NO
AMPARO DA SOMBRINHA
Clerisvaldo
B. Chagas, 24 de janeiro de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.831
No
tempo de poucos automóveis, o batente diário era mesmo enfrentado a pé. E na
época de inverno, muito valioso era o guarda-chuva ou sombrinha, mesmo que os
pés rompessem a lama das ruas, a cabeça estava protegida. Esses objetos eram
muito valiosos no predomínio das chuvas. Comprados nas lojas, estavam sempre na
moda com modelos estruturais e com estampas. Durante o sol muito quente do
verão, as mulheres usavam bastante as sombrinhas. Mas também é de se dizer que a estrutura de
ambos, eram frágeis como ainda são as de hoje. Qualquer coisinha quebrava uma
aspa. Se o dono ou a dona tivesse habilidade consertava, se não, mandava o
objeto para o profissional Alvino, conhecido depois com o apelido de
“Sombrinha”.
Alvino
morava num pedaço de rua entre a Prof. Enéas e a São Paulo (início da antiga
rodagem para Olho d’Água das Flores). Para ele, levei muitas sombrinhas e
guarda-chuvas, para conserto. Nosso herói tinha rosto agradável de quem está de
bem com avida, caminhava ligeiro, braços abertos e, sendo magro, inclinado um
pouco para trás, parecia carregar um bucho invisível projetado adiante. Era
simpático no seu atendimento e não demorava a devolver o objeto consertado. Não
lembramos de outro profissional consertador de sombrinha, em Santana do Ipanema,
somente quando passava alguém de fora, anunciando consertos. O consertador de
sombrinhas foi mais um dos profissionais extintos do século XX.
Por
que estamos lembrando essa passagem tão singela e tão sem importância para os
dias atuais? É que chegou uma pessoa da família em baixo de chuva e precisou de
uma sombrinha para descer do carro. Infelizmente o objeto estava com uma aspa
quebrada. No momento o passado veio forte porque na vida uma coisa puxa
outra. Assim como pingadeira nas telhas
(ainda existe teto de telhas) também lembra o profissional “Seu Tô”, o maior
retelhador do século XX com seu chapéu de Polícia Montada do Canadá e que
morava bem perto de Alvino. Hoje retelhador é o próprio pedreiro.
Mas
voltando ao caso da sombrinha, ninguém de casa tinha habilidade para consertar
a aspa, cuja sombrinha parecia um galináceo da asa quebrada, já viu?
Que
falta nesses momentos faz o Alvino!
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