quinta-feira, 13 de julho de 2023

 

ZUMBI NO IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de julho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.927

 



Eu ainda não havia ingressado no Ginásio Santana, quando alunos daquele Estabelecimento de Ensino, aproveitaram uma aula de história e montaram uma peça teatral sobre o herói negro Zumbi dos Palmares. Deve ter sido um grande sucesso, mas eu não me encontrava presente. Contudo, vi quando desceu do Ginásio aquela turma de estudantes pretos de carvão em direção ao banho noturno no rio Ipanema. O aluno Marcos, que fazia o papel de Zumbi, era muito alto, trabalhava nos Correios e, parecia ainda comandar os comaradas fora do palco. Desceram pela rua que antecede o Bairro São Pedro, onde havia a bodega de “Seu Carrito”, e foram para os poços e cacimbas limpar a cara do pretume. Nossa! Até à noite o Ipanema estava à disposição de quem dele precisava.

 

Quando as lavadeiras do rio Ipanema denunciaram na delegacia que os machos estavam tomando banho nus no poço dos Homens, o delegado civil José Ricardo, proibiu a prática no poço. Os gaiatos da cidade, todos “filhos de papai”, vestiram-se com terno e gravata e desceram para o poço dos Homens, conclamando a população para os acompanharem ao banho. Não vi o movimento, mas sim a notícia. O certo é que os rapazes mergulharam no poço dos Homens de terno e gravata, sim. A repercussão humorística ganhou todos os quadrantes de Santana do Ipanema e não faltavam risos frouxos na urbe. Foi terrível para o delegado. Não houve, porém, nenhuma consequência danosa a qualquer das três partes envolvidas. Somente comédia.  Muita comédia!

 

Tudo já foi contado por aqui. O Ipanema sempre abraçando e sendo o ponto de diversão santanense. Foi por isso que o famoso e boêmio sapateiro “Tarde Fria”, correu da polícia, por isso ou por aquilo, sendo perseguido de perto pelos policiais. Tempo de inverno, Panema cheio, e a polícia pega-não-pega “Tarde Fria”.  O sapateiro aprumou pelo Beco São Sebastião e foi bater nas pedras lisas do poço dos Homens. Dali pulou com terno e tudo e a polícia esbarrou na água. Na outra margem, surgiu o boêmio todo molhado e deixando a água escorrer tenho abaixo. Acenou para os soldados e saiu cantando para os lados onde morava: “Tarde Fria, sinto frio na alma, só você vem e me acalma...”.

Ah! Nunca é demais falar no rio Ipanema.

RIO IPANEMA (FOTO: SÉRGIO CAMPOS).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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