OS GARRINCHAS FRUSTRADOS
Clerisvaldo B.
Chagas, 10 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crômica 1.587
Foto (paiaiáfc) |
Soa como badalada forte
a renúncia de um time de futebol numa disputa oficial do estado. Em todos os
recantos do Brasil encontramos garotos nas várzeas, em terrenos baldios, nos
terreiros de casa, em beiras de riachos e lagoas “derretendo-se” na bola. É uma
febre arraigada e batida na alma nativa e na brasilidade continental. Muitos
abandonam até a escola no sonho doce, extravagante e possível de um brilho
futuro nos grandes estádios do país.
As chamadas crises
sucessivas e as más administrações dos clubes pequenos erguem a esperança,
plena de vida e felicidade para abatê-la logo à frente transformando-a em
murcha frustração. Não é fácil galgar os degraus do futebol, principalmente
pelos jovens das periferias, do campinho de terra, do relevo ladeiroso, de
ocupação mista com os animais. Garotos bons de bola, repletos de vigor ou de
fome, driblando a pobreza e sonhando um dia substituir Garrincha, o gênio das
pernas tortas.
Ao conseguir seu estágio
para o pequeno time da cidade – aquele que vai disputar o campeonato estadual
na segunda ou primeira divisão – o jovem enche-se de orgulho com o início da
carreira de seus anseios. É quando seu time não encontra jeito de cobrir as
exigências do campeonato; ou guando perde de todos e se desfaz. Aí o futuro
Mané Garrincha baixa a cabeça. Voltam às imagens da enxada, da roça, da panela
vazia e da barriga oca das noites que parecem não ter fim.
Os que decidem as
paradas estaduais nem notam que hoje seus não adversários vivem um drama
social, humano e íntimo de tantas dores juntas.
E assim vamos caminhando
para frente diante das imperfeições encaixadas no mundo velho de meu Deus.
Afinal, o trânsito entre riqueza e pobreza tem sempre intensa fumaça no meio.
Para os sonhadores, não é fácil escapar pelos árduos caminhos futebol.
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