domingo, 10 de agosto de 2025

 

BARRIQUINHA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de agosto de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.285




Meu pai sempre gostava de colocar nomes nos bovinos que possuía, aliás, este é um velho costume arraigado no campo. Certa feita, Seu Manezinho, adquiriu um touro comprido e abusado, de raça taurina. Cheio de energia, o valentão andava quase sempre em procura de briga. Jamais foi vencido em nosso poder. Pescoço muito grosso e urros quase permanentes.  Acontece que achei uma falha do meu pai, me mandar todos os dias tanger o gado do cercado, hoje perto da UNEAL levá-lo ao rio Ipanema, pelo Beco de Seu Ermírio, no final do Bairro São Pedro (hoje ocupado por casario) para dar de beber. Ora, eu só tinha 12 anos e teria que driblar o doido Justino, na sua rota diária e as brigas de Barriquinha com touros nos encontros do rio Ipanema seco.

Quando desse água ao rebanho, eu teria que tangê-lo novamente subindo o beco e o conduzir até a Rua Prof. Enéas (Rua de Zé Quirino) onde tínhamos o nosso curral com frente de alvenaria. Pela manhã aconteceria a ordenha e depois o rebanho voltaria para aquele cercado inicial, mas levado por outra pessoa. Portanto, lá no Ipanema, quando o Barriquinha avistava outro touro, por mais distante que fosse, saía ao seu encontro com uma força descomunal e roucos urros de leão. O gado se espantava e a criança acelerava o coraçãozinho com medo de perder o gado e não ter condições de juntá-lo novamente. Não via um adulto por perto que pudesse me ajudar.  

E assim, entre vitórias e fugazes derrotas, chegamos ao topo dos setenta e oito degraus. E passa o filme. E se vive um filme. E lá vem um filme novo.  Você virou coadjuvante. Dilata-se a sabedoria, se contrai o vigor. A serra continua serra, vê você passando. Estrela não cessa o brilho. Repete-se o murmúrio do regato. O mel parece mais doce, o amargo não suspende a ronda. A noite esmaga, mas ensina, o arrebol atrai, mas acalma. Vejo-me num trono... Num trono de pedras lisas no rio Ipanema.

Ah! Mansa brisa!... Ah! Mansa brisa!.. Dê-me hoje apenas a FORÇA DESCOMUNAL DE BARRIQUINHA!

 

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