terça-feira, 7 de novembro de 2023

 

ALÍPIO, JUSTINO E O IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas,8 de novembro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2. 993



 

Na década de 60, conheci de perto as figuras populares de Alípio e Justino. Acabávamos de sair do auge do Ipanema Atlético Clube, finais dos anos 50. O personagem Alípio, branco, forte, bigode cheio e cabelo escorrido, era nessa época, apenas um bêbado que perambulava pelas ruas, arrastando a perna e procurando lugares para ganhar mais um copo de cachaça. Casado com dona Zefinha engomadeira, possuía dois filhos, Arnaldo e Abelardo. Morava na rua mais pobre de Santana, perto do tão afamado prédio da época chamado prédio da Perfuratriz. Certa feita, no Bar do Maneca, o pobre coitado pediu uma pinga a um cidadão que respondeu só pagaria se ele bebesse o copo cheio. Alípio aceitou e bebeu o copo cheio de cachaça de uma só vez, caiu e se esparramou no chão. E eu, como adolescente, testemunhei a cena de dois loucos.

Justino era um doido barbudo, alto e atlético. Morava defronte onde hoje é a UNEAL, em um caminho que rumava para o açude do Bode. Perambulava pelas ruas de Santana falando só e baixinho. Aperreavam-no e ele ficava possesso. Como estivera internado na capital, os que gostavam de mexer com doidos gritavam para ele o nome Maceió. E eu, nos meus doze anos, tinha muito medo de Justino, podendo me encontrar com ele a qualquer momento, nos corredores solitários da Maniçoba, onde ia sozinho todos os dias buscar o gado a pé, para levá-lo à bebida no rio Ipanema. Ali era passagem diária do maluco.

Ouvia os mais velhos dizerem que Justino e Alípio foram atletas do Ipanema Futebol Clube.  Mas, se foram, não eram da época do auge, pode ter sido de muito antes. Justino enlouquecera e Alípio começara a beber depois de quebrar a perna. Porém, eu nunca entendi porque os dois atletas não tiveram assistência municipal e todos os cuidados com eles para uma vida decente. Por que deixaram ambos os atletas chegarem ao cúmulo da degradação e do escárnio? Eram dois dramas lentos no palco diário das ruas de Santana. Essas páginas fazem parte do livro das amarguras que muitas vezes se tornam invisíveis à chamada sociedade. Justino e Alípio. Heróis santanenses das hurras, das palmas, das homenagens... Na página seguinte, párias, escórias, personagens do submundo.

Dois heróis injustiçados!

 


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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

 

SANTO SUSHI, O RESTAURANTE

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de novembro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica 2.992

 



Convidado para o reencontro de uma turma do Colégio Estadual, fui ver a prévia de perto. A turma não era minha, pois nunca fui aluno no Estadual, mas sim do mano Ivan Braga das Chagas, cujos componentes da época hoje estão na faixa entre 60 e 70 anos. Indaguei onde iria ser esse tão importante encontro e me apontaram o “Restaurante Santo Sushi”, no Bairro Domingos Acácio. Sobre o local foi dito sem que eu perguntasse: “Além do prato japonês, o restaurante oferece grande variedade da culinária sertaneja. Excelente atendimento, música ao vivo e banheiros higienizados de 30 em 30 minutos e com música vazadas para você não perder o lance. Um luxo com ótimos preços!”  Nesse caso me balancei para conhecer o ambiente, novo “point” da cidade. Segundo os convidados.

Toda a família marcou presença no “Restaurante Santo Sushi”. De fato, todas as maravilhas dos comentários eram verdade e assim ficamos por ali das 20 horas à meia-noite. Quatro horas de lazer em que nem víamos o tempo passar. Entre conversas das mais enxeridas, gargalhadas e música boa, a noite ia passando. Ainda tivemos o privilégio da presença do proprietário em nossa mesa: Cleber Chagas, que favava animado sobre o seu empreendimento. Contos orais da terra provocavam risos. E como surpresa da casa, chegou até nós a novidade de uma espécie de “drink” espumante chamado “Shot Santo Sushi”. A base de gengibre com pitada de Rum, que por mim foi eleito como a coroa da noite. Tudo isso na sexta, cujo encontro massivo seria no dia seguinte. Não demonstrei vontade em participar no sábado, mas desejei felicidades e êxitos aos 11 remanescentes da turma de 32 alunos, segundo me contaram.

A pessoa que bebeu e não bebe mais, sequer refrigerante, fica meio inibida no entorno dos que amam uma cervejinha gelada ou uma bebida quente daquela de revirar os olhos. Mas também tem a vantagem da sobriedade para apreciar o comportamento alheio e os detalhes do ambiente. Ninguém morre por apenas beber água.

O importante mesmo é que Santana do Ipanema ganhou um restaurante de alta qualidade, saindo da mesmice do Comércio e brilhando em direção às faldas do serrote do Cruzeiro!

Parabéns muitas vezes, senhor Cleber, por trazer um novo brilho

para a “Rainha do Sertão”.

REATAURANTE SANTO SUSHI (DIVULGAÇÃO)

 


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