou das sextas-feiras. Nela morreram os primeiros donos e dela fugiram os que não morreram. Casa velha da Rua do Sebo, festas ao Divino carpinteiro, casamentos de moças e rapazes, menino nascendo em ano de seca, menino dormindo para entreter a fome, menino fugindo da paz em procura da guerra! Casa velha da Rua do Sebo, página dilacerada da grande história do povo santanense”.

·         SILVA, Oscar. Fruta de Palma. Caetés, 1953, Págs 89-90.


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