quarta-feira, 17 de agosto de 2022

 

EMBOLADA E CARESTIA

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de agosto de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.753

 

As origens do cantador nordestino de viola, são as mesmas do embolador repentista. O cantador canta ao som da viola, o embolador ainda canta com pandeiro, porém, no início era com uma “peneira” e/ou com um ganzá. A peneira é um instrumento musical caseiro feito de palhas secas e duras com pedrinhas dentro. O ganzá é um instrumento musical cilíndrico, feito de zinco e várias pedrinhas no bojo. Essas pedrinhas quando agitadas pelo embolador, asseguram o seu ritmo de cantoria. Muitos emboladores nordestinos, já falecidos, continuam na boca dos apologistas como verdadeiras lendas de todos os tempos. Os nove estados da região Nordeste possuem seus emboladores atuais e os lendários amados pelo povo.

Esses emboladores, bem como os violeiros, eram repentistas em que, cada uma dessas categorias, com estilo diferente, cantava nas feiras e nas festas que havia na zona rural. Os repentistas, violeiros evoluíram mais, estão muito organizados, atualmente. Quanto aos emboladores, não notamos evolução alguma. Continuam cantando nas ruas, nas feiras... Porém migraram do pequeno interior para as cidades grandes. Pululam nos canais das redes sociais e por causa disso, vamos conhecendo todos os emboladores do Nordeste.

 Como a dona-de-casa reclama da carestia geral em Santana do Ipanema desde o início do Século XX, iremos confirmar a pesquisa apresentando um fragmento de estrofe de emboladores, muito antiga, do tempo em que a cidade de Ouro Branco era chamada Chicão ou Olho d’Água do Chicão e a cidade de Maravilha ainda era apontada pelos emboladores analfabetos de Maravia. Além disso, entra na estrofe o sítio santanense Água Fria, que fica perto do rio Ipanema, próximo da zona serrana do município e Poço das Trincheiras, município vizinho. A carestia dos produtos do comércio e das feiras santanenses virou tradição e parece não ter fim. Foi salvo do nosso folclore, como dissemos, esse fragmento dos emboladores de tantas eras atrás. Você pode até não concordar com as afirmações do poeta anônimo, porém, jamais negar a beleza da cadência da estrofe histórica:

 

 

 

Maceió é pra negócio

                                 Santana pra carestia

  Mulher feia só no Poço

Ôi pelado n’Água Fria

Cachaceiro no Chicão

E ladrão na Maravia...

 

CENTRO DE SANTANA DO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 


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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

 

AGOSTO NA BANQUELA

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de agosto de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.752


Diz o nosso povo sertanejo: “Mês miou, mês findou”. Traduzindo a expressão: mês meiou, mês findou, é que ao chegar à metade do mês, o tempo parece correr mais para chegar ao final. Assim atingimos o dia 15 de agosto, mês comprido danado, embora tenha apenas 31 dias. Como previmos ainda em julho, nosso sertão fez frio de lascar, pois as nossas noites com 20, 19 e 18 graus, fez os ossos dançarem por baixo dos lençóis. Não queremos comparar o tempo daqui com o do Sudeste, a nossa realidade é outra e quando a temperatura fica abaixo dos 25 graus já começa a diferença de um tempo normal no Sertão. Com muita chuva (embora mansa) a lavoura se perde pelos campos e, qualquer pedaço de pano velho que se tem em casa, imita casaco de frio sem querer.

Geralmente o dia 15 marca na prática o final de inverno por aqui, quando chuva e frio começam a arrefecer, caracterizando a frase usada pelos mais velhos: “São os últimos tamboeiros (tamoieiros) do inverno”, como dizia o meu sogro, poeta repentista Rafael Paraibano da Costa. E como têm expressões que somente o sertanejo as entendem, não adianta procurar sentidos.  O certo é que nos parece mesmo o final prático do inverno, pois após acontecer três ou quatro dias de Sol (surpresa!) volta o tempo a invernar com o retorno do encurralamento das pessoas em casa.  E se a lavoura, em parte, reclama do excesso de chuva e de frieza, a pecuária agradece com tanto pasto verde, até por cima dos lajeiros, para engordar rebanhos. Bois, carneiros e bodes berram de barriga cheia nas quebradas do Sertão.  

As chuvas na cidade, mesmo finas, companheiro (a) deixam as ruas desertas, param as obras municipais como fica na pausa a reforma da Praça São José, tangem taxistas para abrigos improvisados, Comércio funciona pela metade e o povo que trabalha em casa deixa de engordar passeios de transeuntes. Acena a “caninha” do boteco próximo ou o cafezinho quente de casa para ajudar na resistência à frieza. Assim caminha o mês de agosto. Entre chuva, frio e moleza, é preciso marchar adiante para aguardar a carruagem da próxima estação com seus cavalos de marfim e cargas douradas do envio sacro para a nossa vida.

Não sabemos da irmã, do pai ou do avô, mas a prima-vera já nos acena na próxima esquina.

Mantenha a fé, a fé e a fé.

CLERISVALDO B. CHAGAS EM LANÇAMENTO DE LIVRO (FOTO: ACERVO PESSOAL).

 

 

 

 

 


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