terça-feira, 10 de julho de 2012

O MEU TIRADENTES


O MEU TIRADENTES
Clerisvaldo B. Chagas, 11de julho de 2012.
Crônica Nº 817

Oscar, último de pé à esquerda - cabeça de "Pontaria"
Escritor Oscar Silva
“A não ser, porém, as histórias e estórias, o que mais me interessava de Seu Araújo era vê-lo fazendo coronhas de espingardas repletas de xilogravuras. Perdia minutos e minutos, os livros debaixo do braço, olhando aqueles desenhos e aquelas caras que iam ficando em cada coronha. E, somente quando ele próprio me advertia com sua severidade, é que o deixava e seguia para a escola”.
Estamos dentro dos vinte e dois anos da 2º edição de “Fruta de Palma (crônicas sertanejas)” do meu escritor santanense predileto, Oscar Silva. Revendo as saborosas crônicas de Oscar (20), vejo a apresentação de L. Lavenere (Gazeta de Alagoas), o prefácio de Tadeu Rocha (Delmiro, o pioneiro de Paulo Afonso), e citações de pessoas como Câmara Cascudo, Rubem Braga e outros. Tive a honra de constar nas páginas das homenagens e reler o livro mais uma das inúmeras vezes (coisa rara de acontecer). E “Fruta de Palma” puxa pelo seu romance “Água do Panema” (não confundir com o nosso, “Ribeira do Panema”). (Foto acima, volante do sargento Aniceto).
Sargento da elite do 2º Batalhão de Polícia, para combater cangaceiros, Oscar colabora em muito com os nossos livros inéditos “Lampião em Alagoas” e “O boi, a bota e a batina; história completa de Santana do Ipanema”. Eu nem era nascido e o homem já era sargento de Zé Lucena. Morava com a avó defronte a casa de meu pai, à Rua Antônio Tavares. Vim conhecer o meu herói que, fugindo às garras da fome, tornou-se sargento, correspondente de jornal, testemunha da cabeça de Virgolino e de outros cangaceiros e expedicionário do sepultamento do corpo do bandido: “Eu vi os pedaços de Lampião”, já perto do fim. Oscar venceu na vida tornando-se sargento e depois Coletor Federal, encerrando seus dias na cidade de Toledo. O título desta crônica pertence a ele, bem como o trecho frisado que fala sobre Seu Araújo, um ferreiro santanense querido do povo e que nas horas da necessidade também fazia o papel de dentista. Da página 53 à página 56, o escritor descreve o ferreiro, dentista e contador de estórias, acusando sua morte com esse belíssimo final literário:
“O “33” formou todo alinhado e marchou para o cemitério. Os fuzis “Mauser 1895” encandeavam como espelhos com o sol do sertão. O Brigada Ribeiro puxou da espada e comandou:
─ Para funeral, preparar!... Carregar!... Apontar!... Fogo!
Os homens do Tiro de Guerra pegaram o caixão de Seu Araújo, coberto com o Pavilhão Nacional, e jogaram-no dentro da cova. Teotônia e Afonsina soluçavam em pranto. Algumas pessoas espremiam os olhos. E eu dizia comigo mesmo:
─ Lá morreu meu “Tiradentes!”
O homem era alferes da Guarda Nacional.
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CASA DE URTIGA DE SEU CARRITO


CASA DE URTIGA DE SEU CARRITO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de julho de 2012.
Crônica Nº 816

Urtiga, planta braba da Caatinga (Wikipédia)
Quando andávamos pela caatinga, principalmente na adolescência, em caçadas de rolinhas com petecas ou espingarda soca-tempero, tínhamos bastante cuidado com a urtiga. A urtiga é uma planta que coça muito e é originária da Europa e Ásia. É utilizada pelo homem desde a era do bronze para vestuário e depois papel. Suas fibras são muito resistentes; basta dizer que o uniforme de soldados alemães, na guerra, era feito de fibra de urtiga. Existem algumas espécies, entre ela a Urtica dioica. Suas propriedades medicinais são tantas que não cabem apenas em uma página comum, não objetivo deste atual trabalho. Todos os caçadores, vaqueiros e qualquer pessoa sertaneja, temem essa planta danada que queima, deixa vermelha e em calombos a parte atingida da pessoa, numa coceira da gota serena! Na minha rua, em Santana do Ipanema, Alagoas, um pequeno comerciante fazia um tipo de diversão usando a urtiga, formando uma casinha baixa, com entrada e interior recheado de pequenos presentes como lata de doce, cigarro, dinheiro... Quem se habilitasse a entrar de quatro pés e sem camisa naquela casinha, ganharia os prêmios. Chovia de morador para apreciar a brincadeira em que adolescentes pobres eram os maiores voluntários. De vez em quando um adulto, fremido pela miséria também entrava na casa de urtiga do comerciante Carrito. Além da recompensa, calombos, vermelhão e coceira braba, o ganhador ainda era recompensado com um litro de álcool para amenizar as cicatrizes de guerra.
Quando o homem de bem não quer entrar na política, os cabras safados tomam conta”, li a frase quando rapazinho no romance “Curral Novo”, do saudoso escritor Adalberon Cavalcanti Lins. O que valia para o romance da época ainda vale para hoje, principalmente quando contemplamos pela Imprensa, os escândalos descobertos e mostrados constantemente para vergonha de nós, os brasileiros. E se existem tantos assaltantes nos bancos, nas casas comerciais, nas ruas... É como diz Boris Casoy, o exemplo já vem de cima. Se houvesse um basta em todas as nefastas, imundas, abjetas mordomias de nossos parlamentares, já seria um grande passo para a seriedade deste país. O que esses bonecos ganham sozinhos daria de sobra para pagar a multidão que faz greve mendigando um pouco mais do minguado salário. Enquanto não houver moralização nesse setor, a corrupção não desce do poleiro no país dos Cachoeiras. Acontece que entra eleição e sai eleição e, quando não surgem as mesmas caras, são os filhos, os netos, os pestes dos mesmos troncos. O povo brasileiro, principalmente no Nordeste, vive esse drama tão difícil de acabar. Os carrascos do poder continuam com um relho de couro cru, arrebanhando o povo marcado, para introduzi-lo sem dó na CASA DE URTIGA DE SEU CARRITO.  


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