ENFEITANDO O MARACÁ (Clerisvaldo B. Chagas, 15 de setembro de 2010)      Com o assassinato do jornalista Líbero Badaró, em 1830, a política...

ENFEITANDO O MARACÁ

ENFEITANDO O MARACÁ
(Clerisvaldo B. Chagas, 15 de setembro de 2010)
     Com o assassinato do jornalista Líbero Badaró, em 1830, a política do país pegou fogo, principalmente em São Paulo. Entre as disputas acirradas de governistas e oposicionistas, ainda havia as questões de prestígios e posicionamento de portugueses no Brasil e brasileiros. Os ricos oposicionistas souberam usar com eficiência as classes populares como instrumentos de pressão, provocando a renúncia do imperador D. Pedro I, em 7 de abril de 1831. Quando D. Pedro deixou o país, as classes ricas assumiram o poder e logo trataram de afastar os representantes das classes populares. Com esse movimento planejado das classes ricas de oposição ao imperador, um líder mineiro liberal chamado Teófilo Ottoni, fez um pronunciamento. Disse ele que o dia 7 de abril teria sido o dia dos enganados. A luta do povo havia servido apenas para levar os ricos ao poder. Sendo mais explícito, o povo serviu apenas de massa de manobra para as elites.
     Na época da abdicação do imperador D. Pedro I, vamos encontrar Alagoas já na condição de província independente de Pernambuco. Particularmente no Sertão, Santana ainda era povoado e tinha o nome de Sant’Anna da Ribeira do Panema. Também naquele momento, um dos dois fundadores de Santana, padre Francisco José Correia de Albuquerque, fazia parte do Conselho Geral da Província. O povoado só veio a mudar de nome, cinco anos após a abdicação do imperador, passando por lei a condição de povoado freguesia, 1836, com a nova denominação de Sant’Anna do Panema.
     Passados os cento e setenta e nove anos da abdicação de Pedro e do pronunciamento de Badaró, encontramos na propaganda política atual, a mesma tática usada pelos oposicionistas do império. Cada facção elitista, tentando desesperadamente ganhar ou continuar no poder através de duas coisas somadas. Utilizar o povo como massa de manobra para repelir os ferrenhos adversários. Uma vez no poder, o afastamento total do proletariado. E para garantir a eficácia da propaganda, por via das dúvidas, entra em cena o dom cativante do dinheiro público. De uma maneira ou de outra, o pobre estar roubado. Só as elites dispõem da máquina de fazer governos. Quando a regra geral é quebrada, caracteriza-se a exceção. Por tudo isso, vemos que os políticos do século XXI não inventaram a roda. Pelo contrário, nela se mantêm equilibrados com a bagagem quase bicentenária de aprendizado. Existe uma diferença que pode ser notada. É que antes a briga era só pelo poder, agora é também pelo vil metal que seduz muito mais de que a mais bela e sensual das mulheres. A maciez e o aroma dos papéis diferentes, sua persuasão no meio social, induzem as mais diferentes loucuras que degradam e escravizam o homem. Mas quem quer saber disso, companheiro? O amanhã é depois. Certamente eles não sabem, mas depois do amanhã, estarão de volta para a mesma tentação de hoje. Quanto aos planos de ludibriar as massas e semear o “cacau”, passo a palavra a uma velha raposa do ramo: “É assim que vamos ENFEITANDO O MARACÁ”.

EMPRESTAR LIVROS (Clerisvaldo B. Chagas, 14 de setembro de 2010)      Uma coisa prazerosa é emprestar livros. É prazerosa porque estamos aju...

EMPRESTAR LIVROS

EMPRESTAR LIVROS
(Clerisvaldo B. Chagas, 14 de setembro de 2010)
     Uma coisa prazerosa é emprestar livros. É prazerosa porque estamos ajudando a divulgar conhecimentos, educando, conduzindo o outro para caminhos novos e benfazejos. Da mesma maneira, amigos nos emprestam livros e vamos trocando impressões daquele tema que por certo puxam outros, formando um relacionamento sadio e elevado. Quanto custa um bom livro? Um bom livro não tem preço. Uma fonte de divertimento, sabedoria que acalma, faz refletir e incentiva ao bem, de fato não tem preço. Lembro que muitas vezes enchi a mala do meu carro de livros para fazer doações. Servi tanto a coletividades urbanas quanto rurais com muitos livros de diversos títulos. Lembro até que uma aluna me convidou para ir a sua casa me mostrar um amplo espaço onde morava, porém, de uma pobreza extrema. A sua intenção, contudo, era fundar uma biblioteca ali para servir aos estudantes da sua rua. Deixei muitos livros também em sua residência. E o que não se faz por um bom livro? Durante a organização de uma biblioteca em certa escola, chegou um livro velho cujo dono o tinha jogado ao lixo. A esposa trouxera junto com outros para formar a biblioteca. Descobrindo o seu valor antes do cadastro, propus e foi aceita a oferta de vinte livros em troca daquele único. Assim fiquei com o livro raro “Água do Panema”, romance do escritor santanense Oscar Silva.
     Nessa movimentação cultural e salutar, sempre existem também aqueles que cultivam hábitos não recomendáveis. Levar e não devolver o empréstimo. A boa vontade de quem empresta até um simples livreto é tanta que nem sequer fica anotado. Pois o elemento leva o livro e esquece-se de devolver. Perdi muitos assim, verdadeiras preciosidades que desfalcaram a minha estante. (Água do Panema foi um deles). Existe também aquele que gosta tanto do livro que quando você lembra e cobra, ele inventa que perdeu e oferece outro diferente como indenização. O dono das coleções vai ficando mais esperto com esse tipo de favor sem responsabilidade. É certo que é uma coisa, aparentemente insignificante, mas quem tem seus compêndios é como se tivesse ouro. Todos merecem a leitura, mas levar e não trazer de volta faz cismar o dono das relíquias. Certa feita, durante o recreio em determinada escola, fiz inocentemente a propaganda de um livro que ninguém sabia que valia alguma coisa. Estava lá ocupando um lugarzinho esquecido na estante. No dia seguinte, fui procurá-lo novamente para mostrá-lo a meus alunos. O volume havia sido descaradamente roubado. Suspeito havia, mas como provar? “Geografia da Fome”, de Josué de Castro, deve estar até hoje como troféu desse alguém que nunca teve princípios. Entre os chamados pelo povo de adágio, ditado, máxima, dito, provérbio, frase feita, sabedoria popular e outras denominações, estão os versos:

