quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A FERROVIA DO DIABO


A FERROVIA DO DIABO
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2011

          Um terremoto de magnitude 7,0 atingiu nesta quarta-feira (24) o Peru, com epicentro perto de Pucallpa, próximo à fronteira com o Brasil. O tremor aconteceu 82 quilômetros ao norte de Pucallpa, região de floresta amazônica peruana. Entretanto esse tremor foi sentido no estado brasileiro do Acre. A cidade acreana de Cruzeiro do Sul, por ficar mais perto da fronteira, 180 quilômetros, captou um tremor através da fiação da iluminação pública que começou a balançar sem vento algum. Em um dos supermercados da cidade, mercadorias caíram das prateleiras. Rio Branco, capital do estado, mesmo estando distante do epicentro mais de 600 quilômetros, sentiu um leve tremor, deixando as pessoas apavoradas, desocupando os prédios com rapidez.
          E por falar em Acre, vem à tona os trabalhos de um esforço hercúleo para a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, um dos episódios mais tristes da história do Brasil. As terras do Acre pertenciam a Bolívia, mas eram constantemente invadidas por brasileiros em busca da seringa, o látex, a seiva da seringueira que se transforma em borracha. Quase houve naqueles tempos uma guerra entre Brasil e Bolívia, evitada graças à intervenção do ministro para o Exterior Barão do Rio Branco. Após diversas negociações diplomáticas, foi assinado o Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903. Conforme o acordo, o Acre foi cedido ao Brasil, mediante o pagamento de dois milhões de libras. O governo brasileiro se comprometeu, ainda a construir a ferrovia Madeira-Mamoré, para escoar a borracha produzida pela Bolívia.
         As empresas contratadas para a construção da ferrovia desistiram após inúmeros casos de malária e os constantes ataques de indígenas. Essas obras paralisadas só foram retomadas em 1907 pela empresa Madeira-Mamoré Railway CO., que contratou cerca de 30 mil trabalhadores. No meio, muitos imigrantes. Centenas de trabalhadores, porém, morreram nos primeiros três meses de trabalho. Havia ainda os ataques dos índios caripunas. Esses índios arrancavam os dormentes dos trilhos, dando um trabalho medonho à empresa. Com um gesto meio maluco, a empresa resolveu eletrificar os trilhos matando eletrocutados, assim, centenas dos índios caripunas. Foram registrados diversos casos de loucura dentre os que conseguiram escapar às doenças tropicais.
          Finalmente, em 1912, a ferrovia foi construída, mas custou a vida de quase todos os trinta mil trabalhadores. Depois de tantas infelicidades, não havia mais o que transportar porque Bolívia e Brasil haviam perdido competitividade para a borracha da Ásia, cujas sementes do Brasil haviam sido levadas como contrabando pelos ingleses. Os irmãos cearenses muito sofreram como soldados da borracha naquela região amazônica. São páginas de um heroísmo triste na FERROVIA DO DIABO.





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terça-feira, 23 de agosto de 2011

O JUMENTO DO MARANHÃO


O JUMENTO DO MARANHÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2011.

           Rapaz! Jumento é um animal interessante que já foi cantado por Luiz Gonzaga e mais uma porção de outros cantores. Entrou na Literatura, saiu no lado oposto. Recebe apelido de todo jeito: é asno, babau, inspetor, jegue, jerico, cabeçudo e assim por diante. O falo faz inveja a muitos homens e, as mulheres... Deixe pra lá! O bichinho é obediente, serve muito nas fazendas do Nordeste carregando palma, lenha, capim, água, carvão, frutas... E gente! Sim, quando o jumento é de carga o sujeito vai à garupa. Quando bom de sela é brinco. Corre solto nos cercados ou em lotes, mordendo, escoiceando, divertindo-se. Persegue as jumentas por entre espinhos de macambira, zurra como um danado e nas horas vagas também procura as éguas. Quando você quebra o relógio, o babau avisa a hora. Se é meio-dia, a sombra desce para a barriga. Nos ataques da onça, o coice “vadeia”! Se enfrenta cavalo, a mordida come! Nas secas brabas, o bicho devora casca de pau, engorda e zomba do tempo. Se alguém o chama de burro ele não gosta. Burro é burro, jumento é jumento, ora bolas! Ele é bonzinho, bonzinho, mas quando empanca, ai, ai!... Só não sei se gosta de trator. A tecnologia deixou o bichinho desvalorizado. Tem jegue vagando por aí que não vale sequer um real. Anda emparelhado nas estradas, provocando acidentes de trânsito. Mas o Nordeste deve muito ao jerico que não enjeita trabalho, inclusive em Santana do Ipanema existe uma estátua na entrada da cidade em homenagem ao seu esforço, o grande ajudante da coragem humana.
          Ultimamente o jegue voltou às páginas. Em Santana, autoridades estadual e municipal preocupam-se com suas perambulações, ou será inveja do seu vigor? Um dos site da cidade mostra foto, ironiza a pauta do dia da Câmara, cujo vereador sem assunto resolve defender jumento. Agora o presidente do Senado, José Sarney, é criticado porque voa a passeio nas aeronaves do estado. Cada um que queira espetar o bigode de Sarney com denúncias sérias ou irônicas. Um defende outro ataca. O presidente se arma perguntando se quem o critica prefere que ele ande a jumento. E lá vai o jerico de Sarney marchando com toda pompa entre os belíssimos lençóis maranhenses. Lá em baixo o presidente sem espora vai acenando para os helicópteros, os jatinhos executivos, as aeronaves militares lá em cima, brincando com as nuvens.
       Apertam-se os laços contra os desmandos do país. Entre discursos, crônicas, charges e passeatas, as consciências civis vão saindo das fossas abissais, emergindo nas águas da moral, para forçarem um tsunami de ordem na anarquia secular. Pelo menos simbolicamente um quadrúpede ganha à mídia. Não importa se o babau é de Alagoas, Bahia ou Pernambuco, abaixo a mordomia do aeroplano, gritam eles, valorizemos o JUMENTO DO MARANHÃO!


























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