ÁGUA
NA PEDRA
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de maio de
2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3. 235
É natural que as pessoas tenham abandon
ado hábitos antigos e tenham se integrado
aos tempos modernos, aqui no Sertão de Alagoas. Foram deixados de lado os
remédios do mato, a procura de águas nas cacimbas de rios periódicos e a
lavagem de roupas nos pilões de pedra. Motivos pela ordem: remédios de farmácia
em abundância, água encanada do rio São Francisco e máquinas de lavar. Muitas
outras coisas poderiam ser citadas, mas vamos parar por aqui com objetivo de
falar sobre os pilões de pedras, um dos motivos do meu próximo livro sobre a
zona rural. Pedra d’Água, Caldeirão, Caldeirão de pedra, são os nomes que se
dão no Sertão às rochas, rochedos, lajes, lajeiros, lajedos, lajeado, que
afloram e que adquirem, pela Natureza, várias formas que acumulam águas
pluviais.
Aqui
no Sertão alagoano, no município santanense, temos até um povoado de
denominação, Pedra d’Água dos Alexandre. E é interessante porque pertence a
dois municípios: um lado da rua é Poço das Trincheiras, o outro lado, Santana
do Ipanema. É terra da cangaceira Maria do Cangaceiro Pancada. Maria de Pancada
como ficou conhecida. Pois bem, O nome Pedra d’Água vem justamente de algumas
rochas da região que acumulava água das chuvas em suas formas. Em Santana
existem vários pilões de pedra. Somente na região de Camoxinga dos Teodósio
existem mais de cinco, porém, hoje estão esquecidos por causa da existência de
água encanada. Se você não alcançou, que pena! Era um encanto as lavadeiras de
roupa nos caldeirões de pedra. Simplesmente romântico.
Tirando
a faina charmosa das lavadeiras nas rochas, o local é
atrativo para pássaros e outros animais selvagens, e mesmo lugar de emboscada
para caçadores, hoje ilegais. Suas formas de retenção da água pluvial tem uma
ótima variação: rachaduras, cavidades simples, panelas, caldeirões, torneados
profundos ou não e panelas em forma de parafuso. Ali vêm beber, o sapo, a
raposa, o furão, o lobo-guará, a cobra, o cassaco e todos os selvagens do
perímetro, durante, principalmente o período de estiagem prolongada. Durante o
tempo mais frio do inverno, urubus e teiús costumam usar esses e outros
lajeados para obrigatórios banhos de sol, como os humanos. Por isso e por mais
ainda, é tão importante um lajeiro tipo caldeirão na propriedade quanto uma
lagoa, um riacho, uma várzea.
LAJEADO
COM ÁGUA (foto: PULSAR).
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