quarta-feira, 21 de abril de 2010

SANTO SEM PRESTÍGIO

SANTO SEM PRESTÍGIO
(Clerisvaldo B. Chagas. 22.4.2010)
Não temos certeza se é denúncia, revolta ou vontade de cooperar. Já no finalzinho do governo Marcos Davi, precisamente no dia 23 de agosto de 2004, foi inaugurada uma praça insistentemente solicitada pela associação do Bairro São José. Se não era uma praça deslumbrante, pelo menos havia quadra de areia, parque infantil, bancos, alambrado, canteiros, passeio e placa de bronze. Quem vê o abandono da Praça das Artes, sendo santanense, sente a discriminação das autoridades pelas áreas humildes da periferia. Ali no centro do terreno funciona um prédio com o nome de Centro de Acolhimento à Criança e ao Adolescente. Mas a praça em si, vive um desprezo total pelo dinheiro do contribuinte. Ainda dentro do terreno funciona uma escola inaugurada conjuntamente com a antiga COHAB. Na esquina de baixo, do outro lado da rua, um posto de saúde presta serviço à população. Mais abaixo estar situada a Escola Helena Braga das Chagas, ponto de referência em Santana do Ipanema. Ainda vizinho à praça, funciona a sede do Corpo de Bombeiros a poucos metros da igreja de São José. Somam-se ainda mais duas escolas, uma do município e outra particular. Por tudo isso até parece que a antiga Praça da Bandeira foi transferida para esse bairro. É uma vergonha o estado de abandono em que se debate e morre a Praça das Artes. O mato tomou conta de tudo; vândalos destruíram bancos, parque, alambrado, ligações elétricas. Os cavalos e burras da vizinhança fazem dali estribaria; durante a noite bando marginal se apodera do terreno que funciona às escuras entre fumaça, cola e sexo. Não existe vigia. Está faltando providências urgentes da cúpula da associação, da prefeitura, do conselho tutelar, da polícia e do ministério público, pois sem a sua intervenção, dificilmente os problemas serão resolvidos.
Enquanto isso, a praça do Bairro Monumento que leva o nome de Adelson Isaac de Miranda, é tão sofisticada que recebeu do povo periférico o apelido de “Praça dos Ricos”. Os professores podem até pesquisar com seus alunos esses dois contrastes para acirrada discussão em sala de aula. No Monumento, iluminação perfeita, plantas, bancos de primeira, busto, placa de bronze, piso de última linha, boxes prestadores de serviços, movimento de elite, eventos constantes e festas caríssimas. Já na Praça das Artes, mato, escuro, cavalos, vândalos, drogas, sexo, quebradeira e medo nos arredores. Querem um Haiti melhor do que esse? Prefeita Renilde Bulhões, acione suas equipes e não deixe que esses fatos graves e até gravíssimos sirvam de nódoas administrativas muito piores de que nódoas de caju.
Nossa Senhora Assunção, fora o assunto que sai nos degraus da sua igrejinha (após a retirada das grades colocadas pelo padre Delorizano) parece bem confortável na “Praça dos Ricos”. Mas o Corpo de Bombeiros, o Centro de Acolhimento, o Posto de Saúde, as quatro escolas, o Conjunto São João e a igrejinha de São José, apelam para o dever e a benevolência dos que tem a solução dos problemas na cartola. Onde São José errou para se tornar assim diante de vós um SANTO SEM PRESTÍGIO!?


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terça-feira, 20 de abril de 2010

TRIBO DE MARIMBONDOS

TRIBO DE MARIMBONDOS
(Clerisvaldo B. Chagas. 21.4.2010)
Faz certo tempo, uma revista famosa do Brasil enviou um repórter para ampla matéria em Alagoas. A reportagem seria a respeito da máfia política que dominava o estado. Aproveitando a evidência da revista, o governador fez convite ao jornalista para um jantar festivo que iria haver no Palácio dos Martírios. Na hora aprazada, muitos senhores elegantes vestindo branco, compareceram. Tudo correu como o previsto no interior do palácio alagoano. Já perto do encerramento ─ narrado pelo próprio repórter na revista publicada ─ o governador o conduziu até a varanda para conversar. Disse que o jornalista havia chegado de longe para saber como o governo estadual iria exterminar a máfia. Depois teria rebatido o diálogo mais ou menos assim: “Como acabar com a máfia! O senhor mesmo acaba de jantar com ela”.
A ocorrência acima faz lembrar situação vivida por mim, semelhante a do jornalista nos Martírios. O tempo desse caso deve girar em torno de dez anos. Convidado por um amigo interessado em comprar terras em outros estados, longe de Alagoas, fomos obter informações de certo fazendeiro perigoso da região. Era ele o encarregado das vendas. Ao chegar àquela cidade, procuramos encontrá-lo em um bar onde o fazendeiro batia ponto. O dono do estabelecimento esclareceu que o homem já havia passado por ali em direção à fazenda. Caso quiséssemos aguardar, logo, logo, ele estaria de volta. Enquanto aguardávamos, o amigo bebia cerveja. Pedi um Campari, porém, o dono da espelunca falou que só havia um litro do produto, mas estava reservado no freezer. Disse ele ainda que o outro apreciador da bebida teria ido fazer um servicinho e chegaria logo para beber a tintura. Nesse caso eu poderia pedir um pouco a ele, que o Campari estava difícil na cidade. Aguardei impacientemente. Trinta minutos depois chegou um rapaz simpático, novo, forte e sem camisa. O rosto mostrava totalmente gotas de suor. O caso foi repassado pelo dono do bar e, com a maior gentileza do mundo, o recém-chegado mandou retirar o tubão do gelo. Pediu que eu ficasse bem à vontade “que esse negócio é para a gente beber mesmo”. Devo ter ingerido duas ou três doses daquele líquido vermelho e cismei em não querer mais. O amigo achou que o fazendeiro estava demorando e chamou para irmos embora. Pagamos a conta e retornamos a Santana do Ipanema. O dono do Campari continuou bebendo, rindo e suando.
Enquanto o automóvel rodava, o meu amigo perguntou se eu conhecia a fama sinistra do fazendeiro. Respondi que sim, pois ele era marca registrada em Alagoas. Indagou também se eu não suspeitei do bebedor de Campari. Claro que não, respondi. Pois ele é pau-mandado do fazendeiro e acabava de chegar de mais uma encomenda. “Você acaba de comemorar sem saber, mais um crime de mando em Alagoas”.
Já faz tanto tempo que nem lembro mais qual foi a minha reação. Talvez tenha sido a mesma do jornalista no palácio. Mas o sangue vermelho da bebida italiana nunca mais entrou em minha boca. Não se gasta nada em rezar pai-nosso e ave-maria para não cair gratuitamente em TRIBO DE MARIMBONDOS.





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