terça-feira, 19 de julho de 2022

 

USANDO O APRENDIDO

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de julho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.737

 


Quando estudávamos no Ginásio Santana, as provas eram ditadas pelo professor ou escritas por ele no quadro. Nós escrevíamos numa folha dupla pautada. Conforme o professor e a prova, podíamos usar totalmente a folha dupla ou não. O professor de Geografia, Alberto Nepomuceno Agra – ex-pracinha, fazendeiro, e dono de farmácia – costumava escrever no quadro apenas uma prova curta de cinco questões.  Ao entregarmos os testes, raramente usávamos a folha dupla. O professor cortava a folha ao meio e nos devolvia a outra banda não usada, dizendo mais ou menos assim: “Vamos aprender a economizar. Leve para casa essa parte em branco, você poderá precisar mais tarde”. Da mesma maneira procedia quando avistava um grampo de papel no chão. Extrapolava a Geografia, ensinando para a vida.

Comprávamos o papel de prova no centro comercial ou na bodega do senhor Oseas, bem pertinho do Ginásio e que também vendia “puxa” (doce pegajoso enrolado em forma de trança e macarrão). Era gostoso e ruim de mastigar. Enrolávamos a folha dupla em forma de canudo, passávamos um papel comum e mentalizávamos uma boa prova. Alguns espertos colocavam “filas” no meio das folhas e, vez em quando era surpreendido pelo professor.  O papel em forma de estêncil que facilitava a vida do aluno e do mestre só foi aparecer, se não estamos enganados, no Colégio Sagrada Família, atualmente extinto. Mas vamos voltar aos ensinamentos práticos de Alberto, meu Grande na Geografia e na vida.

Assim vamos ainda hoje, longe da sovinice, economizando grampo, papel, palavras ofensivas, orgulho, egoísmo, iras e invejas, esbanjando, porém, amor, caridade, fé, generosidade e setas indicativas do seguimento da existência. Vamos lembrando outros mestres que nos ajudaram a subir a montanha e falar do cimo para o resto do mundo. Vamos levar para o nosso futuro os tesouros acumulados na mente, no coração, no currículo terreno.

Ginásio Santana, escola de vida.

Professor, guia nas trevas com archote perene.

Gratidão: Sentimento impagável na condição humana.

GINÁSIO SANTANA EM 1963 (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230)


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segunda-feira, 18 de julho de 2022

 

ABENÇOADO CACHIMBO

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de julho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.736




Vez em quando aflora em nós, lembranças que não podemos e outras que podemos contar. Foi o caso de lição de futuro e finalmente aprendida.  Em Santana do Ipanema, havia dois garotos que residiam no outro lado do rio (ainda não muito habitado). O local era de uma pobreza extrema chamado Cachimbo Eterno e que inclusive já foi motivo do porquê desse nome nesta página. Tempos de muita fome nas periferias da cidade. Muitos pedintes nas ruas, atrás de comida e de tudo. As duas crianças irmãs, sempre apareciam em nossa casa pedindo comida. Se havia almoço, eles almoçavam sobre a laje de uma cisterna subterrânea que tínhamos. Se ainda não tinha almoço, eles diziam na porta da rua: “Quarquer coisa serve...” Era comovente!

Os anos se passaram e fomos deixando a infância para trás, entrando na responsabilidade adulta da vida. Num piscar de olhos chegou essa tal de terceira idade a quem agradecemos intensamente ao nosso Soberano.  Uma daquelas crianças morreu, a outra foi se desenvolvendo e caiu no gosto de inúmeras pessoas da sociedade que foram ajeitando, lapidando aqui e ali o garoto.  Alguns chegaram ao ponto de – mais como gozação de que ajuda – lançá-lo candidato a vereador. Lógico que não deu em nada. Aquela figura baixinha e simpática, mas não de cabeça completamente no lugar, continuou na sociedade servindo a um e a outro. Aquela criança ainda vive, anda bem vestida e parece esbanjar saúde.

Feliz quem vai vivendo e aprendendo as lições do cotidiano que a vida oferece. É assim que vamos ficando mais rico em espiritualidade e sabedoria.

Pois, em momentos hesitosos com os supérfluos da vida, chegam rapidamente lições que aprendemos ainda naquela infância. E Quando queremos algo que poderia encher a nossa vaidade pessoal e fica difícil a meta desejada, lembramos da lição das crianças do Cachimbo Eterno. Vamos nos conformando com o naco menor que Jesus nos deu: “Quarqué coisa serve...”

Abençoado Cachimbo.

SENHORA DE 110 ANOS, FUMANTE DESDE OS 10. (CRÉDITO: CANAL DO SISAL).


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