CANCÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de agosto de
2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3.282
Existe
uma expressão sertaneja que diz: “O Cancão vai piar”. Significa dizer que
alguma coisa difícil vai acontecer. Expressão essa muito bem aproveitada no meu
romance OURO DAS ABELHAS, numa cena hilária de casamento. Mas, voltando à
realidade, o “Cancão já está piando no sertão”. Trata-se da frieza tradicional
dos primeiros quinze dias do mês de agosto que supera o frio do mês de julho.
Estou escrevendo no domingo dia 3, quando o céu está totalmente branco, chuva
fina, alternando com pingadeiras e a frieza encurralando este escrevente. Sim,
o inverno está ótimo, “tempo rico” como se diz por aqui, mas o ritmo das chuvas
foi esse mesmo desde o início da época chuvosa. E quando à noite vemos o céu
com aquela gaze demonstrativa, repetimos: “O Cancão vai piar nessa
madrugada...”
As
barreiras da margem direita do rio Ipanema, viraram verdadeiras florestas. A
periferia, baixas, montes, colinas, tudo tão verde e tão bonito que nem parece
Sertão. E quando se diz, estar chovendo em Maceió, vem a rebarba para o semiárido.
É que o que sobra da capital vai para o agreste e grande parte fica retida nas
serras e, o Sertão fica apenas com as sobras. Mas durante essa chuvada vejo
chegar na fiação da rua um tipo de rolinha desconhecida para mim, nem é a
branca, nem azul, nem fogo-pagou e nem a caldo-de-feijão. Tem a parte superior
das asas, marrom/arroxeado. Ficou solitária no fio levando chuva, parecendo
conformada. Não entendi. Mas, voltando ao assunto, as sobras das chuvas
chegaram mansas e molhadeiras, regulando o tanto de água que as plantações
precisam.
E
no próximo Dia dos Pais, as pessoas conscientes do meio rural poderão exaltar o
dia como um presente dos céus esse período chuvoso de outono/inverno que
enriquece o Sertão. Um presente imenso, muito maior do que um celular, um par
de sapatos, uma roupa da moda. E para completar, mesmo assim foi muita festa em
Santana do Ipanema, com chuva, sem chuva, com gelo, sem gelo, o entusiasmo
humano por festas, foi da maioria. E enquanto o “Cancão piava”, a rolinha
roxa/marrom, continuava no gelo da chuva e, eu que não sou animal do polo, sem
capote e sem “Japona”, só pensei em correr para debaixo dos panos. Estar
brincando com agosto no Sertão, “cabra véi!”
(IMAGEM:
B. CHAGAS).
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