O VELHO DO GATO
Clerisvaldo B. Chagas, 28/29 de dezembro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.440
O
homem de avançada idade morava na serra do Gugi, no município de Santana do
Ipanema, segundo crônica do saudoso escritor santanense Oscar Silva. Aos sábados,
dia de feira semanal, o matuto da serra hospedava-se na casa da avó de Silva,
flandreleira Josefina, cuja residência ficava defronte a casa dos meus pais. As
conversas do homem sempre giravam em torno das suas proezas sexuais. Uns
acreditavam outros não. Estamos falando das décadas de 20 ou 30, narradas por
Oscar. Certo dia o pessoal que o ouvia teve a prova dos noves. Surpresa! O
matuto da serra iria se casar. Casou. Todos ficaram atentos ao desenrolar dos
fatos. Em menos de quinze dias, a idosa com quem se casara abandonou a casa. Os
curiosos procuraram o motivo e a própria ex-esposa contou tudo.
Segundo
ela, o vigor do velho era impressionante e como o casamento parecia
brincadeira, ela correra de casa por conta do velho tarado. “Vá procurar as bestas
das grotas para as suas safadezas, seu velho sem-vergonha!”. Contara a
frustrada velhinha. O zunzunzum foi grande desde à serra do Gugi às feiras dos
sábados de Santana.
Já
na minha adolescência surgiu um velho também da serra do Gugi que eu o apelidei
de Velho do Gato, nem me lembro mais o motivo. O velho do gato andava sempre
com um saco às costas, tinha a cara toda enrugada, um bom humor incrível e uma
agilidade comprovada. Comprava retalhos
em nossa loja para vender na serra e em outros lugares. Vez em quando pulava rápido como quem estava
se defendendo de algum ataque e colocava a mão sob a camisa, num gesto de defesa
ao puxar uma faca inexistente.
Pois
o velho do gato, lembrava exatamente o personagem da crônica de Oscar. Foi não
foi, puxava conversa sobre seu vigor sexual e falava de paixão por um tal
Gedalva que vivia a paquerar. Impressionava-me a coincidência em ser ambos os
idosos da serra do Gugi, a maior altitude do município. Seriam os ares da serra
que contribuiriam para a longevidade sexual dos seus habitantes? Tá aí uma
teoria para quem gosta de pesquisar nesses caminhos. Nesse caso, nunca vim a
saber se o velho do gato chegou a casar com a sua Gedalva. Nunca mais soube de
nada sobre ele, nem se procurava as bestas das grotas como mandara a esposa do
primeiro.
A
serra do Gugi continua lá a 12 quilômetros da cidade. Entretanto nem sei
informar se ainda fornece velhotes assanhados para o município de Santana do
Ipanema. (FOTO: B. Chagas).
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