MÊS DE AGOSTO Clerisvaldo B. Chagas, 08 de agosto de 2016 Crônica 1.556 À memória de meu pai Ilustração (aquietrenosblog.) ...

MÊS DE AGOSTO


MÊS DE AGOSTO
Clerisvaldo B. Chagas, 08 de agosto de 2016
Crônica 1.556
À memória de meu pai

Ilustração (aquietrenosblog.)
Agosto vai furando o tempo com sinuosidades e superstições.  Mês dos cachorros doidos, da pesca ruim, das tragédias políticas e dos desgostos. Cada um com suas convicções guardadas repletas de experiência. No Sertão, vão-se as últimas “tamboeiras” de um inverno triste, cansado, extenuado. Um verde pálido que refresca os olhos, mas destempera a alma. Na capital, nuvens passageiras que derramam valsas nas manhãs indecisas. E os sonhos persistem entre edifícios, vielas e colinas. Montados nas selas de agosto, poetas correm no prado entre turquesas e esmeraldas. E os ares de mar se alevantam e se bandeiam rumo aos agrestes, às matas, aos sertões. Perscrutando os rumos, carcarás sobrevoam os quipás, alastrados, facheiros e mandacarus. Rumo norte, rumo sul, folhas secas cabriolam, sopradas, empurradas, degustadas pela brisa vespertina. Na bucólica paisagem sertaneja, risca os ares o som irritante e vitorioso de gemidos. Gemidos de cocões arrochados de carro de boi.
Na folhagem escura do juazeiro, soluça a fogo-pagou. Ergue-se o mocó em duas patas farejando os arredores. E pelas quebradas... Ah! Pelas quebradas balança as galhas das faveleiras com o aboio tristonho do vaqueiro. Calam-se aves e pássaros a ouvir os lamentos do encourado. O céu muda constantemente os cenários sobre vales e serranias. Pasta feliz o gado na beira do açude indiferente às previsões do mês. No final do cercado, lá no final do cercado, na matinha de angico e catingueira murmura um riacho cristalino louvando à fonte.
A mão de Deus também afaga com a mesma meiguice, meu pai, o mês em que nascestes e dele sentia orgulho. É o próprio homem quem estigmatiza o dia, o mês, o ano.

Parabéns Manoel Celestino das Chagas, estejas onde estiverdes, pois a outra dimensão também deve ter o seu mês de agosto.  

NA LUTA GEOGRÁFICA Clerisvaldo B. Chagas, 06 de agosto de 2016 Crônica 1.555 FEIRA ORGÂNICA EM MACEIÓ. Foto: (Clerisvaldo B, Chaga...

NA LUTA GEOGRÁFICA

NA LUTA GEOGRÁFICA
Clerisvaldo B. Chagas, 06 de agosto de 2016
Crônica 1.555

FEIRA ORGÂNICA EM MACEIÓ. Foto: (Clerisvaldo B, Chagas).
Numa luta silenciosa e solitária, continuamos a trilhar o mundo encantado da Geografia. Ontem foi a vez dos tradicionais mirantes de São Gonçalo e de Santa Teresinha, onde o deslumbrante cenário maceioense cabe no bolso. Depois, uma visita à Feira da Agricultura Orgânica, no pátio da Secretaria da Agricultura. Convite para se chegar até Branquinha e União dos Palmares, o que será feito em breve. Entre o computador e o campo, uma visita bem proveitosa à Mata Atlântica de encosta e um pulo anunciado ao riacho Catolé, já no município de Satuba, em área ambiental protegida até Fernão Velho.
A poluição e o desmatamento não escapam em lugar nenhum. A falta de consciência ou o desrespeito do povo faz-nos encontrar lixo doméstico nos mais imaculados lugares. O cuidado com o meio em que vivemos, ainda está longe do que sonhamos. Usando todo tipo de transporte, menos o trem, ainda, tiramos lições nos próprios coletivos. Uma senhora de idade que viajava ao meu lado, pelo celular avisava à família que estava com muitas dores. Depois puxou uma bala que notei pelo rabisco do olho. Confeito na boca, a senhora estende o bração, passa pelo meu nariz e joga o invólucro em plena Avenida Fernandes Lima. Um simples papel que pode custar uma vida ou mais ao motorista que o recebe. Reclamar para quê? Para gerar uma briga com a vovó?
Retirado os excessos das incursões, o miolo preenche as páginas do trabalho, sofrido, profícuo e de futuro incerto, mas realizado.
E driblando todas as nuances da Geografia Humana, os espaços são preenchidos com rios, serras, montanhas, vales e serrotes. Em breve o mar ficará para trás e um ser de duas pernas penetrará pelos cheiros das matas que se salvaram... Por enquanto.


CORRER ATRÁS DE DOIS Clerisvaldo B. Chagas, 31 de julho de 2016 Crônica 1.554 ASSENTADOS NA PRAÇA SINIMBU. Foto (Clerisvaldo). Va...

CORRER ATRÁS DE DOIS

CORRER ATRÁS DE DOIS
Clerisvaldo B. Chagas, 31 de julho de 2016
Crônica 1.554
ASSENTADOS NA PRAÇA SINIMBU. Foto (Clerisvaldo).
Vai expirando o mês de julho, o mais chuvoso do Sertão. Mas este ano julho não quis muita conversa com o sertanejo. Chuvas escassas e má distribuição permitiram apenas a seca verde, isto é, o mato enverdece, porém, não existe água o suficiente para açudes, barreiros e lavouras. E como as coisas estão pelo avesso no mundo todo, pode ser até que aconteça um bom milagre fora do inverno.
Enquanto isso vamos também com tempo escasso para crônica diária e aparecimento no Face. Munido de câmera e coragem, haja fôlego para subir e descer ladeiras em busca do ideal. Bem que estivemos na estação do VLT, na Praça Palmares e na Praça Sinimbu. Na estação, diálogo com quem entende de trem urbano, foto para livro, informações para o transporte ferroviário. Na Praça Palmares, a informalidade do comércio menor onde a mistura confunde qualquer um. Entra aqui sai acolá e a Avenida da Paz surge como representante do relevo alagoano da Planície Litorânea. Mas o grosso mesmo é o acampamento dos Assentados na Praça Sinimbu.
Ontem, “Sem Terras”, hoje, “Assentados”, aquele mundo de gente estava ali reunido para algumas palestras de interesse próprio. Representantes de Assentados de doze municípios estavam concentrados em lonas, árvores e barracas. E fomos nos aproximando devagar pela área das panelas, onde a fumaça há muito já desenhava no ar.
As palestras já estavam em pleno andamento e só ouvíamos referência à organização das elites. E essa conversa trazida desde os tempos de rapazinho nos discursos dos políticos do estado, não nos empolgava. Serviços fotográficos feitos, com os dizeres do Sertão: Capamos o gato que a desconfiança era grande. Lá adiante, muito mais adiante, nada para o segundo objetivo. Assim voltamos novamente à sabedoria sertaneja: Quem corre atrás de dois perde um.