AMENIZANDO O DIA DE FINADOS
Clerisvaldo B. Chagas
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.584
Ilustração |
É grande o imaginário do povo brasileiro. E para
contar coisas de assombrações, o sertanejo é mestre, mesmo no parece, mas não
é.
Dois adolescentes não conseguiam colher os manguitos
da árvore de um cemitério. O vigia era implacável. Os garotos, então,
resolveram roubar os manguitos à noite. Silenciosamente colhiam os frutos
maduros. Um sujeito que vinha do centro da cidade resolveu sentar no pé do muro
do cemitério, para descansar, uma vez que estava calibrado da “branquinha”. Enquanto
isso, dentro do cemitério, um fruto do galho mais alto cai para fora do muro. O
garoto mais perto percebeu e gritou para o outro: “O do lado de fora é meu!”.
Pense na carreira avantajada do bebum!
xxx
Anoitecia. Queria chover na
estrada de terra sertaneja. O rapaz acenou, o motorista parou o caminhão e
ofereceu carona na carroceria. Ali conduzia um caixão de defunto para entrega
rápida. O rapaz não se impressionou e subiu. Adiante começou a chover. A alternativa do
moço foi abrigar-se dentro do caixão onde conseguiu tirar um bom cochilo. Na
estrada, um grupo de cinco pessoas ia para uma novena, pediu carona e subiu
também para a carroceria. Todos espiavam desconfiados para o esquife, quando de
repente o rapaz desperta do cochilo, abre o caixão e pergunta: “Parou a chuva?”.
Amigo, todos saltaram do caminhão numa velocidade ímpar, com o veículo a toda.
xxx
Na minha terra, os capetas
sobrinhos do padre Bulhões retiraram o miolo de uma abóbora, fizeram uma cara
de bruxa, acenderam uma vela dentro e deixaram-na bem no poste da estreita
passagem da única ponte do bairro. Cidade às escuras, a meia-noite dos
retardatários foi um festival de galopes que até os aleijados não quiseram
parar de correr diante do bicho do bocão.
Sente aí, camarada, para ouvir
mais.
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