A
INDÚSTRIA E NÓS
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de março de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.210
Nos anos sessenta, ainda usávamos a cama de
mola e, a marca de uma delas era famosa com o título Faixa Azul. Essas camas eram vendidas em algumas lojas da cidade e
algumas delas exibiam essas camas nas próprias calçadas dos estabelecimentos.
Quanto ao colchão, eram feitos de capim ou de juncos, material encontrado por
todos os lugares. Havia em Santana do Ipanema na Rua Antônio Tavares, uma
fábrica de colchões com três ou quatro funcionários que confeccionavam cada
peça á mão. Não recordamos de nenhum tipo de máquinas. A fábrica ficava no
casarão em preto vizinho a esquina da ladeira que levava até a rua de baixo,
Rua de Zé Quirino (hoje professor Enéas). Pertencia a fábrica ao senhor
apelidado de Júlio pezunho. (Pezunho:
aquele que tem um dedo a mais na mão, inutilizado). O senhor Júlio, nessa época,
já era um homem de idade e muito conhecido na região.
E se havia outras fábricas do ramo, na cidade,
na minha adolescência não tive conhecimento. À cama de mola, cabia consertos
aqui ou ali, mas os colchões que logo viravam canoas com afundamentos no meio,
não havia jeito e se reclamava muito de dores de coluna. E esses colchões de
juncos ou de capins, também ficavam expostos nas calçadas dos estabelecimentos.
Na prática daquilo a cama rangia
muito e por isso eram formadas muitas anedotas a respeito das animosidades sexuais.
A partir, aproximadamente da década de setenta, começaram a surgir novos
modelos de cama de ripas, se mola e as famosas camas de molas foi desaparecendo
aos poucos seguidas pelos tipos antigos de colchões.
As camas modernas continuam sem qualidade,
Cheias de floreios “propagandícios” falsos. Do mesmo modo são os colchões que
não resistem dez dias de dormidas sem a formação de canoas da mesma maneira dos
colchões que quebravam a coluna dos nossos avós e pais. Antes ainda havia a
opção da rede, da esteira de caboclo, da esteira de periperi ou pipiri, coisas
que vão ficando cada vez mais raras no nosso cotidiano. O que fazer? Por
enquanto ainda não conhecemos soluções e sim à espera das dores da coluna para
o gasto inútil de dinheiro com médicos que se dizem especialistas. Dizem os
mais velhos que o que não tem remendo
remediado estar.
Esteja onde estiver, pelo menos Seu Júlio Pezunho,
tentou.
BAIRRO MONUMENTO (FOTO B. CHAGAS)
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