terça-feira, 29 de dezembro de 2020

 

UMA AVENTURA DE AMOR

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de dezembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.441





A família Gonzaga dominou Santana do Ipanema no início do Século XX. Mandou na política local até, aproximadamente, 1915, quando apoiou o padre Manoel Capitulino para a municipalidade. Capitulino tinha uma irmã casada com um membro daquela família originária do pé da serra da Camonga, à cerca de 3 quilômetros do Centro da cidade. O padre, que se dedicava mais à política do que a igreja, chegou a ser governador em exercício e foi quem elevou a vila à cidade em 1921. Pois bem, segundo o saudoso comerciante Evilásio Brito, que possuía na cabeça muitas histórias acumuladas, um dos membros da família Gonzaga proporcionou um episódio, digno de folheto de cordel.

Chegando à cidade baiana de Curaçá, apaixonou-se por uma mulher e por ela foi correspondido. Resolveu pedir a amada em casamento, mas o pai, homem ignorante da época e rodeado de capangas, disse para o Gonzaga: “Essa mulher não serve para casar”, dando a entender que ela não era mais virgem. Gonzaga, então se fez de despachado e combinou com a amada uma fugida para Alagoas. Marcaram o dia e a hora. Gonzaga retornou ao seu pé de serra.  No dia aprazado, Gonzaga voltou à Bahia. Atravessou o São Francisco e combinou com o canoeiro, uma espera às margens do rio para a travessia do casal.  Adiante encontrou nos pastos de uma fazenda, vários cavalos pastando. A chuva caía naquela hora e os animais viraram-se contra a chuva, com apenas a exceção de um deles.

Gonzaga foi ao criador e falou em comprar um dos cavalos. O homem aceitou vender e no campo mostrou os melhores.  Gonzaga, então, disse: “Só me serve aquele” e apontou para o animal que enfrentara a chuva com a cara. Acertou as contas e seguiu viagem. Roubou a sua paixão levando-a na garupa do potro até encontrar o rio São Francisco. A capangada seguia seu rastro sob as ordens do coronel, pai da mulher. Na beira do rio, o canoeiro não estava no ponto combinado. “E agora?” indagou seu amor. “Agora é nadar”. Ajeitou os arreios e penetrou na água fazendo o animal nadar e vadeou o rio sem problema algum. Em Alagoas, marchou para o seu refúgio no sopé da serra da Camonga.

A capangada refugou no São Francisco e não se soube depois de nenhuma outra perseguição.

A história é ou não é parecida com folheto de cordel?

SERRA DA CAMONGA, REFÚGIO DOS GOZAGA (FOTO: B, CHAGAS).

 


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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

 

O VELHO DO GATO

Clerisvaldo B. Chagas, 28/29 de dezembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.440

 





O homem de avançada idade morava na serra do Gugi, no município de Santana do Ipanema, segundo crônica do saudoso escritor santanense Oscar Silva. Aos sábados, dia de feira semanal, o matuto da serra hospedava-se na casa da avó de Silva, flandreleira Josefina, cuja residência ficava defronte a casa dos meus pais. As conversas do homem sempre giravam em torno das suas proezas sexuais. Uns acreditavam outros não. Estamos falando das décadas de 20 ou 30, narradas por Oscar. Certo dia o pessoal que o ouvia teve a prova dos noves. Surpresa! O matuto da serra iria se casar. Casou. Todos ficaram atentos ao desenrolar dos fatos. Em menos de quinze dias, a idosa com quem se casara abandonou a casa. Os curiosos procuraram o motivo e a própria ex-esposa contou tudo.

Segundo ela, o vigor do velho era impressionante e como o casamento parecia brincadeira, ela correra de casa por conta do velho tarado. “Vá procurar as bestas das grotas para as suas safadezas, seu velho sem-vergonha!”. Contara a frustrada velhinha. O zunzunzum foi grande desde à serra do Gugi às feiras dos sábados de Santana.

Já na minha adolescência surgiu um velho também da serra do Gugi que eu o apelidei de Velho do Gato, nem me lembro mais o motivo. O velho do gato andava sempre com um saco às costas, tinha a cara toda enrugada, um bom humor incrível e uma agilidade comprovada.  Comprava retalhos em nossa loja para vender na serra e em outros lugares.  Vez em quando pulava rápido como quem estava se defendendo de algum ataque e colocava a mão sob a camisa, num gesto de defesa ao puxar uma faca inexistente.

Pois o velho do gato, lembrava exatamente o personagem da crônica de Oscar. Foi não foi, puxava conversa sobre seu vigor sexual e falava de paixão por um tal Gedalva que vivia a paquerar. Impressionava-me a coincidência em ser ambos os idosos da serra do Gugi, a maior altitude do município. Seriam os ares da serra que contribuiriam para a longevidade sexual dos seus habitantes? Tá aí uma teoria para quem gosta de pesquisar nesses caminhos. Nesse caso, nunca vim a saber se o velho do gato chegou a casar com a sua Gedalva. Nunca mais soube de nada sobre ele, nem se procurava as bestas das grotas como mandara a esposa do primeiro.

A serra do Gugi continua lá a 12 quilômetros da cidade. Entretanto nem sei informar se ainda fornece velhotes assanhados para o município de Santana do Ipanema. (FOTO: B. Chagas).

 

 


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