NÓS
NO ZABUMBA
Clerisvaldo
B. Chagas, 14 de dezembro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.434
Vamos matar a saudade do nosso tempo, trazendo-o de verdade até nós. Lembra quando havia novenas nas periferias e na zona rural? O aviso era dado através da banda de pífanos composta por pífanos, caixas e zabumba. O pequeno grupo de tocadores saía pelas ruas da cidade tocando e parando nas casas para anunciar onde haveria a novena e pedir dinheiro para o santo anunciado. À frente, um homem ou mulher carregava um quadro cheio de fitas com a imagem do santo da novena, quase sempre de São José ou Santa Luzia. Após o rito novenário, iniciava-se o leilão fruto das arrecadações comunitárias, como: bolos, ovos, galináceos, carneiros e garrotes. Às vezes também as novenas rurais e periféricas eram anunciadas durante as missas da Matriz de Senhora Santana, em Santana do Ipanema.
Nas
novenas dos sítios tanto se rezava quanto se namorava, pois um rabisco de olho
sempre escapava para lá e para cá entre as matutas aprumadas do sertão e a
sagacidade dos rapazes “praciantes”. Muitas novenas tornaram-se famosas como as
de Zé Rosa, no subúrbio Maniçoba, em Santana do Ipanema. Logo cedo do dia, a
zabumba estava nas ruas da cidade anunciando a festa e animando o povo.
Lembramos de certa música tocada no pife que era preciso entendê-la: A Onça.
Tratava-se de uma caçada de onça onde os cães de caça acuavam o bicho do mato ,
iniciava-se um ataque e uma briga medonha entre a onça e os cães. Os tocadores
imitavam no pife os tapas do felino e os caim caim dos cachorros. Uma obra de
arte e atestado de competência do pifeiro.
Não
era somente o famoso João do Pife que era bom na arte.
Agora
mesmo, depois de décadas e décadas do auge da zabumba, sexta-feira passada a
Rua Antônio Tavares é surpreendida por um grupo regional da zabumba, denominado
São José, devidamente fardado e originário da cidade de Pão de Açúcar. A
novidade para a nova geração surpreendeu os moradores. Houve uma parada na
frente da casa dos meus pais, onde moram duas irmãs. Festa para a vizinhança!
Veja na foto, dois pifes, uma zabumba e duas caixas. Ainda bem que os
habitantes da rua lembraram de fotografar as raízes do nosso folclore
sertanejo.
Não
sabemos, entretanto, se os “cabras da peste”, tocaram a onça acuada pelos
cachorros.
BANDA
DE PÍFANOS, SÃO JOSÉ (FOTO: MORGANA).
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