segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O JEGUE DE BANDA MEL

O JEGUE DE BANDA MEL

(CLERISVALDO B. CHAGAS. 23.2.2010)
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Jumento, jegue, asno, inspetor, babau... Despontou no mundo desde a chamada pré-história. É originário da Abissínia, país africano localizado no chifre da África, cuja capital é Adis-Abeba. A Abissínia é considerada por muitos como o país mais antigo do mundo e berço do homem mais moderno. A língua oficial desse país do oeste africano é o Amárico. Foi daí que o Equus asinus, ou melhor, o jumento, espalhou-se pela África, Ásia e o planeta inteiro. Aqui no Brasil esse animal de porte médio serviu muito e ainda serve nas regiões rurais, conhecido por várias raças como a Pega (ê) e a Canindé. Possuindo força extraordinária, o jumento é motivo de piadas pelo exagero do órgão sexual, pela teimosia e mesmo pelas aventuras quando em bando selvagem. A ele devemos muito, pois transportou as nossas mercadorias pelos sertões longínquos. No caso particular de Santana, foi o jumento que abasteceu a cidade durante décadas com água do rio Ipanema. Uma dívida impagável ao animal que tem a cruz no lombo. Pelo menos ganhou estátua em praça pública que foi motivo de polêmica entre os insensíveis. O jumento já foi decantado em prosa e versos, por cronistas, historiadores, poetas, escritores, jornalistas, quando alcançou o ápice com o cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga.
Não pude deixar de rir quando li o apelo do colega Fábio Campos ao Valter Filho do site Santana Oxente. É que sua crônica “Meus Documentos, Pergunte a Esse Jegue” (título quase imoral), estava na pauta há vários dias e precisava urgentemente ser substituída. O colunista, então, enviou através do mural de recados o seguinte apelo: “Valtinho! Atualize aí minha coluna rapaz! Já enviei outras crônicas. Essa do jegue (de novo?) já está na tela há muito tempo!” Para quem conhece o Fábio Campos, fala mansa e arrastada, conseguiu ver o rosto choroso do colunista e a preocupação estampada no apelo. Ri das duas coisas, do apelo e da redação. Eis que a crônica sobre o jumento foi substituída pela benevolência do Valter e surgiu à outra intitulada: ”A Ressaca do Carnaval de Banda Mel”. Diverti-me mais uma vez à custa de meu amigo. Como um teatrólogo, ele tangia o jegue de cena e entrava o vidraceiro “Banda Mel”, figura folclórica de Santana do Ipanema. Logo imaginei Banda Mel montado no jegue; tangendo o babau para ocupar o seu lugar; desesperado com a presença do jumento.
Banda Mel tem residência à Praça Frei Damião. Gente muito boa e competente profissional. Mas quando conversa com a lourinha, não tem cristão vivo que aguente. Uma das características do homem magrinho e moreno é falar explicadamente mastigando cada palavra, demonstrando inteligência, educação e conhecimento. Mas é como se sabe, a marvada bota tudo a perder. Todavia, o problema para desenhar a crônica é que Banda Mel não possui jumento algum, pelo menos que eu saiba. Acho que deve ter pegado uma carona no inspetor do meu amigo Fábio Campos. E para distrair a seriedade do cronista, vamos imaginando o vidraceiro bem alegre, paletó e gravata, entrando em cena montado e, o autor da “Ressaca” anunciando com megafone nos bastidores: Atenção senhoras, apresentamos no momento o formidável, o fabuloso, o incrível, o imoral JEGUE DE BANDA MEL.

(NOTA: Friso nosso)




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domingo, 21 de fevereiro de 2010

PUNHAL ENFERRUJADO

PUNHAL ENFERRUJADO

(Clerisvaldo B. Chagas. 22.2.2010)

Em Santana do Ipanema, décadas 50/60, havia um doido conhecido pelo vulgo de “Coleta”. Lembramos muito bem da sua figura alegre usando chapéu de palha quebrado nas laterais. Coleta costumava fazer o trecho do Largo da Feira, entre o mercado de carne e a Igreja Matriz de Senhora Santana. Sua parada predileta era na padaria de Isaías Rego, onde recebia seus admiradores. Ninguém mexia com o doido, apenas falava animado com ele e, Coleta respondia fazendo gestos de esfaquear. “Olhe o punhal velho enferrujado!”
Ainda refletindo sobre a política, ficamos admirados com o vigor físico dos candidatos. O postulante a vereador percorre todos os sítios existentes na área rural e todas as ruas da cidade. Esse conhece, sem dúvida alguma, as bibocas do sertão e sabe exatamente onde o cão dorme, cochila e come. Uma vez eleito, com prestígio ou sem prestígio do Executivo, naturalmente continua suas peregrinações. É que o edil não tem nada a perder. Se conseguir realizar os pedidos dos eleitores, fica feliz; se não conseguir, escora-se na doce vingança de atribuir a falta ao chefe do município. Tirando os eleitores mais exigentes, os outros se conformam com apenas a presença da autoridade, como sinal de bom relacionamento.
Por outro lado tem o candidato a prefeito. Esse é guiado pelos vereadores ou postulantes pelas estradas, trilhas e veredas. Se não tem energia, arranja, mas vai percorrendo vales, grotas e montanhas na ansiedade febril de conquistar os munícipes. Além do gasto exorbitante do real, as promessas miraculosas levam finalmente o indivíduo ao éden insistentemente desejado. Uma vez com seus paramentos na cadeira fofa, a lógica se inverte como as gangorras da nossa juventude. Antes, uma pessoa preocupada com o porvir do município e o bem-estar dos cidadãos; um futuro empregado do povo, pago para administrar honesta e corretamente seus bens. Agora, um reizinho a mais no emaranhado político do País. Uma autopromoção a dono do município, patrão de todos e não mais gerente do povo. Na campanha podia, agora não pode mais aumentar salário, nem promover a Cultura, nem assegurar a Educação... Nada pode. Contudo, apresentar bandas caríssimas em espetáculos de macaquices com o dinheiro do contribuinte, pode. Em geral não existe uma equipe, existe um bando que freneticamente imita o ritmo sem parada das saúvas cortadeiras. Pobre reino de César, de Calígula, de Nabucodonosor... De fulano de tal. Final de mandato, malas arrumadas, voos para chácaras, fazendas, Europa... E o eleitor que recebeu uma onça ou outro bicho qualquer, cabisbaixo, humilhado, desmoralizado, se levantar a cabeça vê somente passar o rabo do avião. O bando se desfaz e fica cada um a espera de qualquer outro chamado para novo saque.
Não se preocupe meu amigo. Nada disso que foi dito acima é verdade. É apenas ficção de romancista. No sertão do Nordeste brasileiro não ocorre isso não. Mas, se você tem dúvidas, nas próximas eleições, ao abrir a porta para quem bate, fique atento; pode ser um “Coleta” travestido: “OLHE O PUNHAL VELHO ENFERRUJADO!”


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