BARRIQUINHA
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de agosto de
2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3.285
Meu
pai sempre gostava de colocar nomes nos bovinos que possuía, aliás, este é um
velho costume arraigado no campo. Certa feita, Seu Manezinho, adquiriu um touro
comprido e abusado, de raça taurina. Cheio de energia, o valentão andava quase
sempre em procura de briga. Jamais foi vencido em nosso poder. Pescoço muito
grosso e urros quase permanentes.
Acontece que achei uma falha do meu pai, me mandar todos os dias tanger
o gado do cercado, hoje perto da UNEAL levá-lo ao rio Ipanema, pelo Beco de Seu
Ermírio, no final do Bairro São Pedro (hoje ocupado por casario) para dar de
beber. Ora, eu só tinha 12 anos e teria que driblar o doido Justino, na sua
rota diária e as brigas de Barriquinha com touros nos encontros do rio Ipanema
seco.
Quando
desse água ao rebanho, eu teria que tangê-lo novamente subindo o beco e o
conduzir até a Rua Prof. Enéas (Rua de Zé Quirino) onde tínhamos o nosso curral
com frente de alvenaria. Pela manhã aconteceria a ordenha e depois o rebanho
voltaria para aquele cercado inicial, mas levado por outra pessoa. Portanto, lá
no Ipanema, quando o Barriquinha avistava outro touro, por mais distante que
fosse, saía ao seu encontro com uma força descomunal e roucos urros de leão. O
gado se espantava e a criança acelerava o coraçãozinho com medo de perder o
gado e não ter condições de juntá-lo novamente. Não via um adulto por perto que
pudesse me ajudar.
E
assim, entre vitórias e fugazes derrotas, chegamos ao topo dos setenta e oito
degraus. E passa o filme. E se vive um filme. E lá vem um filme novo. Você virou coadjuvante. Dilata-se a sabedoria,
se contrai o vigor. A serra continua serra, vê você passando. Estrela não cessa
o brilho. Repete-se o murmúrio do regato. O mel parece mais doce, o amargo não suspende
a ronda. A noite esmaga, mas ensina, o arrebol atrai, mas acalma. Vejo-me num
trono... Num trono de pedras lisas no rio Ipanema.
Ah!
Mansa brisa!... Ah! Mansa brisa!.. Dê-me hoje apenas a FORÇA DESCOMUNAL DE
BARRIQUINHA!
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