MUTUCA
Clerisvaldo
B. Chagas, 31 de janeiro de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.835
Andar
pelas trilhas sertanejas é coisa extremamente agradável. Cada um anda com o
traje que quiser, contudo, o traje adequado pode evitar muitos aborrecimentos e
até coisa piores. Por exemplo, andar de bermuda não evita os riscos dos
garranchos nas pernas, as urtigas e arranhões durante quedas. O não uso de
botas ou calçados adequados, não livra de uma picada de cobra no pé e ou
espinhos duros espalhados pelo vento. Uma calça comprida evita muitas coisas,
mas outras não. O que acontece é que, na verdade andar no mato, na caatinga,
nas chapadas, não é a mesma coisa de perambular pelas praias, pelas dunas...
Pelas restingas. Entre as pequenas coisas que incomodam nas caminhadas
sertanejas pelo matagal, é a Mutuca, principalmente em tempo de inverno e nas
primeiras chuvaradas, porém, a mutuca pode incomodar a qualquer tempo.
Talvez
– para você que mora na capital – nunca tenha ouvido falar sobre a mutuca.
Trata-se de uma espécie de mosca gigante que se alimenta de sangue de animais e
de gente também. Nas trilhas gosta muito de picar nas pernas descobertas, mas
não respeita lugar para a picada. A dor é forte, duradoura e “coçadeira”. Além
de ser bicho nojento, sua picada não mata, mais incomoda muito tirando o prazer
da caminhada. Até mesmo na literatura cangaceira vamos encontrar a “fazenda
Mutuca”, em Pernambuco, engajada na história de Virgulino Ferreira, antes de
virar Rei do Cangaço. Portanto, a mutuca é mais um desencanto dos que não
apreciam andar nas matas. Além disso o inseto não tem o destaque de outros
segredos da caatinga. Inúmeras coisas da flora e da fauna não são divulgadas,
mas que merecem muita atenção por vaqueiros, mateiros, raizeiros (garrafeiros),
fazendeiro e rezadores do Sertão.
A
mutuca também possui outras denominações no Nordeste, como: butuca, moscardo,
motuca e tavão. Esses nomes, até desconhecido para nós, sertanejos alagoanos,
não mudam em nada o seu ataque surpresa às nossas caminhadas na caatinga.
Falamos acima sobre as investidas do inseto no período chuvoso quando o mato
está completamente verde e fechado. A caminhada fica mais difícil e a atenção
aos perigos da mata, diminuem devido a preocupação em afastar galho e folha que
cruzam os caminhos. Mas no caso da mutuca, não tem como escapar se ela estiver
presente. Chega feroz e pica. Dificilmente sua agilidade no tapa consegue surpreender
e matar uma mutuca. Muitas vezes o inseto, devido ao seu tamanho, é até
confundido com uma abelha.
É
assim o nosso Sertão do Padre Cícero, Luiz Gonzaga e Lampião.
Curta,
curta, curta...
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