quarta-feira, 16 de outubro de 2024

 

CURRIÃO/BURINHANHÉM/TANGERINO

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.129



 

Você sabe o que é um currião? Você imagina o que seja um burinhanhém? Ê cabra velho, só o autêntico sertanejo ou um grande apreciador do Sertão anota no papel ou na cabeça os diversos nomes, frases e costumes do nosso semiárido alagoano. E por falar em frases, “Mês miou, mês findou”, diz o homem-raiz da zona rural. Mas o mês não é gato e nem vai miar, porém, traduzindo o babado, o mês meou, isto é, chegou ao dia 15 e parece passar rápido o tempo do dia 15 até o fim do mês. Mas, voltemos às palavras do título desta crônica, que fala do exímio trabalho do artesão nordestino do couro.  Currião é o relho do carreiro, condutor do carro de boi. É feito de várias peças de couro cru que se tornam uma só e com cabo de madeira. Serve para o carreiro açoitar os bois de carro. É conduzido no ombro do carreiro, pendurado ao longo das suas costas.

O burinhanhém também é obra do artesanato do couro. É um relho de couro cru, usado pelos tropeiros – condutores de tropas de burros – e que em nosso Sertão eram mais conhecidos como almocreves. O burinhanhém é um relho maior do que o do carreiro e possui um cabo de madeira longo e roliço que vai afinando até a extremidade. Mas vamos a outra palavra do mundo mágico sertanejo: Tangerino. Não, não é o macho da fruta tangerina. É um tangedor de gado bovino. Geralmente o boiadeiro comprava uma boiada e, o tangerino ia levá-la ao seu destino tangendo-a pelas estradas, a pé ou montado em burro ou cavalo. Currião, burinhanhém e tangerino fazem parte, portanto do nosso dicionário alagoano e nordestino.

E se o Sertão é um planeta mágico, possui outros mundos mágicos dentro do próprio fantástico. O mundo dos vaqueiros, o mundo dos carreiros, o mundo dos repentistas, o mundo dos boiadeiros, dos tangedores e outros mais particularizados no global sertanejo que, quando um de nós pesquisadores, penetra em no deles, não consegue mais sair, impregnado de tanta paixão pelo aprendizado. Nesse momento mesmo seria uma reportagem e tanta registrar os passos do homem da roça com as dificuldades da transição entre estações mais fáceis e as mais difíceis. O aprendizado é um tesouro infinito para quem sabe procurá-lo com respeito, admiração e amor.

Orgulho em ser nordestino, sertanejo alagoano!!!

BRUINHANHÉM.

 

 

 

 


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terça-feira, 15 de outubro de 2024

 

O MURRO DO HOMEM

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 128

 



Vou contar de novo. Cícero de Otacílio era marchante igual ao seu pai Otacílio, em Santana do Ipanema.  Otacílio era ex-volante, participara da morte de Lampião e Maria Bonita, na fazenda Angicos, Sergipe em 1938. E falava entre outras coisas como morrera o cangaceiro Elétrico. Otacílio em Santana, como ia dizendo, era marchante e, o matadouro da cidade levava o nome dele como homenagem ao destemido policial. Pois bem, entre os seus filhos um deles também virou marchante. Era forte, no Mercado de Carne, transportava nas costas um boi inteiro. Dizem que certa vez o homem matara um boi com um murro. O marchante Cícero de Otacílio faleceu vítima de acidente de trânsito no lugar Largo do Maracanã ponto mais perigoso de Santana.

Difícil é contabilizar o número de acidentes do Largo do Maracanã, lugar central do Bairro Camoxinga, ponto divergente e convergente de 5 ruas e a BR-316.

Mas, voltemos à vida do homem. Forte, alegra, comunicativo e simpático, Cícero se dava bem com todo mundo. Cícero passou a namorar com uma senhorita da Rua Nova, minha ex-colega de Ginásio Santana, Socorro. Foi quando chegou um sujeito de Maceió e, passeando pelo Comércio, viu passar a senhorita e ficou impressionado. Então, indagou ao seu hospedeiro amigo: “Rapaz, quem é aquela moça tão bonita? Estou interessado nela”. O amigo, respondeu com toda naturalidade: “Aquela senhorita é a noiva de um rapaz aqui da cidade que mata um boi de um murro”. O assunto morreu ali. O sujeito frouxo desocupou o Comércio de Santana e embarcou de volta a Maceió, no primeiro pinga-pinga que apareceu.

E você, cabra véi!

Enfrentaria um homem que mata um boi de um murro?

MATADOURO PÚBLICO

 


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