“Quem empresta
Não presta
Triste do livro
Que se empresta”.

Você estar vendo, nobre leitor (a), que a estrofe não é nenhuma excelência, mas a sabedoria popular quase sempre transborda verdade. E aproveitando o ditado da hora, é muito complicado EMPRESTAR LIVROS.

MOÇA-BRANCA (Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2010)      No tempo do coronelismo, a força predominante era a da Guarda Nacional, cr...

MOÇA-BRANCA

MOÇA-BRANCA
(Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2010)
     No tempo do coronelismo, a força predominante era a da Guarda Nacional, criada pelo desespero e sede de poder do padre Diogo Feijó. Desconfiado das Forças Armadas, Diogo organizou suas próprias forças em todo território nacional, sendo no Nordeste com os fazendeiros e suas cabroeiras. Em tempos de eleições, raras vezes o candidato governista perdia. Os fazendeiros mandavam seus capangas piquetar às estradas e só passavam eleitores da situação, imediatamente identificados. Resistir significava apanhar ou virar defunto no retorno a casa. Após essa fase maior da truculência, o bacamarte foi substituído pela outra face do coronel que era a da simpatia envernizada. Ao invés da presença ostensiva da carabina, os donos do “gado” resolviam agradar o eleitor com presentes e almoço ou na casa-grande ou em casas de amigos nas vilas e cidades. O prestígio do coronel era traduzido em número de bois abatidos, fato que virava festa onde o matuto comia até tinir a barriga. Para as mulheres, os coronéis chegavam com vestidos, calçados e sombrinhas. Os homens ganhavam chapéu, botinas e, às vezes, liforme completo. Com o controle flexível sobre os votos, por parte dos mandantes, o eleitor pelintra comia e arranjava mais presentes nas casas de outros candidatos. A prática de fornecer alimentos e presentes aos eleitores também acabou sendo proibida por lei. Essa lei, entretanto, não foi cumprida imediatamente. A multidão que se formava defronte a residência indicativa do cheiro de boi na panela, ainda levou certo tempo para se acostumar. Os coronéis que já haviam usado os dois métodos de conquista partiram, então, para o terceiro modo, o que perdura até os tempos presentes: dinheiro vivo na mão. Até os últimos dias das urnas convencionais, um ditado ainda vagava nos lábios dos eleitores mais antigos, partidários eternos da situação: “Governo é governo”.
    A prática da compra de votos com dinheiro vivo é, sem dúvida, a mais eficaz, mesmo subtraindo os calotes levados pelos compradores. Essa terceira experiência foi dividida em duas partes. Na primeira, o ato da compra era realizado às escondidas e amparado pelas sombras das madrugadas. Agora, na segunda parte, tudo é feito às claras, em qualquer lugar, a qualquer hora. A pobreza e muitos cabras de peia recebem no mercado de carne, na feira das galinhas, nos pontos de carroças... E o que não falta no presente é testemunha. Quando um distribui de cinquenta, outro distribui de cem. E quando as autoridades são coniventes, dizem, recebem de maços. Esses costumes estão arraigados nas cidades, vilas, povoados e sítios do interior do Nordeste. Mas falam que também acontecem nas capitais e mesmo nos grandes centros de São Paulo e do Rio de Janeiro. Vai surgindo assim um novo tipo de democracia, material farto para os sociólogos e suas teses nacionais. Finalmente, cada freguês vai fazendo os cálculos da sua botada nos candidatos. Para a mãe cheia de filhos pequenos, a azuladinha dá para o leite da semana; fazer o quê! E para a felicidade do “pé na cova” da esquina (que também se diz filho de Deus) serve para deferir pelo menos cinquenta tubões balanceados, cheirosos e amaciantes da tão famigerada MOÇA-BRANCA.