sexta-feira, 30 de julho de 2010

LAGO DE MEL

LAGO DE MEL
(Clerisvaldo B. Chagas. 30 de julho de 2010)
Quando saiu a notícia e foto de um caminhão queimando em pleno centro de Olivença, Alagoas, veio à lembrança uma fogueira diferente. Aconteceu lá mesmo na cidade de Olivença em 1926. Após o ataque à vila de Olho d’Água das Flores, Lampião ainda passou pelo povoado Pedrão (pé) onde sequestrou o empresário Calixto Anastácio em busca de resgate. Dali o bandoleiro partiu para o outro povoado chamado Capim que corresponde a Olivença de hoje. Fazendo algumas estripulias, Virgulino Ferreira da Silva, por isso ou por aquilo, mandou queimar um vapor de descaroçar algodão. Morreu queimado nesse incêndio, um próprio cabra do bando, cujo nome não foi repassado para a posteridade. Nessas investidas de Lampião, uma numerosa volante seguia seus passos. Essa força policial era comandada pelo tenente Elpídio e subcomandada pelo sargento Joaquim Estanislau de Brito. Quando a fumaça ganhava os céus do Capim, foi vista pela tropa do governo que não estava tão longe do povoado. Imediatamente o oficial mandou a tropa fazer alto e bivacar. O sargento, homem disposto, doido por um combate, ficou surpreso perante a ordem do comando. Indagado, o tenente disse que a tropa estava com fome e precisava parar para comer. Roendo-se de raiva pela covardia do superior, o sargento pensou em revoltar-se, mas sentiu que a disciplina estava acima de tudo. Dando tempo suficiente para que os perseguidos fossem embora, só então o tenente resolveu prosseguir rumo à fumaça. Quando a força entrou no povoado, a única coisa que fez foi mandar sepultar o cangaceiro defunto. Essas lembranças, também ficaram registradas através do futuro escritor Oscar Silva.
Vamos divagando sobre a nossa missão aqui na terra. Cada profissão escolhida exige do seu praticante um sério compromisso seja ela qual for. O sujeito não pode ser juiz, promotor policial... se tem medo de bandido. Um médico não pode exercer bem a profissão se tem horror a sangue. Professor não pode ser eficiente se não é dado às pesquisas e, assim por diante. No caso da numerosa volante que perseguia cangaceiros, faltou, no mínimo, uma espiadela no povoado para avaliar uma condição de combate. Nada foi feito, como vimos. Sentar, comer e beber é muito mais cômodo para os que fogem à luta. Bem assim, confiamos a princípio em nossos dirigentes como o sargento Brito confiava na patente do seu superior. Ficou insatisfeito, decepcionado como comentou mais tarde entre seus amigos. Nós reunimos forças e elegemos os nossos representantes que nos parecem pessoas honestas e dispostas a alavancar o progresso que teima em não chegar. Acontece que o desengano com eles não é apenas um caso esporádico, uma exceção na regra geral. É uma carreira de contas decepcionantes de rosários sem alívio de Pai Nosso. Disse-me certo dono de transporte alternativo que é muito difícil se manejar o mel sem lamber os dedos. Concordamos plenamente com as sensatas palavras que o homem ouviu da sua mãe. Acontece que os que manejam com o doce tão cobiçado, não se conformam apenas em lamber os dedos. Como o chefe da volante do Capim, eles esquecem completamente o dever assumido anteriormente. Querem o favo todo, brigam pela colmeia e sem mais controle nenhum, vão-se afundando cada vez mais no imenso, doce e ardiloso LAGO DE MEL.

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