quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

CASCO DO BOI

CASCO DO BOI
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de janeiro de 2012
Crônica nº 700
        
          Houve uma época na minha adolescência, em que o município de Santana entrou na moda de corrida de cavalo. Improvisavam-se os mais diferentes espaços públicos na cidade e no campo para as movimentações paralelas: disparadas de animais por um lado, desfiles de maços de cédulas por outro. Interessante às apresentações das mais diferentes raças e origens dos quadrúpedes. Cavalos gordos, magros, bonitos, feiosos, cheios, esqueléticos de variadas cores e tonalidades, desfilavam sem pejo dos seus donos, antes das corridas, como verdadeiros campeões. Essa moda parece-me, foi encerrada no plano do lugar Barroso, onde está situado hoje o cemitério São José. A multidão, sem proteção alguma, aguardava o embate ao longo da pista, quando um dos cavalos bateu e matou o cidadão chamado Jacinto Vilela. O santanense perdeu o gosto pelo esporte sem estrutura. Tempos depois foram as brigas de touros ocorridas nas fazendas que deslocavam a populaça para o novo e perigoso lazer dos nossos finais de semana. Mais dinheiro circulando na rudeza pesadas da força bruta.
          Quando ambas as modas acima foram embora, chegou o novel gosto pela vaquejada urbana, transformada em corrida de mourão, mas com nome “vaquejada” mesmo, como se os lances de habilidades campesinas, acontecessem à semelhança das mangas e fazendas das caatingas. Apesar do gosto rural e urbano do povo que habita essa cidade, Santana nunca conseguiu “amarrar” um calendário desse esporte no município. Os acontecimentos são esporádicos, espaçosos, em variados lugares. Ocorre ao contrário em municípios vizinhos que asseguram esses eventos regularmente, tendo com exemplos, Dois Riachos, Olho d’Água das Flores, Cacimbinhas e Major Isidoro. É bom saber que o miolo das festas, envolvem negócios como gado diversos, cavalos, artesanato, queijos, leite, manteiga, iogurte e máquinas agrícolas. Claro que a vaquejada é uma festa bruta, onde não pode faltar cerveja e cachaça e, quase sempre armas brancas escondidas sob couros e tecidos. Os prêmios estão ficando cada vez mais valorizados, onde vaqueiros conseguem a proeza de viver ganhando automóveis nos circuitos nordestinos.
          No auge da vaquejada em Santana, o conhecido médico filho da terra, Dr. Dalmário Gaia, investiu em terreno no Bairro Camoxinga, com essa finalidade. Passada a euforia, o excelente terreno foi loteado e deu origem a inúmeras ruas e avenidas com suas casas de luxo. Recentemente todo esse trecho foi pavimentado, dando aspecto mais nobre à região. A juventude talvez não saiba que as imediações da casa de comércio José Balbino, Centro Bíblico, Creche, Ginásio de Esporte, vieram de fato da vaquejada, do verdadeiro ritmo idolatrado do CASCO DO BOI.



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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O TREM

O TREM   
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de janeiro de 2012

          Lá pelo final dos anos cinquenta, aproximadamente, vários jovens destacavam-se na sociedade santanense, alguns carregando seus respectivos apelidos. Como eu tinha apenas dez ou doze anos, mantinha uma distância enorme dessa plêiade que não exibia alguém menor de dezessete. Caso de apelido, todos conhecem. Uns são indiferentes, outros partem para matar. Lembro que dois jovens estudantes do Ginásio Santana, entraram em conflito na Praça da Bandeira, quando o apelidado não gostou e foi buscar um punhal para atacar o jovem Hugo de José Maximiliano. Quase acontece uma desgraça. O apelido, porém, nunca saiu das costas desse cidadão que é hoje empresário e bastante conhecido em Santana. Entre outros, também existe um comerciante que entrou na brincadeira que se exaspera e pode cometer loucura se você chamá-lo pelo vulgo. Porém, o palhaço de um circo que esteve na cidade, muito talentoso, parodiou um “frevo”, com os apelidos dos rapazes. Os frevos estavam em voga, na época e não paravam de tocar nos serviços de alto falantes, como uma praga. Alguém deu para o palhaço o apelido dos rapazes (alguns frequentadores dos cabarés da cidade, onde faziam farra com as prostitutas, inclusive formando o famoso trenzinho).
          Durante uma das noites, o circo estava lotado, quando chegou à vez do palhaço cantor. Esse jogou a bomba que para muitos é proibitiva até hoje. Numa perfeição incrível com a letra original do frevo, cantou e o circo quase veio abaixo:


“Zé Pinto
Cadê Agilson,
Chama logo o maquinista
Vamos à estação;
Josa é a máquina
Genival é o condutor
Henaldo é o foguista
Guarda-freio é Zé Yoyô;
Com a luz apagada
A turma agarrada
Passa a brincar de trem;
Zé Torreiro entra afobado
Trazendo João Badalo
Agarrado no seu pão;
Vamos, vamos, minha gente
Que o Porronca já chegou
Bolinha está acolá
Djalma a gaguejar
Que o trem já vai parar”.

 É pena não recordar o nome do frevo. Esse assunto já foi abordado por outro escritor, inclusive participante da música. Estou lembrando o assunto, mas sei que ainda hoje tem personagem aí que pode correr atrás do saudosista como vaca braba do sertão. Fui. Cansei de esperar O TREM.













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