OS
CAMPINHOS
Clerisvaldo
B. Chagas, 9 de dezembro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.431
A tensão social é carga pesada, principalmente na periferia de cidades médias e grandes. Não falta o lazer para os ricos e os metidos, com seus teatros, cinemas, bons restaurantes e uma porção de coisas mais que afastam o tédio da “nobreza”. Para pobres e remediados das periferias ou o tráfico ou o futebol. Aquele futebol de bola de meia ou de verdade, em campinhos de várzeas, de monturo, arranca toco, careca e bruto. Pelos menos vai levando a esperança de ganhar a vida com a bola e fazendo esquecer o oco alimentar da moradia. Em nossos sertões a realidade não é diferente, daí a necessidade de se olhar em redor e dá o mínimo de conforto aos lugares carentes também de diversões como os chamados campinhos de futebol.
Em
Santana do Ipanema, por exemplo, tínhamos três lugares onde a bola rodava e as
garras do mundo eram esquecidas. No trecho urbano do rio Ipanema, quando seco,
o poço do Juá, os areais próximos as olarias e a barragem assoreada, sempre
foram celeiros de atletas que iam galgando degraus pelo Ipiranga, Ipanema...
Conseguiam chegar ao CSA ou CRB, na capital, e até alçar voos mais altos com
aterrissagem no Santos ou no Vasco da Gama. Isso aconteceu antigamente com
vários atletas de campinho de areia do leito seco do Ipanema e até com
jogadores recentes saídos desses campinhos que estão brilhando no Sudeste do
país. Sonhos realizados, marginais a menos na sociedade, mais alimentos à mesa
e pais vivendo com dignidade.
Não
somente Santana, mais município como Olho d’água das Flores, São José da
Tapera, Pão de Açúcar e Ouro Branco, entre outros, já tiveram a felicidade de
aplaudir e louvar filhos da terra que venceram em clubes grandes do Brasil. Reconhecemos
também as fabriquetas de calçados da cidade que produziam sapatos e craques de
várzeas. Nunca vimos profissionais gostar tanto de futebol quanto os sapateiros
da “Capital do Sertão”. Continuamos defendendo os campinhos construídos pelo
poder público que pode transformar a vida nas periferias, espantando
indiretamente o psicólogo, o marginal e o divã.
Sua
sociedade é a sociedade que você cria.
ESTÁDIO ARNOS DE MÉLLO, EM SANTANA DO IPANEMA
(FOTO: LIVRO 230/B. CHAGAS).
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