sábado, 5 de novembro de 2016

O OFÍCIO DA ESPINGARDA

O OFÍCIO DA ESPINGARDA
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.586

Durante a época cangaceira, algumas expressões acomodaram-se no dicionário sertanejo nordestino.
Uma das primeiras armas de fogo da região foi o bacamarte, notadamente, o boca de sino. Foi ele amplamente usado pelos bandeirantes. Com as bordas do cano enlarguecida o bacamarte facilitava a carregação e disparava chumbo grosso. Os primeiros cangaceiros brigavam com bacamarte boca de sino. Alguns fazendeiros possuíam essa arma poderosa. Matava-se em emboscada com esse objeto e o seu uso deu origem às expressões como: “Cabra ruim só vai no bacamarte!”, por exemplo.
No Semiárido seus habitantes usavam ainda o bodoque com bala arredondada de barro curtido ao sol para caçar passarinhos e aves selvagens. Posteriormente surgiu a peteca que em algumas regiões se chama estilingue ou baladeira. Trata-se de um gancho de pau, duas alças de borracha e um abrigo de couro para o projétil: pedra comum da estrada ou cozida igualmente à primeira.
 Depois chegou a espingarda proveniente das fabriquetas do Ceará ganhando espaço em todo o Sertão. Era um troço mais delicado do que o bacamarte cuja função objetivava substituir o bodoque e a peteca nas caçadas em sítios e fazendas. Foi logo apelidada de “soca tempero”, porque se carregava pela boca. Aqui, acolá, sua função era desviada para o instinto malévolo de matar gente. Assim criaram-se algumas expressões que ainda perduram como a de: “Vou mandar-lhe passar a espingarda!” ou “O ofício do homem é a espingarda!”.
Passar a espingarda é matar, não importando o tipo de arma de fogo, revólver, pistola... Ou outra qualquer.
No cangaço moderno de Lampião, às vezes chegava futuro cangaceiro que nada possuía, além de uma espingarda que logo era substituída por um rifle e posteriormente até pelo fuzil.
Mesmo com tanto tempo, ainda se usa essas expressões relativas ao bacamarte e à espingarda.
Os cangaceiros tinham um medo triste do bacamarte, usado algumas vezes por defensores ou atacantes fazendeiros.
Deu para esquentar?






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