O GRITO DO MATEU (Clerisvaldo B. Chagas, 15 de outubro de 2010) Para os poetas santanenses José Ormindo e Azevedinho      Debruçar-me-ei n...

O GRITO DO MATEU

O GRITO DO MATEU
(Clerisvaldo B. Chagas, 15 de outubro de 2010)
Para os poetas santanenses José Ormindo e Azevedinho

     Debruçar-me-ei na janela do tempo. Deliciar-me-ei com as facetas multicores do Guerreiro alagoano, folguedo arrojado que encanta nos umbrais do belo. Balancear divino, contorções mágicas, rostos ingênuos de folclore puro. No caldeamento de cheganças, pastoris, quilombos, caboclinhos, emerge o Guerreiro luminoso nos espelhos das catedrais. Curvar-me-ei diante das evoluções ímpares do festejo natalino. Sanfona, pandeiro, tambor, dançadores, cantores, atores congregados contando a história do Messias. Amorosa homenagem dos Reis Magos deglutindo o tempo. Índio Peri, Zabelê, Mateu, Doido, Sereia, Estrela D’alva, encarregar-se-ão de varar a noite, de conquistar a Lua, de saudar o Sol. Brincantes da minha terra! Figuras serenas de inimagináveis fulgores e encantos, vozes harmoniosas que elevam o canto. Representações de fidalgos, espadas em lutas, riquezas de simbiose nordestina na boca grande e noturna. Avivam-se cores, dobram-se joelhos, atiram-se ternuras diante do Menino.

“Ô minha gente
Dinheiro só de papé
Carinho só de mulé
Capitá só Maceió...”

xxx

     O Guerreiro alagoano, nascido em Viçosa, final da era de vinte do século passado, difundiu-se por todos os recantos. Aproximadamente, entre 1930 e 1950, esse folguedo foi muito apreciado no Sertão. É de se notar que o folclore predominava em época natalina, cujas diversões modernas ainda engatinhavam. Arruaceiros e mesmo volantes alopradas gostavam de praticar selvagerias contra essa e outras fontes de lazer dos sertanejos como bailes, reisados, coco de roda e pagode. O palhaço da brincadeira é o Mateu, que antes da festa, pelo dia sai anunciando o evento nas ruas da cidade. Chapéu típico, cara pintada de preto, relho a estalar, coloca menino para correr. Ainda hoje se diz no Sertão, referindo-se a má conduta: “Toda família tem um mateu”. Por outro lado, quando alguém desejava falar com Lampião pela segunda vez e, não sabendo onde o encontrar, logo achava a resposta. Virgulino mesmo dizia filosofando: “É só escutar o grito do Mateu.”
     Nos últimos anos, muitos valores inverteram-se. A exceção virou regra geral e o mundo parece andar de cabeça para baixo. As mais absurdas coisas são ditas e realizadas sem pejo, sem critério, sem honra. Se o fim está próximo, não sabemos. Somos apenas passageiros dessa nave que não para. Tornaram-se rotinas os rostos negros de carvão semelhantes ao personagem do Guerreiro das Alagoas. Já não precisa escutar eco nenhum no meio da caatinga. Basta olhar em torno e dispensar O GRITO DO MATEU.



CENTRALIZANDO O CENTRO (Clerisvaldo B. Chagas, 14 de outubro de 2010)      Vendo por fora o que estar sendo construído por trás do Estádio ...

CENTRALIZANDO O CENTRO

CENTRALIZANDO O CENTRO
(Clerisvaldo B. Chagas, 14 de outubro de 2010)
     Vendo por fora o que estar sendo construído por trás do Estádio Arnon de Melo, resolvemos visitar o local. O Centro Bíblico, espaço de estudos e atividades católicas, foi inaugurado no Bairro Camoxinga, em Santana do Ipanema, Alagoas, em 20 de agosto de 1981. O Centro faz parte da Paróquia de São Cristóvão e foi construído na gestão do padre José Augusto Silva. Situado em lugar agradável e de solo enxuto, chama atenção a grandiosidade do terreno que respira paz e liberdade. Na sua entrada ampla o jardim, também composto de árvores de elegante porte, impressiona logo a quem tem bom gosto. O prédio principal é um salão aconchegante em cujo fundo está a imagem artesanal do Cristo pregado numa cruz de angico, madeira das caatingas alagoanas. Ao lado encontra-se a imagem de Nossa Senhora da Conceição. Os anexos são alojamentos para ambos os sexos, sala nobre de recepção e comando, depósito, cisterna subterrânea e pátio revestido com paralelepípedos. Um frondoso pau-brasil orna o centro do pátio, com suas folhas rendadas e curvas. Ali são realizados estudos, missas, encontros, reuniões de conselho e retiro. Pessoas de outros municípios, mundo católico, procuram as estruturas do Centro Bíblico de Santana, quando passam vários dias bem alojadas, durante essas atividades.
     A Paróquia de São Cristóvão doou parte desse terreno para a construção da Casa do Menor que tem um significativo cunho social. Com verba de origem europeia foi erguido um ginásio de esporte, muito parecido com o “Cônego Luís Cirilo”, do complexo educacional no mesmo bairro. Essa bela praça recebeu o nome de “Ginásio Poliesportivo Marcelo Candia” e foi inaugurada em 2009. Prosseguem as obras de alojamento e outras dependências da chamada Casa do Menor São Miguel Arcanjo. Obras como essas, dinamizam as atividades religiosas, proporcionando muito mais conforto aos usuários. Servem de atrativos para visitantes que além dos seus bons fluidos, trazem dinheiro e gastam no comércio local gerando empregos.
     Tornam-se importantes, visitas de políticos, escritores, artistas, pesquisadores, professores e estudantes, a esses locais que muito representam para a sociedade. O Centro Bíblico de Santana do Ipanema tem uma cativante história para ser contada. Dezenas e dezenas de objetos usados em sua trajetória já poderiam fazer parte de um museu paroquial a ser criado pelo padre José Neto de França. Não vale conhecer a nossa cidade somente por fora. Boas surpresas aguardam visitantes em outros lugares que provocam admiração e respeito. Continuaremos essas visitas, antes voltadas quase somente para os aspectos naturais. Amanhã poderemos dissertar outros pontos tão valorosos e tão esquecidos, mas hoje não poderíamos deixar de ir CENTRALIZANDO O CENTRO.