segunda-feira, 4 de agosto de 2025

 

 CANCÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.282

 



Existe uma expressão sertaneja que diz: “O Cancão vai piar”. Significa dizer que alguma coisa difícil vai acontecer. Expressão essa muito bem aproveitada no meu romance OURO DAS ABELHAS, numa cena hilária de casamento. Mas, voltando à realidade, o “Cancão já está piando no sertão”. Trata-se da frieza tradicional dos primeiros quinze dias do mês de agosto que supera o frio do mês de julho. Estou escrevendo no domingo dia 3, quando o céu está totalmente branco, chuva fina, alternando com pingadeiras e a frieza encurralando este escrevente. Sim, o inverno está ótimo, “tempo rico” como se diz por aqui, mas o ritmo das chuvas foi esse mesmo desde o início da época chuvosa. E quando à noite vemos o céu com aquela gaze demonstrativa, repetimos: “O Cancão vai piar nessa madrugada...”

As barreiras da margem direita do rio Ipanema, viraram verdadeiras florestas. A periferia, baixas, montes, colinas, tudo tão verde e tão bonito que nem parece Sertão. E quando se diz, estar chovendo em Maceió, vem a rebarba para o semiárido. É que o que sobra da capital vai para o agreste e grande parte fica retida nas serras e, o Sertão fica apenas com as sobras. Mas durante essa chuvada vejo chegar na fiação da rua um tipo de rolinha desconhecida para mim, nem é a branca, nem azul, nem fogo-pagou e nem a caldo-de-feijão. Tem a parte superior das asas, marrom/arroxeado. Ficou solitária no fio levando chuva, parecendo conformada. Não entendi. Mas, voltando ao assunto, as sobras das chuvas chegaram mansas e molhadeiras, regulando o tanto de água que as plantações precisam.

E no próximo Dia dos Pais, as pessoas conscientes do meio rural poderão exaltar o dia como um presente dos céus esse período chuvoso de outono/inverno que enriquece o Sertão. Um presente imenso, muito maior do que um celular, um par de sapatos, uma roupa da moda. E para completar, mesmo assim foi muita festa em Santana do Ipanema, com chuva, sem chuva, com gelo, sem gelo, o entusiasmo humano por festas, foi da maioria. E enquanto o “Cancão piava”, a rolinha roxa/marrom, continuava no gelo da chuva e, eu que não sou animal do polo, sem capote e sem “Japona”, só pensei em correr para debaixo dos panos. Estar brincando com agosto no Sertão, “cabra véi!”

(IMAGEM: B. CHAGAS).


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