PROCURA-SE UM OTÁRIO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.596
Ilustração (dreamstime) |
Da Escola Lions para cima, ninguém ousava
caminhar a partir das vinte horas. Era a tal bandidagem marcando território e
surpreendendo transeuntes no Bairro Floresta. Um padeiro, meu aluno na escola
citada, quase sempre dormia durante as aulas. Sua faina que iniciava às cinco
da manhã, não permitia chegar à escola noturna sem o cochilo reparador. Com as aulas para adultos mães e pais de
família, nunca deixei de reforçar o ânimo, as notas e os interesses dos mais
abnegados. O padeiro, encerrada as aulas e o cochilo, teria que subir a colina
do perigo em torno das vinte e duas horas. Santana do Ipanema, onde os
marginais cobravam pedágio em suas zonas, não tinha muito sossego na periferia.
Ao terminar uma das aulas, o padeiro foi
acuado a caminho de casa por dois bandidinhos que comentavam na moita: “Lá vem
um otário”. Com o pulo de ambos diante do trabalhador gritando: “É um assalto!”
O padeiro não se intimidou e fez alumiar uma peixeira nova de dez polegadas que
acionou velocidade na fuga dos dois cabras.
xxx
Visitando em viagens de recreio várias cidades
ribeirinhas, em Alagoas, jamais durante muitos e muitos anos vi uma placa
informativa de perigo e nem tipo algum de salva-vidas. Essa é a tradição no Velho Chico, cidades e
povoados completamente esquecidos do poder público. Uma pobreza de fazer dó!
Ninguém sabe quantos já morreram afogados naquelas águas, sendo a imprudência
sempre apontada e conduzindo a culpa. Jamais tive conhecimento de que se acusasse
alguém pela morte por afogamento do estudante, da criança, do turista... De um qualquer.
Eis que de repente, um ator famoso em
evidência, convida uma atriz colega, vão para um lugar deserto e perigoso do
rio, a sós. Acontece à tragédia, morre o homem afogado. Sob pressão da
empregadora, PROCURA-SE UM OTÁRIO que pode ser o prefeito da cidade, um canoeiro,
um vigia ou outra vítima qualquer porque não podem acusar a Sereia e nem o Nego
d’Água. Mas encontraram o OTÁRIO. Dilmas Roque, Secretário de Turismo foi
acusado pela promotoria de Canindé de São Francisco pela morte do ator Domingos
Montagner. Isso é coisa para o riso de
quase meia hora se não fosse uma coisa tão ridícula. Que subserviência!... Por que a promotoria não acusou a ela mesma,
promotoria, por não haver placa indicativa de perigo no rio, antes da tragédia?
Finalmente encontraram não só o OTÁRIO, mas
também um BOBO DA CORTE fora da realidade. É Brasil, Mané.
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