terça-feira, 10 de agosto de 2010

TUDO DE NOVO

TUDO DE NOVO
(Clerisvaldo B. Chagas, 11 de agosto de 20100)

     Escorrida as lágrimas africanas, os brasileiros tentam ainda absorver o direto levado da Holanda. Orgulho ferido, o torcedor tenta amenizar a vergonha nos desafios internos entre clubes estaduais. Respira-se uma nova atmosfera no futebol verde e amarelo desse planeta bola. Desabam as ilusões de um titã invencível criadas pelos fanáticos do país. E os jogos sucessivos entre times que se vão nivelando por cima, vão sarando as pisaduras da derrota além-mar.
     A escolha do novo técnico da Seleção Brasileira, não chegou a seduzir ninguém. Fosse quem fosse o indicado, o efeito seria o mesmo, pois a cura de caso grave não acontece com apenas uma indicação. Um recomeço partindo do zero, deixa muita indiferença no torcedor. Com o amistoso marcado para a América do Norte, os que gostam do fuá ficaram espiando por cima dos ombros apanhados. Uma vitória, uma derrota, nada entusiasma ainda. E como o tempo nada tem a ver com isso, trouxe a data e à hora da partida.
     Sem a transmissão direta pela TV, viramos reféns das tramas poderosas. Um vídeo gaguejador foi tudo que pode consolar quem queria ver o jogo em toda plenitude. Ainda bem que o Brasil ganhou pelo placar de dois a zero dos Estados Unidos. Sem muita euforia, ainda, o estádio ficou pequeno para retratar o embate do gramado. Foi bom o placar final que derrubou o saudosismo. E se ninguém é de fato insubstituível, colocaram o Ganso e o Neymar para a prova dos nove. Vendo à prestação e ouvindo comentários, podemos afirmar que foi um bom recomeço, não unicamente pelo resultado dos gols, mas pelo “futebol alegria do povo”, ressuscitado em território americano. Como o Brasil costuma imitar os outros países, até o futebol sofreu a influência da Europa quando se falava em futebol moderno. E foi nesse tal moderno que embarcamos e naufragamos em águas estrangeiras. E dizendo como se pronunciou um amigo no Estádio Rei Pelé em dia de Seleção: “os homens jogam bola!” Digo que os meninos jogam bola! São endiabrados de verdade. E o melhor é que se divertem e divertem os outros. E como foi dito, não é hora de entusiasmo ainda com roupa de luto. Outro ponto contado foi o trabalho que a seleção americana estava dando antes e durante a Copa, mantendo agora sua base. Isso significa dizer que uma possível vitória brasileira não seria tão fácil assim. Mas foi. Os gols perdidos pelos garotos do Brasil poderão ser acrescentados positivamente, como anexos do baile canarinho. Pode ser que a partir do próximo amistoso, o torcedor deixe de olhar enviesado e queira encarar essa renovação. Dizem também que todo técnico tem que trazer um pouco de sorte assim como um bom goleiro. Esperamos que o senhor Mano Menezes esteja entre os iluminados para desenhar nova esperança ao povo. Dessa vez a cautela popular vai prevalecer. Impossível mesmo de não acumular esperanças é quando se assiste a garotada se divertindo. E mesmo se não quisesse mais acreditar: os meninos jogam bola! Com a bicharada Pato, Ganso e outros, não custa nada, vamos começar TUDO DE NOVO.



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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SOMBRINHAS

SOMBRINHAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 10 de agosto de 2010)

     Vou conversando sob o sol forte da capital. Os assuntos são vários, mas de repente entro na matéria sombrinha. Nunca mais havia visto mulheres de sombrinhas. Será que elas não usam, em Maceió? A pessoa me explica isso e aquilo, mas não fica bem clara a ausência do objeto nas ruas. Talvez para me contrariar, encontramos na esquina uma senhorita portando uma. Ficamos admirados e alegres com a prova repentina. Não resisto, paro a mulher e falo da conversa que eu vinha puxando. Ela ri. Fica feliz por ter sido parada por desconhecidos para trocar gentilezas. Diz que gosta de usar aquela armação, novamente ri e vai em frente. Vejo elegância intransferível na mulher que usa bolsa a tiracolo, suspensa ao ombro, ou a sombrinha aberta, protetora do sol e da chuva. Toda mulher fica elegante ao usar bolsa; toda mulher é bonita usando sombrinha. São duas coisas completamente desiguais do sapato alto que tanto classifica o bom gosto quanto ressalta o ridículo. Depende da pessoa e das circunstâncias. 
    Ninguém se arrisca a dizer quando surgiu a sombrinha. É certo, contudo, que a arte registra a sua existência no Egito, China e Pérsia. No Egito as sombrinhas serviam ao faraó com uma serva encarregada dessa tarefa. Depois o seu uso passou a Grécia e Itália servindo aos dirigentes também com sentidos simbólicos. Para eles havia uma relação entre o arco celeste e a soberania. De qualquer maneira, a sombrinha, primeiro funcionou para as classes altas entre gregos e romanos. Somente veio a se popularizar na Europa, durante a Renascença Italiana. Mesmo assim já havia se tornado comum durante todo o decorrer do império romano. A França propagou o seu uso no século XVII e, a vizinha Inglaterra, a partir do século seguinte.
     Vendi muitas sombrinhas, guarda-chuvas, chapéus, capotes e lonas. Inclusive vejo nos caminhões de hoje as lonas com a mesma marca de quando eu as vendia. Será que ainda vou conhecer a fábrica de lonas “Locomotiva”? Os panos das sombrinhas raramente vinham com estampas. Eram lisos de variadas cores e cabos curvos. Como havia ainda poucos automóveis, as mulheres usavam e abusavam do seu uso, tanto no período chuvoso quanto na estiagem. Era um prazer pegar uma carona na sombrinha, como meio de conquista. Lembro de dois consertadores desses guarda-sóis femininos da minha terra: Josefina, a “Zifina”, avó do escritor Oscar Silva e o Salvino, que morava numa rua transversal a São Paulo, Bairro São Pedro. Ambas as pessoas eram funileiras, também chamadas no Sertão de flandreleiras. Pela sua atividade, Salvino ganhou o apelido de “Sombrinha”. As sombrinhas foram surgindo depois com os cabos sem curvaturas, evoluindo até embuti-los. Fora os raros consertadores fixos, apareciam nas ruas, de vez em quando, consertadores de fora que passavam anunciando a arte, assim como os amoladores (imortalizados por Jackson do Pandeiro). Houve uma queda no uso das sombrinhas que ressurgiram décadas atrás com belíssimas estampas como gostam as japonesas. Novamente o seu uso parece rarear. Venturosos os guarda-chuvas que encontraram suas SOMBRINHAS.


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