quarta-feira, 23 de novembro de 2016

PROCURA-SE UM OTÁRIO

PROCURA-SE UM OTÁRIO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de novembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.596

Ilustração (dreamstime)
Da Escola Lions para cima, ninguém ousava caminhar a partir das vinte horas. Era a tal bandidagem marcando território e surpreendendo transeuntes no Bairro Floresta. Um padeiro, meu aluno na escola citada, quase sempre dormia durante as aulas. Sua faina que iniciava às cinco da manhã, não permitia chegar à escola noturna sem o cochilo reparador.  Com as aulas para adultos mães e pais de família, nunca deixei de reforçar o ânimo, as notas e os interesses dos mais abnegados. O padeiro, encerrada as aulas e o cochilo, teria que subir a colina do perigo em torno das vinte e duas horas. Santana do Ipanema, onde os marginais cobravam pedágio em suas zonas, não tinha muito sossego na periferia.
Ao terminar uma das aulas, o padeiro foi acuado a caminho de casa por dois bandidinhos que comentavam na moita: “Lá vem um otário”. Com o pulo de ambos diante do trabalhador gritando: “É um assalto!” O padeiro não se intimidou e fez alumiar uma peixeira nova de dez polegadas que acionou velocidade na fuga dos dois cabras.

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Visitando em viagens de recreio várias cidades ribeirinhas, em Alagoas, jamais durante muitos e muitos anos vi uma placa informativa de perigo e nem tipo algum de salva-vidas.  Essa é a tradição no Velho Chico, cidades e povoados completamente esquecidos do poder público. Uma pobreza de fazer dó! Ninguém sabe quantos já morreram afogados naquelas águas, sendo a imprudência sempre apontada e conduzindo a culpa. Jamais tive conhecimento de que se acusasse alguém pela morte por afogamento do estudante, da criança, do turista... De um  qualquer.
Eis que de repente, um ator famoso em evidência, convida uma atriz colega, vão para um lugar deserto e perigoso do rio, a sós. Acontece à tragédia, morre o homem afogado. Sob pressão da empregadora, PROCURA-SE UM OTÁRIO que pode ser o prefeito da cidade, um canoeiro, um vigia ou outra vítima qualquer porque não podem acusar a Sereia e nem o Nego d’Água. Mas encontraram o OTÁRIO. Dilmas Roque, Secretário de Turismo foi acusado pela promotoria de Canindé de São Francisco pela morte do ator Domingos Montagner.  Isso é coisa para o riso de quase meia hora se não fosse uma coisa tão ridícula.  Que subserviência!... Por que  a promotoria não acusou a ela mesma, promotoria, por não haver placa indicativa de perigo no rio, antes da tragédia?
Finalmente encontraram não só o OTÁRIO, mas também um BOBO DA CORTE fora da realidade. É Brasil,  Mané.




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