quinta-feira, 18 de março de 2021

 

OS BICHOS DO COLORADO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.493



Visitando o Loteamento Colorado que está aos poucos sendo preenchido com seus 800 prédios, além da beleza do lugar avisto animais selvagens na última quadra colina acima nos seus 340 metros de altitude.  O Loteamento Colorado também é chamado Luar de Santana e fica na margem direita da AL-120 saída para Olho d’Água das Flores. É uma colina que tem início na rodovia e termina justamente no topo com a última rua. De lá, à noitinha avista-se a iluminação de inúmeros sítios rurais como Queimadas do Rio, João Gomes, Serrote dos Bois, Campo de Aviação e muitos outros ainda. Como a família está construindo ali, costumo visitar a obra, cujo Luar do Sertão é cercado de fazendas e matas de caatinga. Além de uma rica flora, sempre avisto Espanta-boiadas, corujas, formigas, teiús e pássaros diversos. Deve ter raposas, tatus, pebas, cobras e mais dezenas de animais miúdos.

Tive, então a ideia de convidar o meu amigo, escritor, professor biólogo e desenhista Fábio Campos para fotografar a fauna e a flora daquele habitat, catalogando animais e plantas num trabalho científico, com os nomes clássicos e correspondentes populares para enriquecer a cultura santanense. Fábio Campos, o contista, aceitou na hora e marcou a possibilidade para depois da Quaresma.  O resultado do futuro trabalho poderá ir à exposição, revistas científicas, aulas específicas nas escolas de Santana e até mesmo venda de painéis para as 800 famílias que se instalarão no Luar de Santana.

Embora tenha feito Geografia na qual dou a preferência aos meios físicos, em especial ao Relevo, tenho plena consciência do seu ramo, a Biogeografia. Entretanto a carga passada para o meu amigo Fábio Campos, pertence com maior profundidade à Ciência Biológica e suas particularidades. Acho que mesmo no ambiente de colina do Luar de Santana, pode haver compartimentações para animais e plantas chamadas nichos ecológicos.  O habitat possui relevo tipo grota e de média altitude, o que é possível encontrar comportamentos diferenciados de bichos e plantas.

E por ser o meu colega escritor mais novo, suas pernas aguentarão por certo, o “barrufo” de subidas e decidas da caatinga periférica do Luar de Santana.

Estou fazendo a minha parte.

LOTEAMENTO LUAR DE SANTANA (FOTO: B. CHAGAS).

 


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quarta-feira, 17 de março de 2021

 

JUMENTO CANINDÉ E COLOLÔ

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2. 491





 

Passamos do dia 15. No sertão se diz: “Mês miou mês findou”. A frase é usada pelos menos instruídos que usam miou no lugar de meiou. E agora que o mês “miou”, passa um bando de aves voando em direção leste e nós logo achamos que elas estão indo em direção ao açude do Bode, na periferia da cidade. O espanta-boiada ou tetéu, em outros lugares chamado quero-quero, gosta muito de mudanças de tempo e frequentam os arredores de rios, lagoas e açudes, embora façam seus ninhos em lugares altos. Ainda madrugada revoam em alaridos anunciando a proximidade da aurora. O espanta-boiada é cheio de histórias, assim como outras aves que metem medo e estão enraizadas no folclore das superstições e das certezas. Não são muito apreciadas pelo povo e servem de apelidos para muita gente feia.

Entre as aves lúgubres do Sertão, apresentam-se a coruja, o caboge, o caboré, o bacurau e o cololô, entre outras. Algumas são parentes entre si e hoje em dia nem os dicionários registram mais nomes já consagrados pelo povo. Lembro-me que fui com o Cololô pegar uma carga de palma no sopé da serra Aguda. Eu, pré-adolescente, Cololô, filho de um nosso empregado rural. O transporte era um jegue da raça Canindé – menor que o jumento pêga – cor de macaco, peludo e força descomunal. Jumento com dois caçuás, viajamos no caminho do sítio Lagoa do João Gomes, beirando a serra Aguda que na época pertencia quase toda ao Sr. Marinho Rodrigues. Mas nós tínhamos um grande cercado de palma por ali. Enchemos os caçuás que o jegue chega impava de tanto peso, Cololô achou pouco e me colocou na garupa do animal. Eu tinha pena, mas esse Cololô não tinha.

Diante daquele cenário de pé de serra, ainda desconhecido para mim, pensei em estudar plantas e animais da região, além das belas paisagens sertanejas. Conduzimos a carga até à Rua Professor Enéas, antiga Rua de Zé Quirino, onde tínhamos cercado na beira do Ipanema, lugar em que o gado leiteiro dormia e comia ração, além de suínos que eram alimentados com abóboras, vindas da nossa fazenda Timbaúba.

Tempos depois Cololô deixou o emprego e passou a frequentar a praça central da cidade numa aventura sem futuro. Parece-me que chegou até motorista, depois... nem notícia do homem.

Jumento Canindé e ave Cololô se misturam no baú da memória. Hoje procuro cololô e não o encontro nem mesmo nos melhores dicionário do País.

 


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