A HORA DO JEGUE Clerisvaldo B. Chagas, 2 de janeiro de 2014 Crônica Nº 1.337 Como escrevi outras vezes sobre a extinção dos b...

A HORA DO JEGUE



A HORA DO JEGUE
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de janeiro de 2014
Crônica Nº 1.337

Como escrevi outras vezes sobre a extinção dos barbeiros e posterior resgate da profissão, falei também dos alfaiates e outros profissionais que havia no interior como o flandreleiro (funileiro) o botador d’água, o ferreiro, o fotógrafo lambe-lambe e o retelhador de casas. Agora precisei de um relojoeiro para colocar pilha no relógio e nada de relojeiro na cidade. Relojoeiro aqui no sentido de consertador de relógios que não conseguiu evoluir na profissão e foi desaparecendo como os outros citados acima. Lembro também dos específicos ambulantes que vendiam anéis, alianças e cordões de ouro em dia de feira, os quais chamávamos de ourives. Sumiram. Sumiram de uma vez do sertão alagoano. O vendedor de folhetos de cordel acompanhou a onda dos desaparecidos. E se gente não é lixo para se reciclar, a verdade é que esses profissionais, não sabendo como lidar com o modernismo, zarparam como fizeram os consertadores de rádio e televisão.
Marceneiro de consertos, também não se encontra mais, agora só os chamados moveleiros, graças a cursos que surgiram, proliferam bem. Sapateiros de consertos, nem adianta procurá-los. Consertador de fogão e o nômade amolador... Zero. E assim o progresso foi engolindo tudo. Não se tem mais opção de se consertar nada nessa imitação de país de primeiro mundo. Quebrou, jogou fora e compra o novo. Não tem mais jeito.
E voltando à pilha no relógio, tenho notícia que apenas duas casas comerciais podem fazer esse serviço para você. Isso porque seus proprietários já foram relojoeiros.
Ah bom! Quem continua fiel mesmo é o velho jumento milenar que marca o meio-dia com a sombra sob o dorso e a emissão do zurrar para quem precisa de hora. E ainda tem um coisa no rio Grande do Norte que quer matar jumento!
Ano Novo, jegue velho, marca “sertanejo”, com garantia de vida inteira, sem precisar colocar pilha nova. FELIZ ANO NOVO! Viva o jegue! O ÚNICO QUE NÃO PRECISA PROCON.

DENTRO DO NÓS Clerisvaldo B. Chagas, 1º de janeiro de 2015 Crônica Nº 1.336. Samba, frevo, sertanejo e forró tomaram conta do...

DENTRO DE NÓS



DENTRO DO NÓS
Clerisvaldo B. Chagas, 1º de janeiro de 2015
Crônica Nº 1.336.

Samba, frevo, sertanejo e forró tomaram conta do Brasil, na última noite numa alegria contagiante crescente. Se pessimismo não leva a nada, o otimismo, pelo menos, carrega a esperança na proa. Todos esperam um passe de mágica na virada do ano como se tudo fosse ficar novo mesmo, numa expectativa pueril.  A casa, o carro, as ruas, o mar, o céu, as árvores, a atmosfera, tudo, tudo, merece uma transformação abracadabra de outro planeta.
Passada a ressaca do pula-pula, aos poucos a rotina de ano velho vai chegando novamente, revelando a ilusão do tempo criado  pelo homem. As contas, as desavenças familiares, o aumento de preços, o enfrentamento do trânsito, a violência integrada à rotina, reaparecem como fantasmas assustadores. Mas, pelo menos dentro do peito, nasce o sentimento de nova oportunidade e acerto nos passos do ano que se inicia. E como a esperança em ganhar a sena, acumula-se também um sentimento de que Deus vai se lembrar de nós em 2015, pelo menos naquelas coisas pequeninas que tanto nos espezinham.
No espaço brasileiro desejamos que as nuvens de bonança aproximem-se do país, trazendo otimismo, trabalho, progresso e mais distribuição de renda para nos tornarmos gigantes e pujantes no cenário mundial, dobrando a alegria brasileira de ser. Afinal, o que seria de nós se não houvesse essa pausa de reflexão, de sonhos e de verdade que marcam uma etapa matemática? Vamos seguindo em frente com os olhos no horizonte, com se a mágica tivesse de fato sido feita. E se dentro de nós mesmos, conseguirmos mudar para melhor, o milagre do ano terá sido realizado e a convicção se afirma como um ano novo verdadeiro.
Bom dia amigo, Feliz Ano Novo, grita a nossa garganta, para o passante, para o taxista, para o vigia, o padeiro, o gari... Na verdade o ano novo está dentro e não fora de nós.

A PRÓXIMA FIGURINHA Clerisvaldo B. Chagas, 31 de dezembro de 2014 Crônica Nº 1.335 Foto: (guiadealagoas.blogspot.com) Dona ...

A PRÓXIMA FIGURINHA



A PRÓXIMA FIGURINHA
Clerisvaldo B. Chagas, 31 de dezembro de 2014
Crônica Nº 1.335

Foto: (guiadealagoas.blogspot.com)
Dona Maria, gente boa, esposa do alfaiate mais antigo que conheci na minha terra, Seu Quinca, morava bem perto da antiga Travessa Antônio Tavares. À esquerda da entrada, ficavam os manequins e balcão usados pelo calado profissional. Usava chapéu de pano à moda francesa. Sua esposa, Dona Maria, procurava melhorar a renda vendendo revistas, aguardadas semanalmente com ansiedade pelos leitores e leitoras da praça. Revistas de notícias como O Cruzeiro, e outras de novelas como Idílio, Capricho, Contigo e mais gibis como Bolinha, Luluzinha, O Fantasma, Tarzan e várias outras, deixavam a casa de Dona Maria de Seu Quinca sempre visitada e cheirosa de papel novo e tinta impressa.
Houve tempo em que vinham também figurinhas de jogadores, dentro de pequenas embalagens de confeito, coisa chamada lá no Sudeste de bala doce. Comprávamos as balas e saíamos trocando com outros meninos as duplicatas. As figurinhas formavam times completos de futebol: América, Vasco, Olaria, Piracicaba, Bangu, Palmeiras, Flamengo e outros, até formar o álbum único com todos os jogadores.  O atleta mais difícil de encontrar era Ademir, do Vasco, o maior da época. A moda que pegou entre a rapaziada era muito forte. Havia gente trocando figurinhas na cidade, em todos os bairros.
A maior expectativa era a da hora de abrir a embalagem da bala. Todos queriam jogadores raros. Havia, contudo, elementos que saíam direto, chegam enjoava. Penso que os piores. Como era grande a satisfação de encontrar um jogador de excelente qualidade! Coisa rara e gratificante.
Assim ocorre com os nossos dirigentes estaduais e mesmo municipais. No estado de Alagoas temos uma fileira dos péssimos que vêm desde o após excelente Guilherme Palmeira. Meu pai, homem simples e sábio, dizia que “bom administrador, é como cavalo bom, longe um do outro”. E após o governo Guilherme Palmeira só passa pelo palácio cavalo chotão.
Nesse último dia do usineiro zero à esquerda, é acompanhado do já vai tarde! Nova bala doce na mão, o alagoano pergunta aos céus quem será o próximo jogador. Um novo Ademir ou o último da fila...? Isto é, um novo Guilherme ou outro péssimo da matemática. Amanhã, abriremos a figurinha.