O MEU TIRADENTES
Clerisvaldo B. Chagas, 11de julho de 2012.
Crônica Nº 817
Oscar, último de pé à esquerda - cabeça de "Pontaria" |
Escritor Oscar Silva |
“A não
ser, porém, as histórias e estórias, o que mais me interessava de Seu Araújo
era vê-lo fazendo coronhas de espingardas repletas de xilogravuras. Perdia
minutos e minutos, os livros debaixo do braço, olhando aqueles desenhos e
aquelas caras que iam ficando em cada coronha. E, somente quando ele próprio me
advertia com sua severidade, é que o deixava e seguia para a escola”.
Estamos dentro dos vinte e
dois anos da 2º edição de “Fruta de Palma
(crônicas sertanejas)” do meu
escritor santanense predileto, Oscar Silva. Revendo as saborosas crônicas de
Oscar (20), vejo a apresentação de L. Lavenere (Gazeta de Alagoas), o prefácio
de Tadeu Rocha (Delmiro, o pioneiro de
Paulo Afonso), e citações de pessoas
como Câmara Cascudo, Rubem Braga e outros. Tive a honra de constar nas páginas
das homenagens e reler o livro mais uma das inúmeras vezes (coisa rara de
acontecer). E “Fruta de Palma” puxa
pelo seu romance “Água do Panema” (não
confundir com o nosso, “Ribeira do
Panema”). (Foto acima, volante do sargento Aniceto).
Sargento da elite do 2º Batalhão de Polícia,
para combater cangaceiros, Oscar colabora em muito com os nossos livros
inéditos “Lampião em Alagoas” e “O boi, a bota e a batina; história completa
de Santana do Ipanema”. Eu nem era nascido e o homem já era sargento de Zé
Lucena. Morava com a avó defronte a casa de meu pai, à Rua Antônio Tavares. Vim
conhecer o meu herói que, fugindo às garras da fome, tornou-se sargento,
correspondente de jornal, testemunha da cabeça de Virgolino e de outros
cangaceiros e expedicionário do sepultamento do corpo do bandido: “Eu vi os pedaços de Lampião”, já perto
do fim. Oscar venceu na vida tornando-se
sargento e depois Coletor Federal, encerrando seus dias na cidade de Toledo. O
título desta crônica pertence a ele, bem como o trecho frisado que fala sobre
Seu Araújo, um ferreiro santanense querido do povo e que nas horas da
necessidade também fazia o papel de dentista. Da página 53 à página 56, o
escritor descreve o ferreiro, dentista e contador de estórias, acusando sua
morte com esse belíssimo final literário:
“O “33” formou todo
alinhado e marchou para o cemitério. Os fuzis “Mauser 1895” encandeavam como
espelhos com o sol do sertão. O Brigada Ribeiro puxou da espada e comandou:
─ Para funeral,
preparar!... Carregar!... Apontar!... Fogo!
Os homens do Tiro de
Guerra pegaram o caixão de Seu Araújo, coberto com o Pavilhão Nacional, e
jogaram-no dentro da cova. Teotônia e Afonsina soluçavam em pranto. Algumas
pessoas espremiam os olhos. E eu dizia comigo mesmo:
─ Lá morreu meu
“Tiradentes!”
O homem era alferes
da Guarda Nacional.
.
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