sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

 

CALDO DE CANA

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.456



 

Nos montes de consideráveis altitudes nos sertões nordestinos, costumam-se plantar, além de outros produtos específicos das alturas, também a cana-de-açúcar. Mas não estamos falando da produção para grandes engenhos e sim, um plantio suficiente para o consumo da família do produtor e alguns amigos vizinhos. Nesse caso, a cana é escolhida como de boa qualidade para produzir o caldo de cana, também chamado no sertão, de garapa. Primeiro o moedor doméstico era feito de madeira, manuseado por apenas uma pessoa.  Hoje em dia já existe esse engenho feito de ferro, manual ou movido à força elétrica. O velho moedor de pau desceu das serras para a cidade, transformou-se em metal e passou a ocupar praças e outros lugares estratégicos para se vender garapa. Caldo de cana é uma delícia nordestina que faz a festa de qualquer vivente.

“A cana é uma planta composta, em média, de 65% a 75% de água, mas seu principal componente é a sacarose, que corresponde de 70% a 91% de substâncias sólidas solúveis. O caldo conserva todos os nutrientes da cana-de-açúcar, entre eles minerais (de 3 a 5%) como ferrocálciopotássiosódiofósforomagnésio e cloro, além de vitaminas do complexo B e C. A planta contém ainda glicose (de 2% a 4%), frutose (de 2% a 4%), álcool (0,5% a 0,6%), amido (0,001% a 0,05%) ceras e graxos (0,05% a 0,015%) e corantes, entre 3% a 5%”. (Wikipédia)

Nada para curar ressaca quanto caldo de cana! Entretanto, não é aconselhável para diabéticos.

Isso faz lembrar o engenho de pau da serra do Gugi, no município de Santana do Ipanema, Alagoas. Íamos para àquelas alturas beber garapa no sítio do velho Olavo, em nossa juventude. Não resisti no futuro e transformei o velho Olavo em personagem do meu romance: “Deuses de Mandacaru”, onde narrei cenas com a serra do Gugi.

E se até os europeus descobriram a rapadura brasileira e compram-nas para suas escolas, imaginem se eles descobrem o sabor nordestino do caldo de cana! Fora anemia!

Muitos trabalhadores do campo gostavam das horas do lanche quando o patrão fornecia caldo de cana com pão doce. Até nas capitais o interiorano já pode matar as saudades dos engenhos nas esquinas onde estão de pontos fixos os antigos engenhos do tipo “velho Olavo”.

Caldo de cana... Doce que só beijo de morena apaixonada.

(FOTOS: WIKIPÉDIA)


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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

 

AS CARÇAS DO CARCELEIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.455


 

No momento em que o estado de Alagoas estar abrindo concursos para diversos seguimentos sociais, chegou à lembrança de um acontecimento humorístico já apresentado aqui faz bastante tempo. Omitiremos desta feita o nome do protagonista, para evitar melindres desnecessários.

O penúltimo dos grandes alfaiates de Santana do Ipanema, também seresteiro e pescador ocasional, trabalhava em sua residência à Rua Nilo Peçanha que por coincidência também pertencera a outro alfaiate e pescador conhecido como Seu Quinca. Porta de ferro aberta direta para a rua, grande balcão de trabalho, manequim olhando para fora e fita métrica no cabide do pescoço, nosso amigo alinhavava de pernas cruzadas. Vez em quando chegava um cliente para encomendar uma roupa ou um conhecido para puxar conversa.

Fo assim que em manhã de trabalho puxado chegou um amigo auxiliar de mecânico, fala mansa, estudo a desejar e a conversa com “Seu Juca” teve início. O visitante sentou-se num banco de tiras de couro e abriu o livro da sua vida. Juca de vez quando estimulava a palestra que girava em torno de trabalho, emprego, remuneração e coisas assim, até que foi tocado o assunto novidade de Alagoas: o concurso público cujo edital já fora publicado. O Alfaiate indagou se o amigo já estava sabendo e recebeu resposta inusitada.

As pessoas de pouca instrução costumam chamar “carça”, no lugar de calça: “Nem deu tempo de fulano vestir as carça”.

Pois bem, voltemos ao diálogo. Esperançoso com as boas novas do estado, o auxiliar de mecânico disse: “Eu mesmo vou fazer o concurso para carceleiro” (carcereiro). Juquinha fez de conta que tinha ouvido mal: “Concurso para quê?”. “Para carceleiro”, repetiu o mecânico. Juca deixou escapar uma risada gostosa e irônica e disse: Tá doido, rapaz! E você vai fazer “carça” na penitenciária? Diante da sarcástica advertência, o mecânico tentou remendar as “carça” perante o alfaiate... Gaguejou aqui, acolá... E zás! Abandonou ligeirinho o banco de tiras e mergulhou na Rua Antônio Tavares, onde morava, levando a vergonha na cabeça, na camisa e nas “carças dos carceleiros”.


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