segunda-feira, 27 de setembro de 2021

 


JOANA DO BICHO

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de setembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2,589

 

Quem joga no bicho se alvoroça. Todos os dias tem que sonhar com um animal que conste na roleta, que se assemelhe ou tenha hábitos parecidos. Quando não sonha com um bicho da roleta, fica desarvorado, procurando na na via um sinal indicativo da sorte. Vê cachorro na rua, joga no cachorro. Vê cavalo na rua, joga no cavalo. Assim vai tentando chegar ao objetivo, sim senhor. Quando o cambista não passa, ele vai à banca. Joga religiosamente como quem paga a água, a luz, o botijão de gás. É uma angústia sem fim do viciado no jogo do bicho, cujo sonho de pobre é ganhar um milhar. Só fala no bicho, vive para o bicho, e cada cambista é um amigo que parece cúmplice alimentador de sonhos.

Em Santana do Ipanema, a velha Joana não dava sossego à vizinhança quando sonhava. Saía de porta em porta indagando: “Tu assonhasse com que, comadre?” Resposta dada, voltava a casa onde o dinheiro já estava enrolado esperando o cambista sabidão. O pouco trocado ganho no jogo, já serve para o ovo, a banana... O tempero. A velha Joana, analfabeta, perguntou ao açogueiro: “com quem assonhass assa noite, compade?”  E ele: “Sonhei com um bicho que começa com a letra “A”.  Joana se alegrou: “já sei. Dessa vez eu ganho”. E a velha Joana iria arriscar o seu dinheirinho suado no tal bicho da letra “A”. A saia varria o chão na alegria incontida de Joana, cujo marido era um dos seus incentivadores ao vício.

Joana aguardou o passar das horas com certa impaciência. Lá nos segredos da tardinha, saiu o resultado do jogo. A velho se encontrou o açogueiro, que lhe perguntou o resultado, se havia ganho na aposta “Ganhei a estrada, cumpade”. “Você me mandou jogar num bicho da letra ‘A’ foi triste”. Resposta: “Como! Eu não ganhei na águia?”. Você ganhou, mas eu perdi quando joguei no Alufante.

Só você, dona Joana!!!

 

 


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quinta-feira, 23 de setembro de 2021





Dr. ARSÊNIO MOREIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de setembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.59?

 

Já falei sobre isso. Para marcar o início do Século XX, foi erguido um cruzeiro de madeira no topo do serrote do Cruzeiro, em Santana do Ipanema. Quinze anos após, como motivo de promessa, foi levantada uma capela em homenagem a Santa Terezinha, por trás do cruzeiro. O autor foi o sargento de polícia Antides Feitosa, casado com Dona Hermínia Rocha, florista da cidade. As intempéries destruíram o templo. Em torno dos anos 60, o deputado santanense Siloé Tavares, ergueu a segunda capela sobre as ruínas da primeira. No pé do serrote muita zabumba com banda de pífanos, feijoada e foguetório para animar trabalhadores e devotos que subiam o serrote, conduzindo material de construção. Com o tempo, a segunda capela ruiu e aproximadamente em 1990 ? abnegados santanenses construíram a terceira capela até com arquitetura estanha à nossa região. Continua de pé.

Uma foto antiga mostra alguns visitantes na igrejinha original, entre eles, um caçador e um homem de branco que parece indivíduo importante. Por acaso, descobri tratar-se do primeiro médico de fora a clinicar em Santana do Ipanema: Dr. Arsênio Moreira.  Não era mais aquele rapaz simpático do início da carreira, mas sim, um cidadão de meia idade, forte e completamente outro. Arsênio viera da Bahia convidado para servir às forças policiais em Mata Grande. Depois viera para o 7 Batalhão de Polícia de Alagoas chegado em Santana do Ipanema, em 1936. Passou a servir ao Batalhão e depois particularmente onde hoje é o casarão do museu da cidade. Foi ele quem examinou o veneno que Lampião conduzia. Isso após a chacina acontecida em Angicos, em 1938

Arsênio foi homenageado com seu nome no título do primeiro hospital de Santana. Sua enorme foto que ilustrava a parede de recepção da unidade, atualmente encontra-se no Museu Darras Noya, onde morou e clinicou. Com a fundação do novo hospital na Cajarana, o antigo ficou desativado e quase vira ruínas. Com isso perdeu-se a homenagem do homem que tanto fez por Santana do Ipanema e a todo o sertão de Alagoas. Era carismático, humano e competente, dizem todos os que precisaram dos seus serviços médicos. Mesmo assim, ainda tem pedaços de avenida com seu nome.

A foto abaixo, portanto, deve ter sido tirada em torno do final dos anos 50.

(FOTO: “LIVRO 230”/DOMÍNIO PÚBLICO).


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