domingo, 23 de outubro de 2022

 

O TEMPO DÁ UM TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de outubro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.788


Desconsiderando o período anterior às ferrovias em Alagoas e os primeiros ramais, chegamos a 1891. A linha de ferro para o vale do Paraíba, bifurcando-se em Lourenço de Albuquerque, foi inaugurada no ano acima, chegando até Viçosa. Nessa fase, as pessoas do Sertão que viajavam até à capital, passavam dias em lombos de cavalos de sela. Os relatos anteriores à linha férrea em Viçosa, estão praticamente fora das informações encontradas no dia a dia estudantil, no que se refere às maratonas que o sertanejo enfrentava para chegar a Maceió. Com a composição chegando até Viçosa, as viagens sertanejas, receberam até um bom alívio, porque os cavaleiros se dirigiam até àquela cidade, onde embarcavam no trem até Maceió.

Somente 21 anos após Viçosa, isto é, em 1912, já no fim do ano, os trilhos chegaram a Quebrangulo, encurtando bastante a jornada dos sertanejos viajantes a cavalo. Passaram a apanharem o trem em Quebrangulo (antiga Vitória). Somente em 1934 (22 anos após), a estrada de ferro desceu dos altos e alcançou Palmeira dos Índios. Com o trem na “Princesa do Agreste”, as viagens cavaleiras não acabaram, mas foram mais encurtadas ainda para o mundo sertanejo. Somente quando os caminhos foram alargados e surgiram as estradas de rodagens, o Sertão se ligou a Palmeira dos Índios com os ainda raros automóveis e caminhões. Para os dias atuais não, mas para à época já era um belo conforto a mais. Os sertanejos chegavam a Palmeira em boleia/carroceria de caminhão ou automóvel no dia anterior à viagem do trem. Dormiam nos hotéis da cidade e ainda na madrugada, desciam para a estação na cidade às escuras. Foi assim que viajaram às cabeças de Lampião e Maria Bonita até à capital.

Depois, com rodagem direta até o litoral, mesmo na poeira, na lama, nos catabius (solavancos na buraqueira) representava uma conquista extraordinária. Essa geração já chegou com o asfalto pronto, Sertão – Maceió e se não sabe nada do passado, até pensa que tudo foi sempre assim.  Porém, mesmo neste início do Século XXI, o Sertão alagoano ainda não pode contar com um único aeroporto. Estagnou na conquista dos transportes.

Fazer o quê?

PALMEIRA DOS ÍNDIOS, VISTA PARCIAL (FOTO: PREFEITURA).

 


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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

 

O SERTÃO E O PORCO

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de outubro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão alagoano

Crônica: 2.787

 


Dificilmente faltava nas fazendas o porco doméstico que era criado em pequeno grupo de 3 a 4 cabeças, em chiqueiro de varas ou alvenaria. Esse porco era criado principalmente, com restos de comida, abóbora e muitas outras coisas extraídas da roça e do mato. Isso era para complementar a renda do agricultor que recebia a visita de quem comprava porco ou levava para a feira, em gradeado ou tangendo, a pé. Sempre encontramos gente que não gostava de criar o animal por causa do mau cheiro, da falta de comida, além da voracidade do bicho; porém, a fedentina não estava no porco, mas sim na imundície das misturas que se formavam no chiqueiro. Havia basicamente duas raças de porcos no Sertão denominadas pelo povo de: baé e do focinho grande. O porco baé, pequeno, arredondado engordava ligeiro e possuía maior valor. O porco de focinho grande, levava o triplo do tempo e era desvalorizado.

Com as experiências genéticas e nutricionais, surgiu há cerca de quarenta anos, o novo porco chamado pelas indústrias de “suíno” e pelo povo do Sertão de “porco galego”. Foi desenvolvido para os grandes criatórios com mais carne e quase sem banha, melhor preço de venda, alimentado somente com ração. O porco doméstico continuou endo chamado de porco e, consequentemente foi desaparecendo. O porco galego, com todo exagero, parece um jumento na altura e é muito comprido. Condições mesmo para criá-lo somente nas granjas milionárias de exportação. Por aqui não conhecemos nenhuma nestas condições, mas dizem que têm granjas fortes de suínos em Traipu e Arapiraca. O caboclo que saiu da roça para a periferia da cidade, trouxe o hábito para um chiqueiro no quintal, já utilizando o suíno, ‘o galego”. Um tormento de fedor para a vizinhança.

Não existe sabor nas águas melhor do que o camarão, bem como não tem em terra nem nos ares, carne mais gostosa do que a de porco. Mas, já havia restrição a ela no Antigo Testamento e mesmo sobre forte pressão muita gente a evita. Já ouvimos um médico dizer a uma senhora cheia de problemas físicos: “se a senhora bem soubesse não comeria carne de porco”. Também ouvimos outro médico falar que até as proteínas do animal não combinam com as proteínas humanas. Nossos antepassados já evitavam carne de porco. Comer ou não comer, eis a questão.  Afinal de contas, nem somos a China e nem a Rússia, medonhas devoradoras do produto.

SUÍNO DE GRANJA OU “PORCO GALEGO”, AINDA NOVO (FOTO: NUTRIÇÃO E SAÚDE ANIMAL.COM.BR).

 


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